Megacidades, biodiversidade, integração dos países do Hemisfério Sul e inclusão social foram alguns dos temas destacados pela presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, na apresentação do documento “Ciência para o desenvolvimento sustentável global: contribuição do Brasil”, na tarde desta quinta-feira, dia 21, no primeiro dia do Seminário Brasil – Ciência, Desenvolvimento e Sustentabilidade, que termina hoje na sede da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
O texto é uma síntese dos principais resultados dos sete encontros preparatórios ao Fórum Mundial de Ciência (FMC), ocorridos desde o ano passado em todo o país. “O sentido desses encontros foi reverberar o fórum em todo o país, já que as discussões da semana que vem serão restritas a um grupo menor e altamente selecionado. E como fazer com que esses temas chegassem a todo país? Com os encontros”, observou.
Integração – As principais recomendações brasileiras englobam diferentes ações, que incluem a integração com outras nações. “A ciência brasileira tem que ter integração com outros países, em especial com os da América Latina e Caribe. Quanto mais nos aproximarmos, melhor será a ciência produzida no hemisfério sul”, avaliou. Ainda de acordo com ela, o Brasil hoje ocupa uma posição de privilégio em relação aos demais países latino-americanos. Pode, portanto, segundo ela, liderar esse movimento de integração e partir para uma ação concreta.
Os debates sobre a biodiversidade, que serão realizados durante o FMC, foram apontados como um tema de grande interesse para o Brasil. “O que fazer com essa biodiversidade? Adianta ter uma enorme biodiversidade e não fazer nada com ela? Quando esse tema foi debatido no encontro em Manaus ficou bem claro que temos que ter a Pan-amazônia”, lembrou a professora.
Segundo ela, dados mostram que a França detém o maior número de patentes da biodiversidade amazônica por ter a Guiana Francesa. “A árvore, a formiga, o mosquito não têm passaporte. Ou a gente passa a se olhar como grupo ou vamos ficar para trás”, alertou. Ainda de acordo com ela, enquanto o Brasil limita-se às discussões, o resto do mundo caminha. “Se o Brasil tiver uma legislação que dialogue com as legislações de outros países nesse tema, será muito importante”, propôs.
Os problemas das grandes concentrações humanas também constam do documento, que inclui as dificuldades desses aglomerados de vários municípios, chamados de megacidades. “Discutimos isso muito antes dos movimentos de rua. O Rio está assim, São Paulo nem se fala e Brasília também, onde as cidades satélites estão praticamente incorporadas ao distrito principal. E como vamos lidar com isso? Qual é a ciência que precisamos ter? Como construir com baixo custo sem agredir o meio ambiente? Como levar água e esgoto para todas essas pessoas?”, questionou, lembrando que as respostas devem surgir da contribuição das ciências sociais, humanas, tecnológicas e das engenharias.
Inclusão social – De acordo com Helena Nader, o Brasil está sendo líder na inclusão social. “No governo do presidente Lula houve uma mudança para um grupo significativo de pessoas que não compartilhavam nada de recursos e hoje com o Bolsa Família eles têm acesso a melhores alimentos, acesso à educação”, afirmou. Mas para Helena isso é pouco e ela questiona o que mais pode ser feito “Como fazer com que o incluído não fique dependente da bolsa, e passe a ser um ator bastante evidente na sociedade brasileira? Esse é outro aspecto que pode ajudar os demais países latino-americanos”, opinou.
Para Helena Nader o Brasil tem todas as condições de ser líder na América Latina. “Por sua dimensão continental, pela pujança econômica de 7ª economia do mundo, pelo fato de ter tido um projeto de inclusão social de sucesso, pelo fato de ter uma ciência que representa 2,7% da produção científica mundial, o Brasil tem um papel importante e toda a capacidade de ser líder. O governo dialoga com todos os países da América Latina e Caribe. Então você ter um grande projeto de ciência na América do Sul seria importante para todos”, afirmou.
Apelo à mídia – Helena Nader fez um apelo à mídia diante do que chamou de grave momento da pesquisa brasileira na área da saúde. A presidente da SBPC se referia à polêmica da experimentação animal na pesquisa científica. “Há uma legislação querendo rasgar a Lei Arouca, uma lei que é modelo mundial. A mídia tem que deixar de lado o sensacionalismo. Estamos pondo em risco, nesse momento, a produção de vacinas no país. Sem experimentação animal não há medicamentos”, enfatizou, lembrando que o Congresso colocará a questão em votação em regime de urgência.
O trabalho conjunto com a Academia Brasileira de Ciências (ABC) também foi destacado pela presidente da SBPC, que se disse orgulhosa em integrar o seleto grupo do FMC, que será realizado entre 24 e 27 de novembro também no Rio. Ela considera o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação como o grande incentivador dos encontros regionais. “Os temas debatidos nos encontros foram incluídos no fórum mundial e estão presentes na declaração da América Latina”, afirmou.