Realizadas na sede da Fapesp em São Paulo, as palestras da área de Meio Ambiente e Mudanças Globais foram coordenadas pelo Acadêmico Paulo Artaxo (USP), do lado brasileiro, e Meinrat Andreae (Instituto Max Planck), do lado alemão. Foram enfatizadas áreas críticas de pesquisa, tais como o meio ambiente amazônico, a poluição do ar urbana e estudos de balanço de carbono.
O diretor do Departamento de Biogeoquímica do Instituto de Química Max Planck, Meinrat Andreae, que trabalha em parceria com pesquisadores brasileiros desde 1980, discutiu a questão do desenvolvimento da Amazônia e as emissões atmosféricas. O chefe do grupo de Fisiologia de Plantas do mesmo Departamento, Jurgen Kesselmeier (MPI Mainz) discutiu o papel da floresta e as emissões de compostos orgânicos voláteis na química atmosférica amazônica.
A ciclagem de nitrogênio na Amazônia foi o tema do engenheiro agrônomo Luiz Martinelli, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA-USP), que apresentou resultados interessantes em relação à dieta da população Amazônica, que está se modificando – do peixe para carne, frango e enlatados. A diretora do Max Planck Instituto de Biogeoquímica em Jena, Susan Trumbore (MPI Jena), tratou dos últimos resultados de processos que governam o ciclo global do carbono, com ênfase na Amazônia.
O Acadêmico Carlos Nobre tratou de uma questão teórica, mas com grande aplicação prática para orientar políticas de desenvolvimento sustentável para a Amazônia. Seu tema foram os limites de variáveis ambientais para a manutenção da floresta tropical, os quais, caso excedidos, poderiam gerar um processo de mudança climática irreversível na região Amazônica, com transição da floresta tropical úmida para tipos de vegetação com menor biomassa e biodiversidade. Foram apresentados resultados de estudos propondo que tais limites existem (teoricamente) e que, para a floresta tropical, são: aumento da temperatura não superior a 4ºC e área total desmatada não superior a 40% da área de floresta tropical.
Atualmente, as temperaturas subiram quase 1ºC na Amazônia e o desmatamento está próximo de 20%. “A redução acentuada dos desmatamentos nos últimos cinco anos (queda de 60%) na Amazônia brasileira significa que é concebível ficar aquém do limite teórico de 40% de área desmatada e isso depende prioritariamente de políticas públicas nacionais dos países tropicais”, esclareceu Nobre.
Porém, o outro “tipping point” de aumento de temperatura depende da redução acentuada das emissões globais, que dependem majoritariamente do corte das emissões de queima de combustíveis fósseis. As projeções atuais não eliminam a possibilidade de a temperatura aumentar mais de 4ºC ainda neste século. Portanto, esta avaliação sugere que o risco maior à Amazônia parece ser aquele advindo do aquecimento global.
O físico da USP Paulo Artaxo mudou o foco das apresentações para poluição do ar urbana, mostrando novos resultados de medidas de poluentes atmosféricos em São Paulo e outras cidades brasileiras, abordando a influência do etanol sobre as concentrações de vários compostos, como ozônio.
Em seguida, o engenheiro elétrico e diretor do Departamento de Física do Instituto Leibniz para Pesquisa Troposférica, Alfred Wiedensohler, apresentou resultados de medidas de poluição do ar urbana na Alemanha e na China.
Finalmente, o especialista em Física da atmosfera Antonio Manzi, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), apresentou resultados recentes elucidando vários processos críticos no funcionamento da floresta compreendidos através de estudos das torres do programa LBA.
“O simpósio apontou possibilidades de cooperação importantes entre o Brasil e a Alemanha, que deverão ser implantados através de cooperação científica internacional”, avaliou Artaxo.