
Da esquerda para a direita, o pró-reitor de graduação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ricardo Hiroshi Caldeira Takahashi, o reitor da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), Naomar Monteiro de Almeida Filho e o Acadêmico Luiz Bevilacqua.
Mesmo havendo consenso sobre a participação do estudante na escolha de sua própria trilha curricular ser fundamental, por que as nossas universidades ainda não conseguem aplicar isto de forma efetiva? Foi esse o questionamento que serviu de pontapé inicial para o debate “Formação do estudante universitário para o protagonismo e a autonomia: Desafios para a transformação do ensino superior brasileiro”
O doutor em engenharia elétrica e pró-reitor de graduação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ricardo Hiroshi Caldeira Takahashi, abriu as falas fazendo um comparativo entre o antigo modelo de participação estudantil nas faculdades. Nele, o estudante atuava como receptor, apenas absorvendo o conhecimento passado pelos professores. “O estudante entra no curso sem nada e sai com um tanto de coisas aprendidas. Esse conhecimento é um acúmulo de informações desconectadas de um significado real”, sintetizou Takahashi.
O engenheiro elétrico explicou que esse sistema é herança das primeiras universidades criadas, iniciadas com a Universidade de Bolonha, na Itália, que tinham o objetivo de escolarizar massas e fazer com que os cidadãos aderissem a uma identidade nacional. “É efetivo em criar cidadãos com opiniões padronizadas, mas isso está muito aquém do que uma sociedade atual espera de seus cidadãos. É um paradigma de baixa eficiência”, explicou o pró-reitor.
Para Takahashi, um momento marcante na história do protagonismo estudantil foi a criação do movimento estudantil, em Córdoba, na Argentina, quando o estudante se colocou na posição de debater o que deveria ser a universidade dele. Nessa discussão, entra a possibilidade de o aluno planejar os conteúdos que irão compor seu currículo, de forma intra-atividade e intra-curricular. “A transdisciplinaridade tem grande relevância nessa questão, porque permite recombinar áreas do conhecimento e não condiciona o estudante à uma especialidade. Para que isso aconteça, é preciso que deixemos sempre disponível a possibilidade da prática da liberdade em diversas instâncias”, defendeu o professor.

Para Almeida Filho, a educação que é hoje passada nas universidades tem pouca utilidade, porque não contempla as rápidas atualizações em cada área. Além disso, criticou a forma setorizada em disciplinas como é organizado o conhecimento. “A indústria retreina todo estudante que sai da universidade, que só serve para fornecer o diploma e dar autorização para o indivíduo trabalhar na área. O que fica de aprendizado é a capacidade de se manter aprendendo coisas novas”, defendeu o reitor.
O epidemiologista criticou ainda a forma como as universidades e os próprios professores usam sua autonomia para fazer uma manutenção da velha ordem. “Os professores querem suas turmas para ensinar do seu jeito e isso vai contra a ideia de equipe docente”, comentou o professor, em alusão ao sistema segmentando, formado por equipes de professores de diferentes áreas, em diferentes campi, adotado pela UFSB.
