Os novos Membros Afiliados do Rio de Janeiro, indicados e selecionados em 2009, tiveram sua Cerimônia de Titulação e apresentação durante o evento Avanços e Perspectivas da Ciência na América Latina e Caribe 2009. A entrega dos diplomas ao engenheiro de software Alessandro Fabrício Garcia, da PUC; aos matemáticos do IMPA Carolina Bhering de Araujo e Fernando Codá Marques; ao biólogo da Fiocruz e UERJ, Milton Moraes; e ao bioquímico da UFRJ Robson de Queiroz Monteiro ocorreu no dia 30/11, com a presença de familiares e diversos Acadêmicos, inclusive o presidente da Capes, Jorge Almeida Guimarães. Os diplomas foram entregues pelo presidente da ABC Jacob Palis e pela vice-presidente regional da ABC para o Rio de Janeiro, Elisa Reis.


Fernando Codá, Carolina Araujo, Jacob Palis, Elisa Reis,
Robson Monteiro, Alessandro Garcia e Milton Ozório

Desenvolvendo software no Brasil

Alessandro Fabricio Garcia cresceu no Paraná, em Maringá, no seio de uma família católica. Com poucos recursos, os pais direcionaram seus investimentos para o pequeno Alessandro e sua irmã, Andresa. Segundo palavras de Alessandro, “assim como outras famílias brasileiras, eles investiram tudo em mim e minha irmã. A vontade deles era que eu fosse médico, porque achavam que esta profissão renderia melhor financeiramente”.

Mas foi para a carreira acadêmica em Computação que Alessandro se direcionou. Desde pequeno ele simulava nas suas brincadeiras o ambiente acadêmico, alternando os papéis de professor, pesquisador e aluno. “Eu gostava do ambiente escolar em geral”, explica, “sempre estudei muito”. Não foi surpresa que, após graduar-se em Ciência da Computação na Universidade Estadual de Maringá (UEM), Alessandro seguisse para o mestrado e obtivesse o diploma na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), na mesma área de estudo.

Rumou em seguida para o Rio de Janeiro, onde foi aceito como doutorando e pesquisador associado ao Laboratório de Engenharia de Software (LES) da Pontifícia Universidade Católica (PUC). Durante o doutorado, atuou também como pesquisador visitante em várias instituições internacionais, tais como University of Waterloo (Canadá), University of Newcastle (Inglaterra) e IBM Almaden Research Center (Estados Unidos). Concluiu seu doutorado em Informática no ano de 2004, e permaneceu por mais um ano na PUC. Foi um período muito especial na vida de Alessandro, que hoje pode afirmar que “embora meu sotaque não seja de carioca, me considero um”. A seguir, declara-se para a cidade: “amo o Rio de Janeiro”.

Foi então que Garcia alçou vôos mais altos e chegou em Lancaster, no extremo norte da Inglaterra, onde atuou como professor assistente na universidade local à partir de 2005. Por quatro anos, ele ganhou e espalhou prestígio pelo mundo, tais como a nomeação de pesquisador do ano da Lancaster University. Porém, as saudades da família e da terra natal fizeram-no voltar. As palavras de Alessandro reconhecem a dedicação e o carinho dos pais: “eu tinha essa dívida com eles”. De fato, eles continuavam em Maringá, junto com a irmã, profissional na área de Química, e Alessandro esperava revê-los em breve. Ademais, apesar do sucesso no trabalho, aspecto que sempre privilegiou, Alessandro sentia sua vida desequilibrada com a falta do calor brasileiro. “As pessoas lá são mais fechadas e não é trivial fazer amigos. Embora no trabalho estivesse tudo excelente, outros setores da minha vida careciam de mais atenção”, contou Garcia.

O pesquisador, no entanto, estava reticente com a ausência de perspectivas no Brasil. “Meu medo era a falta de incentivo significativo, desde a ordem financeira até em termos de reconhecimento acadêmico”. Palavras desfeitas ainda no primeiro ano de atuação no país. “Só nesse ano obtive financiamentos da Capes, CNPq, Faperj e PUC. Então, em todos os níveis, desde o Estadual, Federal e da própria PUC, que é minha instituição do coração, tenho recebido incentivos.” Por isso, ele pode decretar, categoricamente: “é possível a pesquisa de qualidade no país”. O discurso corresponde aos fatos: atualmente trabalha na PUC, como professor assistente do Departamento de Informática, onde desenvolve pesquisa na área de Ciência da Computação, com ênfase em Engenharia de Software.

