
Participaram da reunião os Acadêmicos Bertha Becker (UFRJ), Débora Foguel (UFRJ), Diogenes de Almeida Campos (DNPM), Eloi de Souza Garcia (Fiocruz), Jean Pierre von der Weid (PUC-Rio), Jerson Lima Silva (Faperj/UFRJ), João Alziro Herz da Jornada (Inmetro), José Roberto Boisson de Marca (PUC-Rio), Luiz Pinguelli Rosa (Coppe/UFRJ), Marcelo Viana (IMPA), Moysés Nussenzveig (Copea/UFRJ), Pedro Leite da Silva Dias (LNCC), Ricardo Gattass (FINEP), Vivaldo Moura Neto (UFRJ) e Wanderley de Souza (Inmetro/UFRJ).
Jacob Palis, Luiz Antonio Elias, Luiz Davidovich, Jerson Lima Silva
Política de C,T&I precisa ter continuidade garantida
Para Davidovich, o fato de ter “pegado o bonde no meio do caminho” tem vantagens – ele encontrou o caminho “parcialmente pavimentado”, com o trabalho prévio do Acadêmico Carlos Alberto Aragão – que deixou o encargo da CNCTI para assumir a presidência do CNPq – e as equipes do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) e do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE). “Por outro lado, estamos bem próximos da data da Conferência e há muito trabalho a fazer”. E a responsabilidade é grande. Segundo Davidovich, esse é um ano importante, de transição eleitoral. “É fundamental afirmar a CT&I como política de Estado, que não deve sofrer interrupções devido à sucessão de governos.”
Para estruturar a Conferência, Davidovich está conversando com vários interlocutores de setores diversos da economia. “Já tive reuniões com os Secretários Regionais de C&T, terei ainda com a Associação Nacional de Ensino Superior (Andifes) e com a Confederação Nacional das Indústrias (CNI), por exemplo, além de outras entidades envolvidas nas Conferências Regionais. É muito importante que todos dêem sua contribuição para o evento.”
Vôo sustentável
O físico identifica claramente o momento de protagonismo do Brasil no cenário internacional. Para que essa posição se consolide, porém, são necessárias ações que promovam o desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil para um novo patamar e que, nas palavras de Davidovich, ajudem a confirmar as previsões de que esse bloco que está sendo chamado de BASIC – Brasil, África do Sul, Índia e China – tenha o Brasil como componente atuante através de sua ciência, suas empresas, suas universidades. “Estamos trabalhando para que o Brasil se fortaleça nesse bloco nos próximos anos e, para tanto, temos que criar as bases que possibilitem esse crescimento de forma sustentável.”

Alavancas estratégicas para o desenvolvimento
O objetivo da reunião na ABC, assim como nas outras citadas, foi levantar propostas para a 4ª CNCTI. “Devemos focalizar uma lista mais reduzida de temas para que tenham impacto no futuro”, informou o diretor da ABC. Foi enfatizada a necessidade de institucionalização do sistema, de forma a tornar a estrutura de C,T&I mais estável, independente de mudanças de Governo. Foi destacada também a necessidade de alavancas visíveis, como foi num determinado momento da história do país o forte movimento nacional formado em torno do petróleo e a consequente criação da Petrobras, com grande investimento em pesquisa nessa área.
A Embrapa é outro grande caso de sucesso, assim como a Embraer. “São políticas de longo prazo, que exigem tempo para serem consolidadas, que requerem um planejamento estratégico, tanto para se formar recursos humanos como para incentivar o aparecimento de empresas”. No caso da Embraer, por exemplo, Davidovich lembra que foi necessária a criação do Instituto Tecnológico da Aeronáutico (ITA) para formar pessoal. “Essas foram iniciativas que alavancaram as políticas de C&T como políticas de Estado para o desenvolvimento do país. Precisamos agora de compromissos claros nessa nova etapa que estamos vivendo”, reforçou Davidovich.
Temas fundamentais: Amazônia, Educação e mercado de trabalho
Na reunião com os Acadêmicos foram destacados dois temas fundamentais – a Amazônia e a Educação, tanto a básica quanto especificamente em Ciência. A Amazônia é um grande desafio e o Brasil, evidentemente, está numa posição privilegiada para dar conta deste desafio. E os problemas que temos na Educação são um grande obstáculo ao desenvolvimento científico e tecnológico do país.
Foi levantada também a questão do mercado de trabalho. “Como fazer as empresas contratarem pessoal qualificado para pesquisa e desenvolvimento, qual o incentivo que deve ser dado a elas”? De acordo com Davidovich, os movimentos realizados nesse sentido ainda são recentes e raros. A Lei de Inovação é de 2004 e a adesão das empresas ainda é pequena, muito em função dos marcos legais. “Para a inovação decolar, é preciso focar os marcos legais, que não favorecem o desenvolvimento tecnológico do país. Temos o caso evidente das universidades, por exemplo, que têm dificuldades enormes para administrarem a si próprias, em virtude do não reconhecimento, por parte dos marcos legais, das peculiaridades do sistema de pesquisa, de desenvolvimento tecnológico e da inovação.”
Na avaliação de Davidovich, o encontro na ABC produziu uma discussão extremamente rica, com contribuições de eminentes cientistas, acostumados em lidar com essas questões, que têm experiência em vários temas relevantes para a Conferência. “Ouvi ótimas idéias que certamente serão aproveitadas”, concluiu o cientista. Nossos cumprimentos e votos de boa sorte.
