Não resta dúvida de que, quanto mais recursos financeiros investidos nos laboratórios produtivos das universidades e institutos de pesquisa, o País produz mais uma ciência melhor e de maior impacto. O Brasil possui grandes cientistas. Deve-se acreditar realmente que nossa ciência produzirá ideias de alta qualidade e inovações importantes para as empresas. Mas temos que investir mais em ciência.

Nossos estudantes podem aprender ciência, engenharia, biologia e matemática tão bem como os jovens dos países do Primeiro Mundo, como na Inglaterra, nos EUA, na França e na Alemanha? Acho que sim. Temos uma juventude não limitada em termos genéticos. O País possui pesquisadores brilhantes e grandes lideranças científicas aqui e/ou espalhados pelo mundo. O que fazer? Devemos mostrar à sociedade a importância da ciência e evitar que a população continue pensando que os cientistas são pessoas que, simplesmente, sabem muito de coisas que não servem para nada, e evitar políticas conservadoras em matéria de ciência.

Não podemos ter interesses de pesquisadores individuais que abusam da autonomia que as instituições possuem, pois isto pode desenvolver um sistema endogâmico, muitas vezes hereditário. Também não podemos substituir simplesmente as instituições científicas para serem tecnológicas e inovativas. É verdade que os caminhos da ciência levam a inovações, mas inovação não se faz nas instituições de pesquisa – que possuem a responsabilidade de gerar novos conhecimentos e avançar na formação de nossa juventude – e sim nas empresas.

A qualidade da ciência de um país repercute diretamente no desenvolvimento tecnológico e na economia. Discussões sofistas ocorrem nos ministérios, gabinetes e mesmo dentro das instituições universitárias e de pesquisas. Às vezes, estes debates nos privam da nossa atividade fundamental: produzir ciência e tecnologia.

As conversas mais tranquilas colocam culpa nas agências financiadoras ou concluem, com certo complexo de inferioridade, que países do Primeiro Mundo desfrutam de laboratórios com melhores condições orçamentárias para realizarem ciência e tecnologia. Nos diálogos mais agressivos acabam colocando culpa no governo, nos ministérios, na falta de recursos disponíveis para a área. Em outras conversas mostram que a crise econômica mundial é responsável pelo parco recurso na área. Não acredito nestes argumentos.

O País sempre pode melhorar para incrementar cada vez mais o progresso social, econômico, científico e tecnológico. Não devemos desanimar. Mas temos que encarar a realidade. A sociedade brasileira necessita ter consciência de que a ciência melhora a qualidade de vida, a democracia e a independência tecnológica nas empresas nacionais.

Eloi de Souza Garcia é pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz e ex-presidente da Fundação Oswaldo Cruz, assessor da presidência do Inmetro.