Esse setor, explica Alessandro, tem por objetivo prover técnicas, métodos e ferramentas para a construção e evolução de sistemas confiáveis de software. Hoje em dia, sistemas de software são usados em praticamente todos os ramos da sociedade. Desta forma, o setor tem o benefício de já ser bem conhecido pelo grande público, em especial pelos jovens usuários da Internet. O próprio Alessandro concorda que a área “é mais tangível para eles. Você fala software, eles já têm uma idéia razoável do que seja”.

De fato, os softwares têm se expandido cada vez mais para além dos computadores pessoais, atingindo os celulares e outros dispositivos móveis, por exemplo. O Brasil tem crescido na área de desenvolvimento de software, atraindo a formação de novas empresas que frequentemente surgem nas próprias universidades. Alessandro atesta: “Na PUC mesmo temos várias empresas incubadas que tratam do desenvolvimento e manutenção de sistemas complexos de software, tais como sistemas embarcados para a Petrobrás”.

Alessandro Fabrício Garcia foi indicado para a Academia Brasileira de Ciências por Carlos José Pereira de Lucena, seu orientador de doutorado e Membro Titular da Academia, a quem Alessandro não hesita em chamar de “meu pai acadêmico”. O novo integrante afirma que “a indicação pra ABC talvez tenha sido o principal incentivo nesse meu retorno.

Desvendando os espaços multidimensionais

O gosto de Carolina Bhering de Araujo pela academia começou cedo. Ela mesma afirma que “gostava muito de brincar de professora, dava aula no quadro pra minha irmã, preparava livrinhos… dava pra ver que já tinha uma tendência”. Mas o fascínio pela Matemática só começou mais tarde. Ela não tinha conhecimento sobre a possibilidade de carreira acadêmica antes da faculdade, não pensava em Matemática por falta de informação. Confessa, contudo, que ainda no colégio, “tinha uma certa paixão” pela disciplina.

Tendo ingressado para o curso de Engenharia na PUC-Rio, influenciada por sua família, na maioria, de engenheiros, ela cursou o ciclo básico do Centro Técnico-Científico (CTC). Foi estudando Matemática básica que ela sentiu atração pela matéria. Já no seu primeiro ano de faculdade, fez iniciação científica. E não parou por aí: “No segundo ano comecei a fazer as matérias mais avançadas e aí ficou claro pra mim que era o que eu queria mesmo, não tinha a menor dúvida”. A convicção não contrariou a família de engenheiros: “eles sempre foram muito abertos e ficaram contentes com minha escolha”.

Carolina, hoje, apesar da pouca idade – 33 anos -, é Doutora em Matemática pela Princeton University, cursou pós-doutorado no Mathematical Sciences Research Institute (MSRI), em Berkeley, durante o semestre especial em Geometria Algébrica. Percebe-se claramente seu entusiasmo quando explica seu encanto pela Matemática: “é você entender com profundidade, e não decorar uma fórmula, entender o que faz aquilo funcionar, a estrutura que está na geometria, na álgebra, essa estrutura é que é a Matemática, e quando você consegue entendê-la, tratá-la, é uma coisa muito prazerosa”.

E ela tem se dedicado à descoberta de novas estruturas na área da geometria algébrica: “de uma maneira muito, muito superficial, trabalho com espaços curvos, multidimensionais, e tento desvendar uma estrutura lógica, formal, naquele espaço. Quando você descobre a estrutura você obtém uma maneira super eficiente de estudar as propriedades desse espaço, por exemplo, saber porque eles se curvam em determinados pontos ou quais os tipos de trajetória possíveis”. Continua explicando que ela não vê os objetos, “mas os entendo, é como se eu desenvolvesse uma outra maneira de ver. A estrutura te permite formalizar a curvatura, mesmo sem vê-la. Você desenvolve uma intuição multidimensional, mas é a formalização matemática que te permite pensá-la.”

Inquirida sobre a interferência do trabalho na vida pessoal, ela afirmou que “como é um trabalho intelectual, o problema com o qual estou trabalhando fica na minha cabeça e eu não o esqueço. Mas dá pra adaptar isso a minha vida”. Considera que leva uma “vida normal; que dá pra conciliar o trabalho e o lazer.” Atualmente é pesquisadora da Associação Instituto Nacional de Matemática Pura (“super pura”, segundo ela) e Aplicada. É orientadora de doutorado, recebeu o Prêmio LOreal-Unesco-ABC para Mulheres na Ciência em 2008 e ganhou a bolsa Jovem Cientista do Nosso Estado da Faperj.

