Na 2ª feira, dia 14 de junho, foi organizado pela ABC e pela Rede Interamericana de Academias de Ciências (IANAS, na sigla em inglês) no Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro (MHN) um evento que reuniu professores da rede pública do Rio de Janeiro, representantes da Secretaria Especial de Políticas Públicas para Mulheres, da Unesco e do GAB Brasil, além de representantes dos 17 países membros da IANAS.
Os professores presentes trabalhavam no Programa ABC na Educação Científica, implementado pela Academia Brasileira de Ciências, ou pertenciam a cursos de Formação de Professores, O objetivo era interagir sobre questões de gênero na área da Ciência, relacionado-as com suas experiências em educação científica através da investigação. O debate envolveu os presentes de maneira surpreendente, impressionando profissionais de órgãos de educação e de fomento à ciência.

Vera Lucia Bastos, Maria Lucia Braga, Diogenes Campos, Anneke Sengers e Maria Lucia Castello Branco


Políticas públicas para mulheres

Ela apresentou as políticas públicas com recorte de gênero instituídas pela Secretaria, iniciando pela necessária oferta pelo Estado da educação infantil, para que as mulheres possam ter maior inserção no mercado de trabalho. “A demanda pelas creches já é antiga, vem da década de 70”, observou Lucia. A professora mostrou que no início do século 20 a relação entre os papéis masculinos e os femininos era muito desigual. “Os homens tinham mais anos de estudo que as mulheres. Essa relação mudou. No início do século 21 esse número já é igual, tendendo um pouquinho para um maior número de mulheres com mais anos de estudo”.
Entre as ações da Secretaria, Braga destacou a sexta edição do Prêmio de Igualdade de Gênero, realizada em 2010 para todos os níveis educacionais. Serão premiadas redações sobre o tema. “Os professores podem – e devem – levar os alunos em sala de aula a perceber as desigualdades entre homens e mulheres e a agir pela equiparação de oportunidades”. Lucia esclareceu que a Secretaria trabalha de forma intersetorial, com ações realizadas de forma integradas com outros órgãos como o MEC, com as Secretarias Estaduais e Municipais e outras entidades parceiras, também empenhadas em quebrar as relações de subordinação ainda existentes na estrutura da sociedade brasileira. “Lutamos pela consolidação da educação inclusiva, não sexista, não racista e não homofóbica. Essas mudanças culturais levam pelo menos duas gerações. Nossa sociedade hoje, por exemplo, é não tabagista. Mas demorou esse tempo para que a mudança de hábitos acontecesse, a partir da informação disseminada.”
Ela concluiu informando que a Secretaria também oferece, desde 2006, cursos semi-presenciais sobre Gênero e Diversidade na Escola, através da Universidade Aberta do Brasil e da rede pública do ensino médio. “No primeiro ano tivemos mil participantes. Em 2010, que é o quinto ano do projeto, tivemos o aporte de 15 mil professores”. Lucia ressaltou a mais recente ação da Secretaria, que são os cursos de Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça. “Serão oferecidas seis mil vagas em 18 universidades públicas a partir de 2011.”
Debate rico com os professores presentes
Aberta a discussão para o plenário, um professor indagou sobre a existência de políticas públicas não só para incluir o aluno na escola, mas para mantê-lo na escola. Deu como exemplo dessa necessidade o quadro atual do ensino médio: turmas grandes no 1º ano e um esvaziamento nos anos seguintes. Maria Lucia Braga reconheceu que o problema de permanência na escola é recorrente no Brasil, e informou para mudar esse quadro está ocorrendo um investimento na formação e qualificação do professor, visando aumentar a qualidade da educação para tornar a escola mais atraente e promover a permanência dos alunos.
Outra professora destacou a importância da escola de tempo integral para ajudar a reter o aluno e conseguir um aprofundamento nos conteúdos. Maria Lúcia respondeu que a experiência em educação em tempo integral é relativamente nova, é um programa em execução que ainda não estabeleceu novos paradigmas. “Os professores têm que ser mais bem formados e mais bem pagos para poderem atuar de forma mais eficaz junto aos estudantes”.
“Os instrumentos de comunicação evoluem a passos largos e a educação não consegue acompanhar e se aproximar do jovem, não incorpora os novos meios de comunicação. Também ainda não se integra a arte e a cultura à educação”, observou outra professora presente. Maria Lucia destacou as propostas de investimento em temas transversais que perpassem todas as disciplinas, relacionados a arte e cultura e a temas socialmente fundamentais como gravidez na adolescência, orientação sexual, respeito às individualidades, atenção às demandas e desejos por carreiras científicas em todas as áreas.
Outra pergunta foi sobre a equiparação salarial entre homens e mulheres – as mulheres alcançam postos de liderança, mas geralmente com remuneração inferior. Maria Lucia informou que foi proposto um projeto de lei que está em tramitação no Congresso, a partir de iniciativas conjugadas do Ministério da Justiça, do Ministério do Trabalho e de centrais sindicais, visando a real implementação da lei que proíbe a desigualdade no trabalho. “Esse projeto de lei propõe que de fato existam mecanismos que garantam essa igualdade, incluindo o salário, como comissões nas empresas para acompanhar a promoção de medidas nesse sentido”, concluiu Maria Lucia Braga.
