Nos dias 12 e 13 de junho foi realizada no Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro a 7a Reunião dos Coordenadores Nacionais do Programa de Educação Científica da rede IANAS, que envolve 17 países. Este programa tem por objetivo fundamental mobilizar as Academias de Ciências nas Américas, visando contribuir para o aprimoramento do ensino de ciências em nossas escolas.
A agenda do evento recebeu sugestões do recém formado Grupo de Trabalho Sobre Mulheres para Ciência da Rede IANAS (WFS-WG, na sigla em inglês) e abrange uma avaliação do andamento do Programa, uma discussão sobre os desafios encontrados e sobre os próximos passos do Programa em cada um dos países envolvidos, além de abordar questões de gênero relacionadas à Educação Científica. O WFS-WG fez sua primeira reunião na sede da ABC, no dia 13 de junho.

JorgeAllende, Juan Pedro Laclette, Jacob Palis, José Lozano e Anneke Sengers
Na abertura do evento, o presidente da ABC Jacob Palis destacou que o Brasil está num bom momento para ciência, tecnologia e inovação (CT&I), em função dos crescentes investimentos nos últimos anos. Referiu-se ao grande desafio de ensinar ciência às crianças e identificar talentos desde cedo. “Acreditamos que encorajando e estimulando os jovens talentosos estamos contribuindo para o crescimento de nossa sociedade”, ressaltou.
O biólogo mexicano Juan Pedro Laclette falou a seguir, em nome dos dois co-diretores da IANAS – ele e o vice-presidente da ABC, Hernán Chaimovich – e agradeceu o apoio da ABC a IANAS. “O Programa de Educação Científica de IANAS visa a capacitação de professores e o estímulo à participação de mulheres nas ciências. Essas duas questões estão na agenda da IANAS e esse Programa é a pérola da coroa”. Para Laclette, tornar o aprendizado de Ciências mais atraente para as crianças é uma questão fundamental para os países em desenvolvimento. “Estamos aqui reunidos para trocar experiências e traçar uma estratégia conjunta. Pela avaliação do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) para as Américas, precisamos melhorar muito.”


Questões de gênero

Sengers explicou que o grupo foi criado para estimular as Academias de Ciências a se engajarem nesse grande desafio de fazer com que as mulheres sejam parte integrante da força de trabalho nas áreas de Ciências e Engenharias. “Os professores do ensino fundamental devem ter nosso apoio para levar às salas de aula a conscientização das meninas de que elas podem ser cientistas e engenheiras, mostrando exemplos bem sucedidos de mulheres nessas áreas, sem abrir mão de sua vida pessoal como esposa e mãe. As meninas devem perceber essa perspectiva como possível para suas vidas.”


Derrubando os mitos
O que as Academias de Ciências poderiam fazer para empoderar as mulheres em seu trabalho técnico-científico ou em seu empenho pela educação em ciência e tecnologia? Como atrair meninas e jovens ou, mesmo, manter o interesse das mulheres no campo das ciências e das tecnologias? Essas perguntas nortearam o evento, que reuniu especialistas da Argentina, Bolívia, Brasil, Canadá, Caribe, Chile, Colômbia, Cuba, EUA, Guatemala, México, Peru, República Dominicana e Venezuela.

A ciência poderia ser enriquecida com um maior reconhecimento da contribuição feminina, ampliando a diversidade de talentos e visões. Na maioria das Academias de Ciências, segundo a pesquisadora, o quantitativo de mulheres não passa de 10%. “Seria preciso dar as boas vindas e valorizar as cientistas e tecnologistas mulheres nos institutos de pesquisa, bem como estimular todos os estudantes, sem distinção de gênero. As mulheres também deveriam ter reconhecido seu valor como importantes parceiras no que tange à definição de parâmetros e estruturas de formação e desenvolvimento dos recursos humanos em ciência e tecnologia”, defendeu Danielle.
Romper os mitos
“Meninas não se interessam por ciência” ou “tecnologia é para meninos”. Esses são alguns dos pré-conceitos que Danielle Grynszpan apontou como extremamente prejudiciais ao desenvolvimento das mulheres nas ciências. Ela observou que expectativas baixas levam à performances baixas. “O preconceito pode levar os profissionais da educação a alcançarem os resultados esperados, ou seja, maus resultados.”
Outras questões relevantes foram consensuais entre os presentes ao encontro. Um obstáculo apontado foi a representação da imagem do cientista sempre no gênero masculino nos livros escolares e na mídia em geral. O clima institucional cientifico também é muitas vezes hostil às mulheres – exceção feita às Ciências Sociais. “Nós não somos bem aceitas pelo pessoal mais antigo e tradicional, que geralmente avalia mal as mulheres”, acrescentou Danielle.
Por tudo isso, foi avaliado como fundamental mostrar que a ciência e a tecnologia são produtos de um processo social, uma produção coletiva na qual homens e mulheres colaboram trabalhando juntos, igualmente envolvidos e entusiasmados por seus trabalhos de pesquisa, imbuídos da importância destas atividades para a sociedade. “As próprias Academias de Ciências deveriam nomear mais mulheres entre seus membros, por sua competência técnica ou pela dedicação à causa da difusão cientifica. Alem disso, as Academias deveriam influenciar para que as mulheres fossem indicadas para participar em comitês de decisão técnico-científicos, bem como valorizadas como conferencistas em eventos acadêmicos.”
Finalizando seu relato, Danielle destacou uma recomendação do evento: que as questões de gênero passem a ser incorporadas no desenvolvimento de projetos e programas de educação cientifica, relacionando-se os desafios a serem percebidos e enfrentados, a fim de reverter o quadro atual.
No debate aberto para colocações do público, uma professora observou que não há recursos materiais para laboratórios de ciências nas escolas públicas. “Isso é fato”, respondeu Danielle Grynszpan, “além de outros fatores que também são prejudiciais, como o grande número de alunos nas turmas”. Mas destacou que a proposta metodológica do Programa ABC na Educação Científica inclui a produção do material didático pelos professores junto com os alunos. “A metodologia investigativa não requer recursos caros, os materiais didáticos são criados ao longo do processo”, esclareceu Danielle. Estão sendo desenvolvidas, inclusive, bancadas móveis para o caso de falta de espaço físico para laboratórios. Outra professora corroborou a tese de Danielle, ressaltando que “ciência não se faz só no laboratório – se faz na cozinha, no varal, no corredor, na brinquedoteca. Ciência está na vida.”