Carolina diversificou muito as aplicações dos recursos obtidos: “usei os recursos para a aquisição de livros, para financiar parcialmente meu pós-doutorado, participei de conferências, levando alguns alunos, trouxe pesquisadores visitantes pra cá…”, continuou esclarecendo que “o importante é se manter atualizado, porque a Matemática está muito rápida”. Também tem buscado incentivar os jovens através de palestras, algo com o que ela revela ter se preocupado bastante. Tenta demonstrar que a falta de interesse na Matemática se deve a um método que ensina mais a decorar do que a entender e perceber a natureza fenomênica da disciplina. Ela explica: “a maioria olha para a fórmula e não para o conceito, não pensam o porquê de a formula funcionar”.

Sobre o ingresso na Academia Brasileira de Ciências, Carolina Araújo entusiasma-se: “pra mim é uma grandíssima honra”. A honra, Doutora, é toda nossa.

A estética na geometria


Fernando Codá cumprimenta Elisa Reis e é aplaudido por Jacob Palis

Fernando Codá Marques nasceu em São Carlos, no estado de São Paulo. Mas foi em Maceió que cresceu ao lado de seus dois irmãos e seus pais, professores de Engenharia Civil. A carreira dos pais o influenciou bastante. Acompanhava-os nos congressos, ouvia suas discussões. Ele recorda que. “realmente, tinha aquele ambiente de estudo em casa”.

Ele conta que era uma criança muito curiosa. “Gostava de ler, inventar brincadeiras, ensinar…”. Marques revela que sempre gostou da Matemática, mas tinha a idéia de outra área para atuar profissionalmente: “quando adolescente, eu queria ser físico”. Mas o pai o aconselhou: “ele me convenceu a ser engenheiro, dizia que poderia fazer pós em Física, mas que esse percurso começando pela Engenharia era mais garantido profissionalmente”.

Independente do caminho, Marques sempre demonstrou competência. Assim que entrou para a faculdade de Engenharia Civil ganhou uma bolsa de iniciação cientifica. Seu orientador era o matemático Hilário Alencar, membro da Academia Brasileira de Ciências. Sem dúvida, seu orientador o influenciou nos rumos seguintes, pois Fernando reconhece: “na universidade me encantei definitivamente por Matemática”. Veio para o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) no Rio de Janeiro para fazer o mestrado e começar a faculdade de Matemática. Surpreende sua pouca idade – 30 anos – mas ele explica: “ao mesmo tempo em que estava terminando o mestrado, eu terminei a graduação”. Fez doutorado na Cornell University e pós-doutorado pela Stanford University.

O que mais gosta na Matemática, segundo ele, é “a estética na Geometria”. Explica em seguida que a Matemática “é toda uma linguagem que a gente aprende com o tempo” e confessa: “é difícil explicar, é realmente muito abstrata”. Marques trabalha com teoria matemática. Suas pesquisas são voltadas para a Geometria Diferencial e Equações Diferenciais Parciais.

Hoje tornou-se membro da Academia Brasileira de Ciências, sendo essa a sua primeira filiação a uma Academia. É professor e orientador de mestrado e doutorado. Sobre seus sentimentos de pertencer à ABC, disse que “é uma honra, espero poder interagir com os outros acadêmicos”. Sua colaboração é muito bem vinda.

Tratamento genético da hanseníase

Milton Ozório Moraes já chamava a atenção em sua infância. Suas brincadeiras não eram apenas os habituais pega-pega e corridas de carrinho de rolimã. Ele conta que sempre teve curiosidade com a natureza: “eu procurava insetos diferentes, coletava amostras, as guardava”. Sua propensão científica já aparecia nos primeiros anos de vida.

Mas como a ciência é uma área bastante abrangente, Milton ainda não tinha encontrado sua vocação. Foi às vésperas do vestibular que ele descobriu com que queria atuar: “ficou muito claro pra mim o interesse por Engenharia Genética”. Graduou-se então em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), obteve o mestrado em Ciências Biológicas (Biofísica) pela mesma universidade e doutorado em Biologia Celular e Molecular pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

A infância se prolongou, de certa forma, para Milton. O que ele gostava na engenharia genética eram, segundo ele, “todos os métodos e teorias por trás da brincadeira de cortar e colar DNA, o que comecei a fazer desde minha iniciação científica”. Efetivamente, ele não perdeu tempo e o contato com os professores e pesquisadores foi um incentivo considerável: “é muito diferente estar num lugar em que se faz e se pensa ciência”.

