Belita Koiller (coordenadora), Takeshi Kodama e Cylon Gonçalves da Silva
A Acadêmica Belita Koiller, do Instituto de Física da UFRJ, coordenou a sessão de Ciências Físicas na conferência Avanços e Perspectivas da Ciência no Brasil, América Latina e Caribe 2010, que teve como palestrantes os Acadêmicos Cylon Gonçalves da Silva, Luiz Davidovich e Takeshi Kodama.
Física de Altas Energias
O Acadêmico Takeshi Kodama, do Instituto de Física da UFRJ, apresentou a pesquisa Participação brasileira na Física experimental de altas energias e o papel da Rede Nacional de Altas Energias (Renafae). Kodama abordou a importância do Large Hadron Collider (LHC), o maior acelerador de partículas existente no planeta. Localizado na Suíça, sua contribuição é significativa para a descoberta de novos fenômenos e a quebra de incertezas físicas, como ressaltou o pesquisador: “O LHC foi desenhado para ter energia suficiente para realizar grandes colisões. Os experimentos estão se aproximando da energia contida em raios cósmicos. A expectativa é descobrir, por exemplo, se realmente existe o Bóson de Higgs, uma partícula hipotética crucial, cujo papel é validar o atual modelo padrão de partículas, pois foi a única ainda não observada.”
Kodama destacou o trabalho que pesquisadores, pós-graduandos e alunos brasileiros de iniciação científica têm realizado em experimentos como o ALICE – sigla para A Large Ion Collider Experiment -, unindo o trabalho de universidades como a UFRJ, a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), entre outras instituições.
Quanto à Renafae, Kodama relatou as principais metas atingidas, como a concepção de comunidade de área obtida graças à rede e a tecnologia que passou a ser produzida no Brasil. “O desafio agora é desenvolver mais ações relacionadas com a indústria e estender as atividades para a América Latina”, informou o pesquisador.
Produção brasileira de semicondutores
Em sua palestra, o Acadêmico Cylon Gonçalves da Silva apresentou a Ceitec S.A., empresa que preside e que é pioneira na produção de semicondutores na América Latina.
A Ceitec S.A. é uma empresa estatal localizada em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, que projeta e fabrica circuitos integrados no Brasil e possui um Centro de Design interno que desenvolve chips analógicos e digitais. “Foi resultado de um esforço da prefeitura, empresariado local, universidades, entre outros”, relatou o presidente.
Cylon explicou sua trajetória de físico a presidente de uma empresa do ramo da microeletrônica: embora ele não seja da área, possui experiência em gestão de projetos. Contou que foi convidado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia a presidir a empresa, que passava por uma situação complicada. “Aceitei e me impressionei com o número de jovens envolvidos e dispostos a se comprometer com o projeto”, disse o Acadêmico.
As instalações da empresa, segundo ele, são extremamente avançadas. “Estamos próximos da PUC do Rio Grande do Sul e também da Universidade Federal, ou seja, em um verdadeiro parque tecnológico”, contou Cylon Gonçalves. “É um quadro de oportunidades, com a criação de programas governamentais voltados para o setor, o aumento dos nichos de mercado e interessante, principalmente, para valorizar a posição do Brasil no mundo.”
Cylon citou alguns dos projetos da empresa, como o Sisbov, capaz de rastrear bois e contribuir qualitativamente para o setor da pecuária; o Hemobras, sistema de rastreamento de bolsas de placas sanguíneas; o desenvolvimento de um plano nacional de banda larga, levando internet para todo o país, dentre outros.
No entanto, existem desafios a serem vencidos. Os principais, segundo Cylon, são conseguir responder à demanda e lidar com os problemas de gestão de uma empresa estatal. “Mas, acima de tudo, está a satisfação de saber que jovens, engenheiros e técnicos brasileiros estarão trabalhando em uma indústria brasileira de ponta.”
Física quântica

Davidovich destacou novas aplicações possíveis da Física Quântica, como na ciência da computação, pois cada vez mais progride a miniaturização e decresce o número de átomos utilizados na unidade central de processamento. “Em torno de 2020, chegaremos ao limite em que memórias e transistores serão compostos por um único átomo. A Física Quântica poderá então desempenhar um papel relevante, influindo nos softwares de computação, levando a novos algoritmos que possam fazer uma computação muito mais rápida e eficaz, quântica”, explicou ele. Mencionou ainda que computadores quânticos já têm sido utilizados para a simulação de sistemas físicos, realizando assim proposta nesse sentido feita pelo físico Richard Feynman na década de 1980.
Por fim, o diretor da ABC discutiu resultados de pesquisas recentes sobre os estados emaranhados, incluindo sua própria pesquisa sobre a robustez desses estados frente à ação do ambiente. Mencionou ainda outras aplicações do emaranhamento, em criptografia e metrologia quântica. “O emaranhamento permite aumentar a precisão na medida de parâmetros que caracterizam processos físicos, como o deslocamento de fase de um feixe de luz ao atravessar um material”, explicou Davidovich.