Apoio à ciência fundamental, retomada das altas taxas de formação de doutores, aumento do impacto internacional e investimentos focados nos centros de excelência estão entre os tópicos destacados pelos participantes da plenária “A ciência básica e produção do conhecimento: um desafio para o Brasil”. A conferência se encerra nesta sexta-feira (28/5).

“A ciência nacional tem experimentado uma ascensão vigorosa em quantidade e qualidade. Um dos nossos desafios, nesse contexto, é a questão do impacto dessa ciência produzida no Brasil. A evolução do número de citações é crescente, mas ainda está abaixo da média mundial”, destacou.
Outro desafio, segundo Brito Cruz, é retomar o aumento na taxa de crescimento da formação de doutores. Até 2003, o número de doutores formados crescia cerca de 18% anualmente. Desde então, passou a crescer a aproximadamente 5% ao ano.
“Os números mostram que existe alguma restrição importante operando no sistema brasileiro, puxando o freio de mão da formação de doutores. É preciso multiplicar por três o número de pesquisadores para o Brasil atingir patamares semelhantes ao da Espanha, por exemplo”, afirmou.
Brito Cruz destacou também o desafio de apoiar a ciência fundamental. Segundo ele, o mundo vive um momento excessivamente utilitarista e há uma pressão para que as pesquisas sirvam para fazer as empresas mais competitivas, curar doentes ou gerar riquezas. No entanto, é preciso valorizar a ciência que tem a função de tornar a humanidade mais sábia.
“Não se pode privilegiar uma vertente. É preciso ter as duas coisas. A FAPESP tem uma excelente experiência nesse sentido, oferecendo formas de apoio voltadas para projetos ousados que necessitam de cinco anos ou mais para serem realizados. A ciência básica, por não ser utilitarista, eventualmente pode precisar de prazos mais longos, especialmente em certas áreas”, explicou.
Brito Cruz defendeu que a pesquisa básica receba apoio institucional. “Se o Brasil quer ter uma ciência competitiva, as instituições precisam dar ao pesquisador apoio semelhante ao oferecido pelos concorrentes. O cientista deve se preocupar em fazer ciência, não em fazer prestação de contas, ou buscar visitantes no aeroporto”, disse, sob aplausos do auditório lotado.
Pequena influência

“Um desses fatores é que a nossa pesquisa está baseada na pós-graduação. O aluno precisa partir de um projeto, com um fim já em mente e com um prazo imposto para terminar. A pesquisa resultante é muito conservadora, desprovida de inovação”, disse.
Além disso, segundo Pena, outro desafio a ser enfrentado é a pulverização de recursos. “Há uma tentativa de tentar forçar o investimento pulverizado para privilegiar estados com menos recursos. Mas o correto seria investir onde já há excelência, para evoluir mais ainda no conjunto”, defendeu.
Outro desafio a ser enfrentado seria repensar o tipo de demanda feito pelas agências de fomento, que exigem projetos com começo, meio e fim perceptíveis para os avaliadores.
“Chamo isso de demanda criacionista, porque parte do pressuposto de que a ciência tem um design inteligente. A metodologia da ciência não é um desenho, ela ocorre naturalmente, por seleção natural de ideias. Precisamos ser evolucionistas nesse sentido”, disse.
Pena citou o cientista Linus Pauling, que dava a receita para a concepção de boas ideias: ter muitas ideias e jogar fora as ruins. “Para identificar as ideias ruins, é preciso ter experimentação e, para isso, é preciso ter recursos. Na pesquisa de risco, é preciso apostar de vez em quando em ideias inovadoras e não apenas naquilo que já se mostra bom a priori. A solução adequada seria voltar o foco, pelo menos em alguns casos, para a trajetória do pesquisador e não exclusivamente para o projeto”, disse.
Inserção internacional

Para Palis, o maior desafio será multiplicar por três, até 2020, o contingente de pessoal envolvido com ciência, de técnicos de laboratório a doutores. “Temos que acelerar esse processo sem perder qualidade. Isso exigirá um esforço muito grande da comunidade científica e empresarial. Será preciso aumentar os investimentos em ciência para atingir, em dez anos, um patamar de cerca de 2% do PIB”, afirmou.
Segundo Palis, a presença internacional da ciência brasileira aumenta continuamente e o país passou a atuar em instâncias como o G8+5 de Academias de Ciência, o Fórum Internacional de Ciência e Tecnologia para a Sociedade (STS Forum), a Academia de Ciências para o Mundo em Desenvolvimento (TWAS), o International Council for Sciences (ICSJU), a Rede Interamericana de Academias de Ciências (Ianas), o Interacademy Panel e o Interacademy Council.
“Possivelmente, em 2013 também estaremos no Fórum Mundial de Ciências. A cooperação internacional é vital para o nosso avanço científico”, disse.

“O grande desafio é fazer um redesenho institucional e conceitual do sistema de pesquisa. Do lado conceitual, o foco não deve ser mais as disciplinas. Do lado institucional, é preciso repensar os departamentos que formam as universidades e, hoje, estão em sua maior parte obsoletos, formando barreiras à interdisciplinaridade”, disse.
Segundo Andrade, a agenda do século 21 envolve a sustentabilidade e a inovação, em um contexto no qual os sistemas de energia, água, meio ambiente e alimentos estão integrados.
“Essa agenda implica uma visão sistêmica e conectada entre ciência básica e tecnológica. Nessa agenda, é preciso educar para inovar e inovar para educar”, defendeu.