Igualdade de gênero na ciência leva a uma ciência melhor. A constatação foi feita pelo comissário para Pesquisa, Ciência e Inovação da Comissão Europeia, Carlos Moedas e trazida por Alice Abreu, socióloga e diretora da GenderInSITE, instituição internacional que trabalha pela inserção de mulheres na ciência, tecnologia e inovação, durante mesa que debateu a presença das mulheres no meio científico na 69ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). A conversa foi enriquecida pela presença da física e diretora da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Márcia Barbosa, e da socióloga e ex-ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci.

Para explicar como se configura a realidade das mulheres nesse meio e como é possível mudá-la, Abreu usou conceito apresentado pela diretora do programa Gendered Innovations in Science, Medicine, Engineering, and Environment, Londa Schiebinger. Para ela, é necessário trabalhar em três esferas: números, instituições e conhecimento. Por números, Schiebinger entende os indicadores da presença de mulheres na pesquisa. A falta de indicação de gênero em publicações acadêmicas dificulta a argumentação, segundo Abreu, e por iss projetos que buscam estabelecer estes dados começam a aparecer. Um exemplo é o SAGA, criado pela Unesco, mostrando a realidade da mulher no cenário científico ou o relatório da editora Elsevier “Gender in the Global Research Landscape”. Estes números mostram que o Brasil é um dos três primeiros países do mundo com mulheres sendo maioria nas universidades, no número de doutores e em quase todas as bolsas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológica (CNPq), exceto em bolsas de pesquisa. Abreu relacionou isso ao fato de que essas bolsas são escolhidas por uma comissão gestora e não por indicação de professores. “Falta representatividade feminina nos cargos de gestão”, concluiu, justificando o dado.
Em relação às instituições, a socióloga afirmou que é necessário que a estrutura das universidades se adapte para mudar o quadro de desigualdade de gênero dentro delas. A União Europeia é pioneira em ações do tipo e financiou diversos projetos com este intuito. Entre eles citou os programas Egera, Cheer, Advance, Garcia e Athena Swan.
Abreu concluiu mencionando que o conhecimento científico vem se alterando ao longo dos anos, absorvendo novos atores e cada vez mais valorizando a transdisciplinaridade. “No relatório da Elsevier é possível ver que, embora os homens sejam maioria em artigos multinacionais, as mulheres estão em maior número na autoria de publicações interdisciplinares, mostrando que elas já absorveram essa tendência na ciência”, finalizou.
