
Segundo o professor, esse cenário pode ser mudado com investimentos em tecnologia e inovação e melhorias na educação. Esta, apesar de ocupar posições ruins em rankings internacionais como o PISA (em que o ensino no Brasil não ficou nem entre os 50 primeiros entre 65 países avaliados), foi responsável pela redução em 56% da desigualdade nos rendimentos do trabalho. “Uma inclusão produtiva bem sucedida requer consciência da existência de oportunidades disponíveis, eliminação de barreiras artificiais, garantia de condições mínimas, entre outros fatores.”

Um dos maiores determinantes da desigualdade de renda é a desigualdade no capital humano, principalmente em relação a crianças. Na China, uma criança de área urbana tem 21 vezes mais probabilidade de ir para uma faculdade de elite, em relação à uma de área rural. Ao se considerar uma faculdade qualquer, a chance daquela que mora na cidade é oito vezes maior. Além disso, nas áreas rurais, apenas 40% dos que terminam a escola secundária vão para o ensino médio, e 30% dos estudantes abandonam o ensino secundário.
Quando se trata da escola primária, a situação é ainda pior. Além da baixa qualidade do ensino, há ainda as deficiências de saúde: o índice de anemia ultrapassa 33%, problemas de visão não corrigidos atingem entre 2% e mais de 30% das crianças têm infecções intestinais por vermes. “A performance insatisfatória dos alunos de áreas rurais está relacionada às doenças”, comentou Zhang. Elas começam cedo – de 2.000 bebês testados em uma área rural, 7% estavam com um atraso significativo no desenvolvimento motor e cognitivo. “Se esses bebês não tiverem as deficiências de micronutrientes corrigidas até os 30 meses, as crianças terão problemas de saúde mental, QI, peso e altura.”
Com o objetivo de mudar esse cenário, a chinesa trabalha no projeto “Rural Education Action”, que conta com a colaboração de diversas instituições do país e busca soluções para o desenvolvimento de áreas rurais.

Outra sessão abordou a importância da cooperação de governos para o desenvolvimento da ciência, tecnologia e inovação. O diretor da ABC Luiz Davidovich (na foto ao lado) citou o bem sucedido caso da 4ª Conferência Nacional de CT&I, realizada em 2010, cujas discussões sobre a ciência brasileira se estenderam até este ano. O físico também mencionou a importância de instituições como o InterAcademy Panel (IAP), International Council for Science (ICSU) e Academia de Ciências para o Mundo em Desenvolvimento (TWAS), e de programas especiais, como o Future Earth, nessa relação.
A conselheira científica chefe da Comissão Europeia, Anne Glover, reiterou que o papel dos governos é fundamental em relação às políticas científicas e que é necessário criar condições para engajar business e ciência. Lamentou, no entanto, que políticos, cidadãos e a indústria representem desafios para a integração, visto que, muitas vezes, não querem “ver, ouvir e participar”. “Temos o que chamamos de ciencia 2.0 e sobrecarga de informação. A sociedade está mudando muito e se comunica instantânea e globalmente. Mas a governança continua no estagio 1.0.”

O presidente do Conselho de Ciência do Japão, Takashi Onishi, afirmou que, em seu país, a ciência e tecnologia se pautam em três pilares: segurança, especialmente após o tsunami que devastou a costa nordeste do território em 2011; integridade, que, segundo Onishi, deve ser assegurada pelas academias científicas, e equidade, de forma que todos tenham acesso aos frutos do progresso da ciência.
(Repórter especial Clarice Cudischevitch para Notícias da ABC; fotos Cristina Lacerda)
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