
Os pais trabalhavam na agricultura e sempre a incentivaram a estudar, em especial a mãe, que a ensinou a ler. Gislaine costumava chegar do colégio e fazer os deveres da escola antes mesmo de almoçar. “Minha mãe até brigava comigo, o que era engraçado, porque na maioria das famílias os pais brigam para os filhos estudarem”, compara. Ela cresceu dando valor aos estudos e conta que da 1ª à 4ª série frequentava uma escola muito simples, onde uma única professora ensinava as quatro séries e ainda atuava como merendeira e faxineira. “Penso nisso e acho incrível. Sempre estudei em escola pública até entrar na universidade, onde recebi bolsa como aluna de iniciação científica. Desde os 16 anos já conciliava estudo com trabalho, como o de babá, secretária e, posteriormente, o de bolsista”.
Suas disciplinas favoritas eram a biologia e as artes, mas ao final do ensino médio tinha certeza que queria seguir na biologia. Segundo ela, todas as pessoas que tinham uma carreira a inspiravam para que pudesse lutar por seu objetivo. “O meu interesse envolvia a natureza, o corpo humano e a vontade de descobrir algo importante que ajudasse de alguma forma a humanidade”. Decidiu cursar Ciências Biológicas pela Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc). Na época, Gislaine ainda não tinha muita noção do que poderia fazer; pensava em descobrir algum princípio ativo de uma planta importante. “Quando entrei, procurei um laboratório ao qual eu pudesse me vincular e fui avisada de uma vaga no setor de neurociência. Achei tudo tão incrível que comecei a trabalhar ajudando nos experimentos de alunos de mestrado e doutorado”.
A iniciação científica em neurociência foi seguida por outra, realizada no Laboratório de Resíduos Sólidos. Mas a jovem já tinha se apaixonado pela área com que se envolveu de início, onde permanece até hoje. “Todos os meus professores me incentivaram muito. Mas o maior deles, para mim, foi o Professor João Luciano de Quevedo, quem me orientou durante a iniciação e no doutorado”, relata. Quevedo, de acordo com ela, sempre a apoiou, dando liberdade para que investigasse algo novo, escrevesse projetos e artigos e praticasse desenhos experimentais. “Além disso, ele deposita em seus alunos uma confiança que faz com que todos cresçam enormemente como pesquisadores”.
Atualmente, Gislaine é bolsista de Pós-Doutorado na Unesc, atuando na área de neurociência, com ênfase em neuropsicofarmacologia, comportamento e modelos animais de depressão e de diabetes. Nas palavras de Gislaine, depressão e ansiedade são transtornos psiquiátricos que afetam de 10 a 15% da população mundial. Como consequência, apresentam alta taxa de morbidade, mortalidade e repercussões econômicas significativas, além de estarem associadas a outras doenças, como as cardiovasculares e diabetes. “No entanto, ainda não se sabe quais as causas exatas de como essas doenças ocorrem. Pensando nisso, procuro entender melhor a neurobiologia desses transtornos, a fim de encontrar tratamentos mais eficazes”.
A seu ver, a possibilidade de descobrir o novo é o que mais a motiva dentro da área. A neurociência, especialmente, reforça essa visão, pois, afinal, o cérebro ainda é um mistério. “Muitas vezes o que se procura não é encontrado e, por isso, um pesquisador deve ser extremamente persistente, desenvolver a noção que virão mais erros do que acertos”, expõe.
Gislaine avalia que o início da profissão é um momento de muitos experimentos, onde a vida de estudo e intensa pesquisa requer a capacidade de doar-se ao trabalho. “Já precisei ir ao laboratório nos finais de semana, escrever projetos e artigos durante a noite. Ainda assim, é possível conciliar a ciência com a vida familiar, social e ainda ter tempo para cuidar da saúde”.
Para ela, a premiação conquistada tem um valor especial por incentivar a participação das mulheres no meio científico. “Hoje em dia, observamos cada vez mais a figura feminina em congressos e laboratórios, eventualmente ultrapassando o número de homens”, constata. A pesquisadora pretende utilizar os recursos em seus projetos de pesquisa, de forma a dar continuidade ao sonho de firmar sua brilhante trajetória profissional.