Milton lembra que no início de seus estudos científicos, no final da década de 80, a ciência brasileira passava por um período de escassos recursos. Mas ele enxerga nesse problema uma vantagem, afinal, “as pessoas dividiam a mesma miséria”. O clima de solidariedade que se criou na classe científica, segundo Milton, “foi bom para perceber a importância e a possibilidade da multidisciplinaridade na colaboração”. Continua, explicando por que a colaboração o entusiasma tanto: “ela desperta uma novidade, traz perguntas novas, uma maneira de olhar diferente”.

Os benefícios da colaboração se refletem em seu próprio percurso: “independente da minha especialização em Infectologia, tenho artigos em Bioquímica, Neurobiologia, Toxicologia… que são frutos dessas colaborações, de amigos que estudaram comigo e me procuraram por saber que eu gosto de novos desafios”. Sem dúvidas, a multidisciplinaridade de seu conhecimento contribuiu para inúmeras conquistas: o doutorado em Biologia Celular e Molecular pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o pós-doutorado no Leiden Medical Centre, na Holanda. Atualmente é pesquisador associado da Fiocruz e professor adjunto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Nas suas pesquisas de hanseníase, ele não considera mais que o objetivo seja a descoberta de uma vacina. Ele justifica: “no momento do boom da genética, as pessoas estavam fascinadas com a vacina da hepatite B recombinante, que consistia em pegar um trecho do seu genoma, colocar dentro de uma bactéria que produzia uma proteína, que era então purificada. Essa proteína é injetada nas pessoas e protege contra a hepatite B, o que é uma coisa sensacional. Nesse momento se imaginou que com todas as demais doenças se poderia fazer dessa forma, mas não funcionou”. Daí a descrença em se poder conseguir uma vacina para a hanseníase e outras doenças causadas por microorganismos complexos. Mas Milton não se abate: “talvez se possa chegar a uma vacina melhor, porém indiretamente”.

Eis seu raciocínio: “meu estudo da genética das doenças infecciosas é tentar saber porque algumas pessoas ficam doentes e outras não. Por exemplo, percebeu-se que 99% das pessoas que têm contato com a bactéria da hanseníase não ficam doentes. Então, se a gente consegue identificar quais são os componentes genéticos desse grupo de pessoas suscetíveis, eu poderiatentar desenvolveruma vacina que possa reforçar a ativação dessa via específica, mesmo em indivíduos suscetíveis podendo levar a proteção”. Há avanços na área: “temos várias colaborações com vários grupos do Brasil de norte a sul e também com times no Canadá, na França, na Holanda, Estados Unidos, Índia e Moçambique…”

Em seguida, Milton Moraes explicou que a genômica é interdisciplinar por natureza. Seria impossível acompanhar os avanços em todas as áreas. Nesse aspecto, Moraes não tem do que reclamar: “meu grupo tem biólogos, engenheiros biomédicos, farmacêuticos, médicos, entre outros profissionais da área de saúde …”. Suas orientações de mestrado e doutorado são uma forma de ele multiplicar a multidisciplinaridade que lhe é tão peculiar: “o que me agrada é ter formado colegas que, assim como eu, são híbridos”.
As pesquisas e orientações não são as únicas atividades de Moraes. Outro projeto é desenvolver métodos de ensino que revelem aos jovens estudantes o interesse científico: “nosso objetivo é criar práticas pra que os professores de ensino médio as levem pras aulas: a gente purifica DNA com utensílios e “reagentes” de cozinha (como sal, alcool e detergente) e constrói equipamentos como centrífugas e microscópios com materiais de baixíssimo custo.”

Além disso, Moraes ainda desenvolveu uma história em quadrinhos pra alunos do ensino fundamental sobre imunologia e hanseníase e o jogo do genoma, frutos de dissertações e teses orientadas na Fiocruz. Também coordena, juntamente com um grupo de colegas da UFRJ, o Bioletim, uma revista de divulgação científica escrita especialmente por estudantes de biologia e graduação.

