Nascido na França, Thomas Lewiner conviveu desde pequeno com o mundo da pesquisa, por influência dos pais, ambos físicos. Sua mãe foi a primeira mulher do país a ocupar postos de alto escalão na indústria e seu pai, além de professor, era inventor e fundava empresas com seus alunos no intuito de valorizar a pesquisa. É o irmão mais novo de duas meninas, e suas duas irmãs também seguiram caminhos científicos, antes de ir para indústria. Apesar do tempo restrito com os pais, lembra de que eles gostavam de explicar ao filho seus trabalhos, ainda que por vezes ele achasse “complicado demais” para sua idade.

Além de conversar muito, Thomas gostava de caminhadas quando pequeno. Não tinha televisão em casa, o que, segundo ele, ajudou a despertar seu interesse em muitas outras coisas. Quanto à escolha de carreira, apesar de sua grande facilidade em matemática, o cientista desejava estudar filosofia, mas seus pais o convenceram a fazê-lo mais tarde. “Queria seguir na filosofia, mas meus pais me convenceram que poderia estudar isso depois – o que, aliás, eu fiz – mas que em matemática eu tinha que começar cedo”.

Graduado em engenharia com mérito em física teórica pela École Polytechnique de Paris, ele conta que mudou para física no último semestre, obrigando-o a correr para terminar no prazo, porque achou que os pesquisadores em matemática que tinha encontrado eram um pouco estranhos. Thomas ainda especializou-se com mestrado em telecomunicações pela Telecom ParisTech, realizou mestrado e doutorado em matemática aplicada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e fez outro doutorado em ciências da computação, pelo INRIA e pela Universidade Paris VI.

Professor da PUC-Rio, ele conta que nunca realizou uma iniciação científica, pois na França não existe esse sistema. Sua escolha pela área de pesquisa se deu pela prática de mestrado e doutorado, além de questões pessoais. “Acabei optando pela pesquisa porque parecia ter tido sucesso com isso no mestrado e isso me permitia ficar no Brasil em boas condições, uma vez que já tinha encontrado minha esposa, que certamente foi e ainda é o mais importante para mim”.

A escolha por áreas diferentes

Uma vez que seus mestrados e doutorados foram realizados em áreas diferentes, Thomas acabou seguindo duas linhas de pesquisa distintas.
A primeira delas diz respeito à compressão de dados em 3D, o que, segundo ele, seria “zipar um arquivo que representa um objeto tridimensional, como um boneco de videogame ou um dado de reservatório de petróleo. Um zip padrão consegue dividir o tamanho do arquivo por 10, enquanto, com técnicas específicas, conseguimos dividi-lo por 100 ou mais”.

O outro viés de sua pesquisa se relaciona ao problema de reconstrução 3D. Na tentativa de explicar o assunto de maneira simples, Thomas faz uma analogia com a brincadeira “liga-pontos”, praticada pelas
crianças: “Existem pontinhos numerados em uma folha de papel. Ligando esses pontos na ordem numérica, aparece um elefante ou algo assim. O problema é o mesmo, mas sem os números e com pontos no espaço em vez de ficarem presos à folha. Os pontos vêm tipicamente de câmeras 3D ou de dados medidos pelas empresas de petróleo abaixo do solo”. Segundo ele, esses tipos de pesquisa usam muitos recursos computacionais, o que o levou a pesquisar maneiras eficientes de armazenar informações geométricas.

Thomas segue também, desde seu mestrado, uma linha de pesquisa na área denominada teoria de Morse discreta. De acordo com o cientista, essa ferramenta matemática existe há quase um século, mas foi recentemente adaptada para o mundo computacional. “A ideia é determinar a natureza de um objeto a partir de poucas características. Por exemplo, dada a absorção de raio X dentro de um corpo humano, é possível separar vários tecidos e indicações sobre o formato desses tecidos, sem precisar extrair a imagem inteira do tecido”.

Nada mais do que dez novas perguntas

Para Thomas, “a ciência é um mundo de curiosos insaciáveis”. Aliás, as principais características de um cientista, na sua visão, são o excesso de curiosidade e a falta de paciência. Ele acredita que uma resposta científica não é nada mais do que dez novas perguntas a serem respondidas e que as maiores dificuldades, em termos de pesquisa, não é o não saber, mas o não ousar.

De acordo com o professor, sua área permite não só um amplo aprendizado por situar-se na interface entre muitos mundos, mas também a interação com inúmeras pessoas, destacando-se os estudantes, que estão sempre, segundo ele, atiçando sua curiosidade. A um jovem interessado em ciência, ele diria que, além de fornecer um aprendizado muito completo, o sistema progressivo (iniciação científica, mestrado e doutorado) permite ao estudante certificar-se de seu interesse sem arriscar muito tempo de formação, além de adquirir conhecimentos fundamentais também para a carreira industrial.

Sobre o título de Membro Afiliado da Academia, Lewiner diz sentir-se honrado em recebê-lo. “O título me deu muita motivação para continuar na pesquisa e confiança para pesquisar temas mais difíceis. No sistema atual, em que temos muita pressão para produzir rapidamente, me deu um pouco de fôlego para iniciar pesquisas mais profundas e demoradas”. O novo Acadêmico pensa que a ABC é pouco conhecida fora do âmbito universitário no Brasil e, por acreditar que ela seja uma das poucas fontes de informação correta e confiável, pretende contribuir em sua divulgação.