Todo ano se inicia com multidões aglomeradas ao redor do mundo, fazendo a tradicional contagem regressiva para acompanhar a explosão de luzes e cores que iluminam o céu. Os espetáculos dos fogos de artifícios costumam deixar o público bem atento, contemplando os efeitos coloridos no espaço, mesmo sabendo que todo aquele brilho vai durar apenas alguns minutos. Mas, você sabia que o Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast) e o Observatório Nacional (ON), criaram um projeto em que as pessoas podem observar e admirar fenômenos muito mais brilhantes e fascinantes existentes em nosso céu? E por conta dessa iniciativa, cada vez mais professores e alunos do Rio de Janeiro têm compreendido melhor o universo em que vivemos.
O projeto Olhai pro Céu foi criado para promover processos de formação continuada em temas de astronomia e empréstimo de equipamentos de observação do céu diurno e noturno, para dar suporte as ações de professores do interior do Estado do Rio de Janeiro e capital em suas práticas pedagógicas. Ele surgiu da necessidade de capacitar os professores das escolas que receberam doações de telescópios Dobsonianos, que ocorreram em virtude da 6ª Olimpíada Internacional de Astronomia e Astrofísica (IOAA), realizada em agosto de 2012, nas cidades de Vassouras e Barra do Piraí, sendo o Mast a principal instituição promotora do evento.
Cerca de seis meses após a competição, constatou-se que, os professores das escolas contempladas com os telescópios tinham dificuldades para desempenharem atividades extraclasses relacionadas ao tema de astronomia, como por exemplo, a observação do céu. Eles não tinham a prática e faltava experiência para manuseio dos equipamentos. Estes fatores alimentaram a ideia de criação de um projeto que pudesse minimizar os contratempos destes profissionais da educação, disponibilizando ações voltadas para a capacitação docente por meios de cursos de aperfeiçoamento em astronomia, além de material educativo direcionado à realização de atividades diurnas, período em que a maioria dos professores e alunos frequentam a escola. Com a abertura de um edital de popularização da ciência, em 2013, realizado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), os coordenadores do projeto Olhai pro Céu resolveram criar uma ação focada para a capital e outra para o interior do Estado. Assim, os encontros astronômicos de educadores continuariam ocorrendo nas escolas que receberam os telescópios. Além disso, foram adquiridos mais quatro telescópios para ficarem no Mast, sendo três do modelo PST, específicos para a observação do céu, e que podem ser emprestados para as escolas que não receberam as doações, mas gostariam de fazer as atividades de observação. Consequentemente, em 2014, foram elaboradas duas vertentes para o projeto: Olhai pro Céu RJ e Olhai pro Céu Carioca.
O Olhai pro Céu RJ possui material e oficinas que priorizam atividades experimentais de observação do céu noturno e a capacitação de professores de forma mais aprofundada, já que este tipo de prática é raro nas cidades do interior do Estado. O projeto alcança escolas, professores e estudantes por meio da promoção dos encontros astronômicos de educadores e da participação em eventos externos. Ao total, foram realizadas 34 oficinas de aperfeiçoamento a 260 professores, de 2014 a 2017. Os eventos públicos atingiram um efetivo de aproximadamente 4.050 pessoas. A escola ou região interessada deve organizar o evento, havendo uma demanda mínima de 25 professores para atender as oficinas. Mais escolas podem se juntar para tal organização e é aconselhado o envolvimento da Secretaria de Educação local. Para solicitar a visita da equipe do Olhai pro céu RJ basta enviar um e-mail para olhaiproceu@on.br.
Já o Olhai pro Céu Carioca tem alcançado números ainda mais significativos. Patrícia Spinelli, astrofísica e pesquisadora do Mast, e coordenadora do projeto Olhai pro Céu Carioca, esclareceu o porquê da criação dessa vertente que tem atraído um público cada vez mais expressivo com o passar dos anos: “Aqui na capital, como os professores têm muita dificuldade de pedirem para os alunos comparecerem a noite e também tem a questão das luzes da cidade que atrapalham a observação do céu noturno, nós pensamos em fazer um empréstimo de telescópio solar, para que eles utilizem durante o dia e, consequentemente, um maior número de alunos seria alcançado com essa iniciativa”, explicou Patrícia.
O projeto trabalha com material de empréstimo, chamado Astrokit, contendo telescópio solar, manual, apostila com oficinas práticas sobre astronomia, projetor multimídia, filtros de soldador para que a observação do sol seja segura, além de alguns aparatos educativos. O material e oficinas do Astrokit dão foco para a promoção de atividades empíricas de astronomia diurna. O professor que retira o equipamento, utiliza de maneira autônoma em sua escola, ou seja, não há interferência dos profissionais das instituições promotoras do projeto (Mast e ON).
O Astrokit, com três unidades disponíveis, deve ser retirado na sede do Mast, no bairro de São Cristóvão. Para isso, os professores precisam apresentar um ofício da escola em que trabalham, a qual deve atestar a sua participação no projeto, se responsabilizando ainda pelo Astrokit. A pré-inscrição é feita pelo site: www.on.br/coaa/olhai-pro-ceu/inscricao.html, e quando a documentação do professor e da escola forem aprovadas, a inscrição será efetivada. Logo, o profissional terá que comparecer ao Encontro de Capacitação para Professores (Ecap) para retirar o Kit. Todo esse processo demora em média três semanas para ser realizado.
O Ecap tem por finalidade apresentar ao professor o Astrokit, e principalmente, capacitá-lo para o manuseio do telescópio. O encontro acontece nas últimas terças-feiras de cada mês, das 14h às 17h, no auditório do prédio sede do Mast. Após a participação no Ecap, o professor retira o material e tem o direito de permanecer com ele por dez dias corridos. Sendo assim, cada Astrokit pode ser retirado até duas vezes por mês, fazendo com que o Olhai pro Céu Carioca contemple, mensalmente, até seis instituições/escolas com o empréstimo do Kit.
Em três anos de atuação, o Olhai pro Céu Carioca realizou 80 empréstimos de equipamentos e capacitou 98 professores por meio dos Ecaps. Porém, o número mais expressivo é em relação aos estudantes contemplados com o projeto no período de 2015 a 2017. Foram 21.180 alunos no total, conforme relatórios das escolas enviados ao Mast. Em 2018, a expectativa do Mast é de trabalhar com a capacidade máxima, realizando 6 empréstimos do Astrokit por mês, considerando a grande procura por inscrições no site do projeto. Patrícia Spinelli comenta sobre a sensação de realizar esse trabalho junto aos professores do Estado do Rio de Janeiro, e poder contribuir para o crescimento desses profissionais no campo da astronomia: “É muito gratificante trabalhar com os professores. Eles costumam ter uma bagagem criativa imensa, e sempre quando eles retornam com os Kits, as expectativas são superadas. Instituições como os Museus devem apoiar os professores, porque quando eles recebem essas oportunidades, são capazes de produzir coisas incríveis”, concluiu Patrícia.