Dentro da Conferência Avanços e Perspectivas da Ciência no Brasil, América Latina e Caribe 2010, o Simpósio promovido pelo Escritório Regional da Academia de Ciências do Mundo em Desenvolvimento (TWAS-Rolac, na sigla em inglês) contou com a participação dos brasileiros Luzia Modolo e Wagner Dias, bioquímica e biofísico, respectivamente; do microbiologista chileno Jaime Romero; da geóloga jamaicana Sherene James Williamson, que apresentou um trabalho sobre educação científica em museus e da argentina Juliana Cassataro, bióloga molecular.

Microbiologia

Jaime Romero, PhD em Microbiologia pela Universidade do Chile e professor do Instituto de Nutrição e Tecnologia dos Alimentos (INTA) da mesma universidade, apresentou a pesquisa Microbiota dos peixes: interação bactéria-hospedeiro.

O objetivo do estudo, segundo ele, é determinar o papel de componentes da microbiota (conjunto de microorganismos geralmente associados a órgãos e tecidos de outro organismo) na indução de enterite (inflamação do intestino delgado causada por infecção viral ou bacteriana) no salmão submetido a uma dieta de saponina de soja. A pesquisa inclui avaliar qual a bactéria que induz sinais inflamatórios e a que induz sinais anti-inflamatórios no modelo do peixe-zebra, livre de germes.

Biologia molecular

O trabalho apresentado por Juliana Cassataro intitulou-se Desenvolvimento de novos adjuvantes para vacinas orais e vem sendo realizado no Laboratório de Imunogenética do Hospital de Clínicas da Universidade de Buenos Aires. Cassataro lidera um grupo de pesquisa que desenvolve vacinas contra doenças infecciosas. Em 1999, ela iniciou seus estudos de doutorado na Escola de Farmácia e Bioquímica daquela universidade e recebeu vários prêmios pelo seu trabalho sobre o desenvolvimento de uma vacina contra brucelose, doença que pode ser transmitida do animal para o homem e causa aborto instantâneo.

Cassataro explicou que a vacinação oral é uma escolha natural por ser de fácil administração e de custo muito baixo. Além disso, consegue produzir uma resposta imune no local da infecção, o que é desejával para a maioria dos agentes infecciosos. No entanto, é difícil fazer uma vacina eficaz e segura por via oral devido a numerosos obstáculos, como o fato dos antígenos sofrerem degradação no estômago e no intestino. “Conseqüentemente, para imunizar de forma confiável com vacinas protéicas ou peptídicas, os antígenos contidos na vacina precisam ser protegidos para que não sofram danos causado pelo organismo receptor da vacina – como a degradação – e consigam produzir a resposta imune, objetivo de qualquer vacinação”, explicou a pesquisadora.

Seu grupo de pesquisa desenvolve um estudo que observa a capacidade de uma proteína bacteriana em proteger os antígenos da degradação, além de propor a utilização da proteína para estimular o transporte de antígenos em tecidos de mucosa. “Estamos trabalhando para aumentar a vida dos antígenos, contribuindo para a eficácia das vacinas”, destacou a médica.

Ainda nessa área, Luzia Modolo, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apresentou o trabalho Plantas dizem “no stress” ao meio ambiente. Ela concluiu seu doutorado em Biologia molecular e funcional (Bioquímica) pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e obteve grau de PhD em Bioquímica vegetal e cristalografia de proteínas. Seu interesse está principalmente nas respostas das plantas a estresses ambientais, metabolismos secundários das plantas e melhoria da produção de nutracêuticos.

Modolo ressaltou que o mecanismo pelo qual as plantas se defendem contra estresses ambientais deve ser altamente eficiente, pois não podem fisicamente “escapar” às ameaças do meio, por estarem fixadas ao solo. Descobertas recentes revelaram uma série de funções para o óxido nítrico (NO) – um radical livre gasoso que se difunde através das membranas celulares – no reino vegetal. Modolo focou sua apresentação no papel do NO durante a resposta das plantas a estresses causados por metais ou por falta de água. Explicou, também, que a melhor compreensão dos mecanismos bioquímicos utilizados com sucesso pelas plantas para superar tensões pode contribuir para a conservação da biodiversidade e o aumento da produtividade das culturas.

Educação científica

Sherene James Williamson, da Universidade das Índias Ocidentais, apresentou o trabalho Aprendendo ciência além da sala de aula. Com formação em Geologia, Sherene obteve diplomas em Educação e Tecnologia Química pela Universidade de Tecnologia da Jamaica. Atualmente, é curadora do museu daquela universidade e professora do Departamento de Geografia e Geologia.

Williamson falou sobre a implementação de programas de educação no Museu de Geologia da Universidade das Índias Ocidentais (UWIGM, na silha em inglês), com o objetivo de promover e despertar interesse pela ciência e pelas carreiras da área na Jamaica. O museu é o único do gênero na região do Caribe que adotou o idioma inglês em suas atividades. “No início, o UWIGM servia como um repositório de pesquisa para o Departamento de Geologia, mas agora, através de suas coleções e programas de educação, tem proporcionado um ambiente de aprendizagem não só para estudantes de Geologia, mas para estudantes de outras disciplinas também”, relatou Sherene.

A pesquisaora disse que o museu promove a educação científica através do apoio curricular, pois tudo é programado antecipadamente. “Organizamos visitas orientadas, fazemos seminários e workshops para alunos, professores de nível básico e de nível superior, bem como as atividades de campo científicas de verão”, contou a pesquisadora. Os impactos, segundo ela, têm sido grandes e muito satisfatórios, dado que o número de visitantes aumentou, o museu conseguiu reconhecimento internacional e as crianças demonstram maior interesse pela área.

Biofísica

Wagner Dias, do Instituto de Biofisica Carlos Chagas Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro ( UFRJ), apresentou o trabalho “O-GlcNAcilação de quinases: Um novo paradigma para sinalização”. Dias recebeu o título de doutor em Biofísica, em 2004, na mesma universidade, trabalhando na biossíntese de glicoconjugados (glicoproteínas e glicolipídios, por exemplo) na superfície do Trypanossoma cruzi. Ele se tornou professor do Instituto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro em 2009, onde está atualmente pesquisando sobre proteínas quinases, uma grande família de enzimas que media a resposta de células a estímulos externos.

Ele explicou que a O-linked beta-N-acetilglicosamina (O-GlcNAc) ajuda na regulação de proteínas dentro de um organismo, auxiliando na regulação de processos celulares, entre outros. Dados recentes indicam que a disfunção protéica O-GlcNAc/fosforilação parece ser importante para a patologia da diabetes, doença de Alzheimer e câncer. Segundo os estudos, Dias disse que a O-GlcNAc foi detectada em inúmeras proteínas, confirmando a importância do seu papel.