A cidade de Estrela, no Rio Grande do Sul, onde Paulo Henrique Schneider nasceu e passou a infância, tinha aproximadamente 30 mil habitantes. Teve uma infância muito boa e feliz, em um ambiente familiar com muito amor. Aliás, a vida de cidade pequena possibilitou ainda que ele conciliasse os estudos – para os quais sempre recebeu incentivo dos pais – com brincadeiras de rua, andando de bicicleta e jogando futebol com os primos, amigos e colegas de classe. Na escola, as disciplinas de matemática e ciências sempre foram as preferidas, dando um indício de qual seria seu caminho profissional.
Com o passar dos anos, o gosto de Paulo pelas disciplinas das áreas exatas no ensino médio, incluindo agora os laboratórios de química e biologia, despertou nele o interesse pela investigação científica, que encaminharam sua vida para a pesquisa. No vestibular, optou pelo curso de química industrial na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Os primeiros anos de faculdade confirmaram sua escolha. O seu interesse pela química aumentou com a melhor compreensão da estrutura atômica, teorias de ligação pela valência, teoria dos orbitais moleculares, além de outros temas que se iniciavam com a disciplina de química geral. Somava-se a isso o seu entusiasmo com as disciplinas experimentais, que punham em prática os conteúdos das aulas teóricas.
Paulo Henrique Schneider define seus primeiros anos na universidade como “fascinantes”. Ele foi voluntário no laboratório de pesquisa do professor Antonio Luiz Braga, o que antecipou sua iniciação científica para o primeiro ano da universidade. A possibilidade de poder conciliar o interesse pelo mundo das moléculas orgânicas com suas características, propriedades e reações instigaram seu trabalho no laboratório de pesquisa. “Eu me sentia realmente fazendo parte do desenvolvimento da ciência”, recorda.
O resultado do seu engajamento na pesquisa começou a surgir e, se sua iniciação científica já havia rendido publicações em periódicos internacionais e em congressos, após o primeiro ano do mestrado em química, Schneider viu sua solicitação de passagem direta para o programa de doutorado aprovada pela coordenadoria do Programa de Pós-graduação da UFSM. O convívio com o professor Braga, que era seu orientador, portanto, duraria muitos anos. “A maneira como o professor Braga conduzia seu grupo de pesquisa, sempre incentivando a troca de ideias, foi fundamental para o meu sucesso nesta etapa tão importante da vida”, reconhece. Durante o doutorado, ele cumpriu um estágio no Leibniz Institute of Plant Biochemistry em Halle, na Alemanha, sob a orientação de Ludger Wessjohann, o que enriqueceu sua experiência e amadureceu seus projetos.
Atualmente Schneider é professor adjunto do Departamento de Química Orgânica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e vice-coordenador do Programa de Pós-Graduação em Química, além de vice-diretor da Divisão de Química Orgânica da Sociedade Brasileira de Química (SBQ). Desenvolve projetos de pesquisa na área de catálise, com foco na síntese e aplicação de novos catalisadores. “Esses projetos se traduzem no desenvolvimento de metodologias para síntese de novas moléculas que serão aplicadas em diferentes áreas do conhecimento, como na síntese de fármacos e moléculas com interesse biológico, por exemplo. Além disso, essas novas metodologias utilizam solventes à base de água para as reações químicas no lugar dos solventes tradicionais, como os derivados do petróleo, atribuindo a essas pesquisas uma perspectiva sustentável”.
Schneider tua, ainda, na obtenção de compostos organocalcogênios, com ênfase especial na sua aplicação na área de materiais. Esta nova área lhe chamou a atenção a partir da descoberta da importância da atuação de compostos orgânicos de selênio no corpo humano como agentes antioxidantes, que protegem o organismo de danos nocivos. “Aliado a isso, temos as recentes descobertas de que átomos de enxofre e selênio conferem aos compostos que os contêm importantes propriedades funcionais, o que os tornam excelentes candidatos a materiais com características de cristais líquidos ou OLEDs [Diodo Orgânico Emissor de Luz], dentre outras aplicações tecnológicas”, relata Schneider.
Curiosidade, persistência, ética, força de vontade e uma boa formação teórica: este é o conjunto de características fundamental para um cientista, de acordo com Schneider. Ele diz que tem prazer em trabalhar com química, especialmente pela contribuição que ela oferece para o avanço do conhecimento. “A química está intimamente ligada ao nosso cotidiano, desde a síntese de fármacos até o desenvolvimento de novas metodologias de geração de energia, passando por diversos outros aspectos”, destaca.
Quando recebeu o título de membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências, Schneider sentiu que a qualidade do seu trabalho de pesquisa foi reconhecida pela comunidade científica brasileira. Ele crê que será benéfico conviver com os principais cientistas do país, os quais a ABC congrega, e que a convivência com outros membros afiliados de diferentes áreas e regiões do país será um estímulo importante para sua carreira. E é exatamente com este desejo de diálogo e de troca de experiências que Paulo Henrique Schneider quer contribuir para a ABC.