Aos 38 anos, Milton Moraes é mais um afiliado da Academia Brasileira de Ciências. “Fui pego de surpresa”, confessa, a respeito da nomeação. Finalmente, ele espera poder promover diversos eventos, agora com a chancela da ABC.

Câncer e coagulação sanguínea: tem a ver?

A infância e a família de Robson de Queiroz Monteiro (ao lado na foto com Jorge Guimarães) influenciaram muito seu desenvolvimento. Com nostalgia, Robson lembra: “minha infância era com meus irmãos, muito próximos porque tínhamos quase a mesma idade”. Apesar das brincadeiras ele diz que “a recordação mais remota que tenho é lendo”, e brinca: “parece coisa de cientista, mas é verdade”.

Os livros comprados pelo pai, que iam desde romances até artigos científicos, área em que trabalhava, permitiram-lhe o contato desde muito cedo com a ciência. Ademais, tendo se formado, mais tarde, em Biologia, costumava levar os filhos para todas as discussões e trabalhos de campo. A influência do pai levou Robson a ficar dividido entre a Biologia e algo mais próximo da área médica quando teve que optar por uma faculdade. “Resultado final: acabei fazendo Farmácia”. Ele escolheu a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mas a carreira não era uma convicção. Foram as idas ao laboratório de Bioquímica Farmacológica e o contato com as pesquisas desenvolvidas pelos Acadêmicos Jorge Guimarães e Célia Carlini com toxinas e venenos que o fizeram identificar-se com a biouímica. Ele confirma: “tive certeza que realmente queria fazer algo específico quando descobri essa área, tinha tudo a ver comigo”.

A carreira acadêmica sempre fora uma certeza para ele, ainda mais porque seu pai também a seguira, e percebe: “minha carreira sempre foi calcada no que ele fazia”. Porém, trabalhando no laboratório, percebeu que a docência não excluía a pesquisa. Assim, sob orientação de Lina Zingali, obteve o doutorado em Química Biológica pela UFRJ, onde atualmente é professor adjunto. No entanto, passou para o outro lado: “hoje, me considero mais um pesquisador”, apesar de não gostar da dicotomia. Tem experiência na área de Bioquímica, com ênfase em reações da coagulação sanguínea. Um de seus principais focos de pesquisa visa o estudo do papel das proteínas da coagulação sanguínea na biologia tumoral.

Sua pesquisa teve como partida um desafio lançado pela Acadêmica Vivian Rumjanek, que trabalhava na área de câncer e lhe pediu para descobrir o que poderia fazer para colaborar. Robson não decepcionou: “descobri que existe forte correlação entre a doença da neoplasia maligna, que é um câncer, e alterações desse processo, que controla a coagulação sanguínea”.

Revela-nos em seguida as origens de sua pesquisa: “no séc. XIX um médico descobriu que pessoas que tinham distúrbios pró-trombóticos, ou seja, obstruções dos vasos de forma patológica, poderiam ter um prognóstico de câncer posteriormente”. A contribuição de Robson Monteiro foi perceber que o contrário também é verdadeiro: “se detivermos a coagulação sanguínea, talvez possamos tratar o câncer. Através do uso de moléculas anticoagulantes, seria possível conter a atividade de coagulação e amenizar a agressividade dos tumores”.

Quando perguntado sobre o que lhe move na ciência, não hesita: “revelar um novo conhecimento é a principal força motriz dessa pesquisa”. Humildemente, acrescenta: “se não puder ajudar a sociedade, que pelo menos ajude outro pesquisador mais talentoso a fazê-lo”. Revela em seguida o que mais o encanta na profissão: “é fazer essa translação; bloquear um sistema que aparentemente não tem nenhuma correlação com o câncer pra reverter esta patologia”.

Robson de Queiroz Monteiro foi indicado para a Academia Brasileira de Ciências pelo professor Sérgio Teixeira Ferreira, que compartilha com ele o mesmo programa dentro do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ e agora compartilhará o prestígio de pertencer à Academia. Robson agradece ao professor e tenta destacar os motivos para Ferreira indicá-lo: “acho que ele viu que tinha alguma coisa interessante, que teria um potencial nas minhas pesquisas, fiquei muito honrado e espero contribuir no futuro”. Conclui afirmando que pertencer à Academia “dá um gás, sem dúvida nenhuma”. Que a energia de sua juventude venha consolidar a presença crescente dos Afiliados na ABC.