
Guilhian diz ser daquelas pessoas que veem no interior o melhor lugar para se criar uma criança, já que nessas localidades a violência não é um problema tão grave. Nascido em São Borja, pequeno município do Rio Grande do Sul, a liberdade foi uma das características mais marcantes de sua infância: o tempo em que não estava no colégio ou fazendo alguma lição de casa, ele passava brincando na rua com seus amigos. Dentre todas as brincadeiras e esportes, o futebol sempre foi o mais praticado. Já no colégio, as disciplinas que mais chamavam sua atenção eram ciências e química. O interesse pelo campo científico, no entanto, só veio quando Guilhian começou a estudar química orgânica e a confirmação de que havia feito a escolha certa só chegaria durante a graduação.
Filho mais velho entre três irmãos, ele conta que – à época das inscrições do vestibular – estava muito indeciso quanto a que curso escolher. “Eu era muito novo, tinha apenas 17 anos”, justifica. A solução encontrada por Guilhian foi optar pelo curso de farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), uma vez que se identificava não só com a química, mas também com as ciências biológicas. Ingressou na iniciação científica logo no início do segundo semestre e gostou tanto da oportunidade de trabalhar em um laboratório de bioquímica que decidiu se tornar pesquisador e seguir carreira na área acadêmica.
Ao longo da graduação e de sua atuação no laboratório, esse desejo foi amadurecendo. “Eram duas atividades que me completavam: ensinar aos outros uma disciplina que me empolga e realizar pesquisa científica com o objetivo de beneficiar pelo menos uma parcela da população”, recorda.
Durante toda a trajetória de formação de Guilhian, sua família ocupou uma posição de grande importância. Seus pais sempre trabalharam fora: a mãe era bancária e o pai inicialmente se dedicava à livraria da família e depois se tornou diretor executivo de um Sindicato do Comércio de Produtos Farmacêuticos. Outra pessoa que assumiu papel de destaque no período da graduação – sendo definida por Guilhian como “um exemplo de pesquisador” – foi o Acadêmico Moacir Wajner, orientador de sua monografia e professor do Departamento de Bioquímica da UFRGS. Após graduar-se, ele realizou um estágio na Austrália, na Universidade de Newcastle e teve o Prof. Richard Rodnight como orientador.
Após voltar ao Brasil, o próximo passo foi retornar também à UFRGS e à orientação do Dr. Moacir. Com uma dissertação intitulada “Efeito in vitro de quinureninas sobre parâmetros de estresse oxidativo em córtex cerebral de ratos jovens”, Guilhian obteve seu título de mestrado em bioquímica. Rumar ao doutorado foi bastante natural. Na mesma universidade e sob a orientação do mesmo pesquisador, seus estudos foram aprofundados e, como resultado disso, veio a tese “Efeitos in vitro dos ácidos 3-hidroxi-3-metilglutárico, 3-metilgutárico, 3-metilglutacônico e 3-hidroxiisovalérico sobre parâmetros de estresse oxidativo em cérebro e fígado de ratos jovens”. Em seguida, no ano de 2010, Guilhian concluiu seu pós-doutorado.
Depois de trabalhar um tempo como professor substituto da Universidade Federal de Santa Catarina, ele foi aprovado em concurso para docente na UFRGS e atualmente exerce o cargo de professor adjunto da universidade. Realiza pesquisas na área de erros inatos do metabolismo, os quais – de acordo com Guilhian – são doenças raras. “Meu foco é a investigação de mecanismos responsáveis pelo aparecimento e progressão dos sintomas dessas doenças. Com a elucidação desses mecanismos, podem ser desenvolvidas estratégias terapêuticas mais eficazes para essas doenças”, explica.
