A noite de 3 de maio de 2016 marcou um momento especial na história da Academia Brasileira de Ciências (ABC). No auditório do recém-inaugurado Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, foi realizada a abertura da Reunião Magna da ABC, em uma edição especial comemorativa do seu centenário. O evento reuniu diversas autoridades, Acadêmicos e parceiros da ABC. Foi feita uma apresentação da história da Academia, o lançamento do selo comemorativo dos 100 anos, a inauguração da exposição histórica e uma apresentação da Escola de Música da UFRJ.

Na foto, vemos no pódio o presidente da ABC, Jacob Palis. Compondo a mesa, o presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), Augusto Raupp; a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader; o secretário municipal de Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, Franklin Coelho; a ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Emilia Curi; o secretário estadual de C&T, Gustavo Tutuca; o diretor-executivo do Comitê de Desenvolvimento e Gestão (CDN), que gere o Museu do Amanhã, Ricardo Piquet; e o diretor do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Hernan Chaimovich.

O presidente da ABC, Jacob Palis, afirmou, emocionado, ser uma honra e imensa satisfação ser o presidente da Academia em um momento tão especial. “Há anos nos preparamos com muita dedicação para essa data”, contou. “As comemorações do centenário começaram há duas semanas, quando os Acadêmicos Mauro Teixeira e Evaldo Vilela mobilizaram as Fundações de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais e de Goiás para um evento sobre pesquisa na agricultura, realizado em Goiânia, que reuniu muitos pesquisadores e o governador do estado de Goiás, Marconi Pirilo.”
Palis comentou a programação da Reunião Magna deste ano, que acontece de 4 a 6 de maio, no Museu do Amanhã, e reúne assuntos de interesses diversificados, como saúde global, zika, novas tecnologias e segurança alimentar sustentável. “Entre os grandes palestrantes, teremos um detentor do Prêmio Nobel e um do Prêmio Turing, além do vencedor da medalha Fields que muito nos orgulha, o brasileiro Artur Avila.”
O presidente da ABC também lembrou que, na noite do dia 4 de maio, acontece a posse dos novos Acadêmicos, ocasião em que será feita a passagem do comando da Academia para o físico Luiz Davidovich. “Eu presido essa Academia há nove anos e me considero muito feliz com tudo o que, junto com a Diretoria, os funcionários e os Acadêmicos, realizamos com muita garra. É hora de mudanças que façam a ABC renovar-se, mantendo-se moderna, mesmo depois de um século de vida.” Palis agradeceu aos membros institucionais, categoria criada no início de sua gestão e voltada para empresas e instituições que apoiam a ABC.
Palis mencionou, ainda, uma iniciativa do Instituto Moreira Salles em parceria com a ABC que celebra o centenário, a mostra “Cinema e Ciência”, com exibição de filmes e debates ligados às ciências naturais na sede do Instituto, na Gávea, Rio de Janeiro. A mostra acontece até 8 de maio. Clique aqui para obter mais detalhes.
A história da ABC entrelaçada à história da ciência brasileira

Os responsáveis pela pesquisa histórica sobre a ABC, o historiador e cientista político José Murilo de Carvalho e o pesquisador em história da ciência e vice-presidente da SBPC Ildeu Moreira, fizeram uma apresentação sobre o trabalho que gerou uma exposição – que está no Museu do Amanhã até o dia 15 de maio. A pesquisa deu origem a outros produtos: uma revista sobre a história da ABC, editada em português e em inglês; um gibi sobre 18 cientistas brasileiros notáveis; um e-book interativo para crianças (incluído na exposição) e um livro bilingue, que será lançado no segundo semestre de 2016. A pesquisa teve a coordenação da assessora de comunicação da ABC, Elisa Oswaldo Cruz, a participação do Acadêmico Diógenes Campos, e foi desenvolvida pelos historiadores Regina Hipóllito e Vicente Saul.
A ABC foi fundada no dia 3 de maio de 1916 sob o nome Sociedade Brasileira de Ciências, por um grupo de cientistas que se reuniu na Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Foi a terceira academia das Américas, depois da dos Estados Unidos e da Argentina. Em 1916, reunia 43 sócios.
No terreno prático, a ABC dedicou-se desde o início à divulgação científica. Em 1917, criou a Revista da Sociedade Brasileira de Ciências, transformada em Anais em 1927, e participou da criação da Rádio Sociedade, com Roquette-Pinto. Em 1925, recebeu a visita de Albert Einstein que fez uma conferência na casa, e, em 1926, uma palestra de Marie Curie, primeira sócia correspondente feminina da academia.
A ABC e seus membros sempre contribuíram para a implementação de políticas de ciência e educação. Na década de 30, por exemplo, várias iniciativas na área de educação superior tiveram a influência de Acadêmicos: em 1934, Theodoro Ramos teve papel importante na criação da USP; em 35, Afrânio Peixoto e outros membros participaram da criação da inovadora Universidade do Distrito Federal. Em 39, vários Acadêmicos participaram da criação da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil e, em 51, a ABC contribuiu ativamente para a criação do CNPq.
Ao longo dos 100 anos, vários Acadêmicos fizeram contribuições importantes em suas áreas de conhecimento. Carlos Chagas identificou uma nova doença, seu agente transmissor e o vetor responsável por sua transmissão, o que teve grande impacto na saúde pública. Djalma Guimarães descobriu quatro novos minerais e encontrou uma surpreendente concentração de pirocloro, mineral rico em nióbio. Mauricio Rocha e Silva descobriu a bradicinina, a partir de experimentos com veneno da jararaca, que permitiu a criação de medicamentos contra hipertensão. Cesar Lattes detectou uma nova partícula subatômica, o méson-pi, e a produziu artificialmente. E esses são apenas alguns exemplos.
“Os últimos períodos, das gestões de Eduardo Moacyr Krieger e Jacob Palis, foi de inovação, internacionalização e consolidação do papel da ABC como consultora dos governos em matéria de CT&I”, ressaltou José Murilo de Carvalho. “O pequeno grupo de membros de 1916 transformou-se num grupo de 934 membros, subdivididos em dez seções, e com um crescimento cada vez maior do número de mulheres.” Carvalho lembrou, também, que a ABC passou a participar da elaboração dos planos nacionais de C&T e produziu publicações sobre a Amazônia, educação básica, recursos hídricos, medicina translacional, aprendizagem infantil e outros temas de interesse fundamental para a sociedade brasileira.
Carvalho citou Jacob Palis ao comentar que a Academia, por sua atuação e respeitabilidade de seus membros, traz credibilidade para o B
rasil. “Assim, a ABC, em seu centenário, não ganha presente, mas presenteia o país.”
Autoridades parabenizam a Academia

