Foi lançada, no dia 14 de junho, uma aliança internacional que buscará reunir cientistas de todas as áreas em um projeto interdisciplinar, visando coordenar pesquisas e políticas voltadas para a sustentabilidade. Apresentado no “Forum on Science, Technology & Innovation for Sustainable Development”, que foi realizado na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) entre os dias 11 e 15 de junho, o “Future Earth” (Terra do Futuro) é uma iniciativa do International Council for Science (ICSU) da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) e de outras instituições científicas internacionais.

A ideia do projeto é conectar as agendas de pesquisa de cientistas do mundo inteiro, das ciências naturais às sociais, incluindo as engenharias, de modo a tornar mais eficazes a compreensão e a previsão das mudanças ambientais e criar soluções para os problemas relacionados ao meio ambiente, buscando a melhor maneira de se fazer a transição para uma economia sustentável. A aliança é aberta também aos definidores de políticas e seu comitê científico deve ser determinado até o início de 2013, quando será apresentado um plano de dez anos.

O lançamento do projeto reuniu autoridades de todo mundo nas áreas da ciência e sustentabilidade em um painel sobre políticas científicas, coordenado pelo diretor executivo do Stakeholder Forum for a Sustainable Future, Felix Dodds. Fizeram parte da mesa os Acadêmicos Bertha Becker, geógrafa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Biodiversidade e Uso da Terra da Amazônia; e Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor-científico da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).


Bertha Becker, Jakob Rhyner, Diana Liverman, Felix Dodds, Steven Wilson,
Carlos Henrique Brito Cruz, Johan Rockström, Yuan T. Lee no púlpito

O “Future Earth” definiu oito linhas principais de pesquisa integradas: o estado do planeta; os recursos para o desenvolvimento sustentável e o bem-estar da população; riscos de catástrofe; as regiões mais críticas (como algumas cidades e zonas polares); a redução das emissões de carbono; a relação com os oceanos; as respostas globais e ambientais; e os caminhos transformadores para um futuro sustentável. Foi incluída, também, uma nona linha de pesquisa, definida como “um convite ao que ainda falta ser encaixado.”

Felix Dodds afirmou que o evento de lançamento do “Future Earth” tem um significado importante para a ciência mundial. O presidente do ICSU, Yuan Tseh Lee, disse estar orgulhoso de apresentar tal iniciativa que busca promover a sustentabilidade global: “Com essa aliança, vamos produzir conhecimento para estabelecer soluções sustentáveis.”

O diretor executivo do Stockholm Resilience Centre (Suécia), Johan Rockström, declarou que, atualmente, a humanidade corre riscos que não podemos aceitar. “Precisamos integrar a ciência para achar soluções, responder nossas questões mais críticas, e a ideia é convidar todo mundo para essa integração. Vamos compilar o que a ciência tem feito de bom. ” Rockström comentou que o “Future Earth” pretende mobilizar uma mudança a partir da comunidade cientifica global. O próximo passo é conectar o projeto a uma estrutura governamental, fortificando a aliança.

A diretora do Instituto do Meio Ambiente da Universidade do Arizona (Estados Unidos), Diana Liverman, opinou que um sistema integrado, que reúne profissionais de todas as áreas, deve produzir bons resultados: “Como cientista, sinto que é tempo para nos juntarmos. O senso do Future Earth é que todas as pessoas se sintam como cientistas. Meus colegas dizem que se eu me unir a um físico, minha agenda será subvertida, mas eu não concordo. É importante que todos se envolvam.”

A Acadêmica Bertha Becker comentou que o projeto contribuirá para o desenvolvimento sustentável através da proposta de um novo contrato entre ciência e sociedade: “A ciência tem uma tendência a ser uma atividade com um ar superior. Ela precisa de uma proximidade maior com as pessoas, com a realidade. Isso ajudaria a recuperar a confiança na ciência, porque muitas pessoas não estão mais acreditando no que ela pode fazer pelo desenvolvimento”. Segundo a geógrafa, o maior obstáculo está na dimensão política. “As pessoas não querem perder seu jeito de produzir e consumir. Temos que fazer negociações e tentar mudar.”

Becker também acentuou a importância de lidar com as diferenças: “Não estamos falando de um mundo homogêneo; os impactos no planeta não são homogêneos, então temos que considerar estas distinções e respeitá-las para se chegar a uma sustentabilidade global de fato”. Ela afirmou também que é preciso levar em conta as experiências locais e regionais, pois muito acontece nessas escalas.

O cientista-chefe do Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP, na sigla em inglês), Joseph Alcamo, ressaltou que o “Future Earth” precisa ser muito mais do que um projeto: “Ele tem que apoiar um novo tipo de ciência, que forneça as bases para incentivar e avançar na sustentabilidade”. Ele declarou que a questão não se trata apenas de a ciência colaborar com a política, mas também de discutir o papel do governo. Já o vice-presidente de Sustentabilidade e Meio Ambiente da The Dow Chemical Company, Neil Hawkins, afirma que é preciso fazer com que as pesquisas sejam acionáveis, envolvendo o setor privado e tornando possíveis intervenções que mudem a trajetória de onde o planeta está indo atualmente.

O Acadêmico Carlos Henrique de Brito Cruz destacou que um dos pontos mais fortes dessa aliança é que ela une os produtores de conhecimento: “O Future Earth vai dar uma escala global à colaboração de pesquisas para informar soluções e transformações para a sustentabilidade”. Segundo o diretor-científico da Fapesp, o sucesso do programa será o financiamento transnacional para apoiar os projetos de pesquisa. “Por exemplo, as agências de fomento já estabeleceram chamadas em conjunto para reunir parcerias internacionais de cientistas sociais e naturais para trabalhar em temas específicos, como a segurança da água potável e a vulnerabilidade das linhas costeiras.”

Brito Cruz ressaltou também que um dos objetivos explícitos do “Future Earth” é criar estímulos para jovens pesquisadores que estão em início de carreira. “É importante propiciar oportunidades para eles.” Ele mencionou, ainda, que a boa comunicação é imprescindível para o sucesso da relação entre a ciência e a sociedade, afirmando que a maioria das agências considera este fator um resultado relevante nos projetos de pesquisa.