Durante a abertura, foi lida uma mensagem enviada pela presidente da República, Dilma Rousseff. Ela afirmou ser “uma grande satisfação comemorar o centenário da ABC, instituição que promove a ciência brasileira”, lembrando que são frutos da atuação da Academia a criação de instituições como a Capes e o CNPq. “Também nasceram com a ABC instituições de pesquisa fundamentais, como o Impa [Instituto de Matemática Pura e Aplicada] e o Inpe [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais]. Sem abdicar de sua independência, a ABC estreitou nos últimos anos laços com o MCTI e o MEC, com ricas contribuições à formulação de políticas públicas. Presto minhas homenagens ao Prof. Jacob Palis pela sua atuação à frente da ABC nos últimos nove anos, e a Luiz Davidovich, que assumirá a partir de agora. Vida longa à ABC.” Veja aqui a mensagem completa de Dilma Rousseff.
A ministra de CT&I, Emilia Curi, comentou que a Reunião Magna não poderia acontecer em um lugar melhor que o Museu do Amanhã, “porque que futuro teremos sem ciência e tecnologia?” Ela afirmou que o Ministério sente muito orgulho em poder colaborar com o evento no Museu do Amanhã e lamentou o fato de o país estar passando por dificuldades na ciência. “Estamos passando por cortes não é porque o Ministério quer e, para superarmos isso, precisamos nos unir, senão vamos cair ainda mais. O estrangulamento que temos hoje na área de pesquisa tem que acabar. E nós somos os responsáveis. São as instituições de mãos dadas, como a ABC e a SBPC, que devem lutar por isso.”
Ricardo Piquet, diretor executivo do IDG, gestor do Museu do Amanhã, informou que o primeiro compromisso firmado no Museu do Amanhã foi com a ABC. “O museu tem apenas quatro meses, portanto temos de zero a 100 anos nessa parceria”, brincou. Ele também falou sobre a exposição do centenário da ABC, que ficará à mostra no museu por duas semanas, e que conta a história de grandes nomes que lutaram pela ciência e pela construção de uma sociedade mais justa. “Temos a honra de abrigar a Reunião Magna da ABC e a exposição comemorativa, além do navio de pesquisa oceanográfica Vital de Oliveira, da marinha, que estará exposto ao lado do museu durante o evento.” Piquet, por fim, celebrou o fato de, no pouco tempo de atividade, o museu já ter recebido mais de 400 mil visitantes – quase 50% nunca frequentaram ou não são frequentadores de museus.
O secretário estadual de C&T, Gustavo Tutuca, disse ser um orgulho para o Rio de Janeiro sediar a Academia Brasileira de Ciências. “Esperamos entregar em breve a nova sede da ABC, que vai compartilhar espaço com a Faperj, o Palácio da Ciência”, afirmou. “Esperamos também que a área de CT&I tenha o reconhecimento necessário para um país que precisa e quer crescer sustentavelmente.”

Durante o evento, foi lançado o selo comemorativo do centenário da ABC. Para este ato, foi convidado, o diretor regional dos Correios no Rio de Janeiro, Éverton Machado, que comentou: “A ABC tem um século de superação de desafios e produção científica e, para nós dos Correios, é sempre um motivo de grande orgulho contribuir com a filatelia nessas ocasiões.”

O encerramento da Reunião Magna ficou por conta de uma apresentação da Escola de Música da UFRJ, que revisitou composições brasileiras de 100 anos para cá.
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