O Colóquio de Matemática e Física do Ano da França no Brasil foi encerrado em 16/9 com palestras de cientistas de fronteira em ambas as áreas. O membro correspondente da ABC Jean-Christophe Yoccoz, ganhador da Medalha Fields de 1994, foi apresentado como um grande amigo do Brasil. O matemático lembrou que sua primeira visita ao país foi em 1981 e estima que já tenha passado cerca de cinco anos no Brasil, somando todas suas visitas.

Cientificamente, o cientista começou lembrando o problema do fluxo linear em um toro, onde a distinção entre movimentos periódicos e quase-periódicos é bem conhecida. Apresentou em seguida o problema de bilhares com contornos poligonais com ângulos racionais. Em especial, se concentrou no exemplo de bilhares em forma da letra L.

Yoccoz mostrou como esses exemplos levam a situações semelhantes à do toro, mas em superfícies com gênero maior e com singularidades. Discutiu alguns conceitos técnicos ligados à dinâmica destes sistemas e apresentou alguns teoremas recentes. Ainda assim, apontou que ainda há questões aparentemente simples sem resposta conclusiva, como se o fluxo em bilhares triangulares gerais é ou não ergódico.

O Acadêmico Ricardo Galvão, diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), apresentou um pouco da história e das perspectivas das pesquisas em reatores nucleares tipo Tokamak no Brasil. Lembrou inicialmente que um dos trabalhos seminais de Bohm e Pines foi publicado no período em que David Bohm foi professor da USP.

Em 1981, a USP recebeu seu primeiro Tokamak, de pequeno porte. Uma das principais questões colocadas por Galvão é se ainda faz sentido fazer pesquisa em aparelhos de pequeno porte, quando colaborações internacionais já constroem aparelhos muito maiores. Para responder afirmativamente, apontou alguns resultados sobre aquecimento através da absorção de ondas de Alfvén. Também discutiu outros efeitos de turbulência e fluxos locais. Já na fase de questões, o Acad6emico pode apresentar sua opinião sobre a participação brasileira na grande colaboração internacional para a construção do ITER.

A Acadêmica Belita Koiller, física da UFRJ, discutiu a possibilidade de se usar estruturas baseadas em silício como hardware para computação quântica. Inicialmente a Acadêmica apresentou a idéia de computador quântico, as noções básicas de bit e sua versão quântica. Reviu o tradicional experimento de Stern-Gerlach como um exemplo de bit quântico.

Koiller tratou a seguir da proposta de computação em estruturas de silicone com impurezas de fósforo. Justificou porque estes dopantes podem ser entendidos como átomos hidrogenóides. Em seguida, apresentou um trabalho seu que inclui o fato destes “átomos” estarem em uma estrutura cristalina, o que dificulta muito sua utilização para o processamento de informação. Para encerrar, a Acadêmica comentou uma nova proposta, com arranjo de cavidades dopadas, onde há a possibilidade de desenvolver dispositivos.

O Acadêmico Carlos Escobar apresentou a pesquisa em Raios Cósmicos como uma tarefa árdua, mas possível. Apresentou alguns dados sobre a concentração de raios cósmicos de campos magnéticos. Comentou que este é um dos ramos da ciência que mais vezes teve sua morte anunciada e que renasceu todas as vezes. O novo renascimento está relacionado à colaboração Auger.

Pierre Auger, cientista francês responsável pela compreensão dos chamados chuveiros atmosféricos, foi também um dos primeiros defensores da criação de redes internacionais de pesquisa. Este observatório, com detectores cobrindo uma área de 3.000 km2, tem trazido novos dados que reforçam agora a questão sobre as possíveis origens destas partículas extremamente energéticas, e provavelmente criadas fora de nossa galáxia.


Jean Claude Pecker, Ricardo Galvão, Jean-Cristophe Yoccoz, Belita Koiller,
Carlos Escobar, Nicolau Saldanha (chair), Cid Araújo e Alfredo Osório (chair)

Durante a última sessao da tarde, a coletânea de apresentações passou pelo problema dos raios cósmicos, óptica não linear e finalmente astronomia, com o astro maior: o Sol.

O Acadêmico Cid B. de Araujo apresentou um resumo das atividades de pesquisa em óptica não linear e sobre as propriedades dos sistemas compostos por nanopartículas metálicas, que adquirirem propriedades especiais quando interagem com a luz. O interesse deste tema remonta aos tempos antigos, quando vitrais de catedrais foram construídos utilizando nanoparticulas metálicas embebidas em vidros, dando a eles uma diversidade de cores que sobrevivem até os dias atuais. Experimentos demonstram as chamadas ressonâncias de plasmas nestes sistema, problemas de espalhamento múltiplo de luz, dentre outros. As muitas aplicações deste sistema foram apresentadas, mostrando se tratar de um tema de abrangência multidiciplinar. Ainda dentro do tema foram apresentadas as técnicas modernas de investigação das propriedades ópticas não lineares de diversos sistemas compostos com moleculares de interesse biológico, dentre outros.

Finalmente, o astrofísico Jean Claude Pecker, do Collège de France, falou sobre a glória do Sol. Iniciando com aspectos poéticos sobre o astro, lembrou passagens de Os Lusíadas, que se referem à veneração dos escritores pela beleza do astro. Também diversos pintores famosos foram lembrados pela sua apreciaçao do Sol. Durante a parte cientifica da apresentação, o tema da composição química do astro, sua distribuição e alterações ocorridas com o tempo foram salientadas.

Sendo a estrela mais próxima da humanidade, espera-se que obtenhamos um maior conhecimento sobre ela, que ainda não foi atingido. Pecker lembrou as dificuldades para investigar a composição química do Sol e salientou a importância deste conhecimento. Finalmente, foram discutidos aspectos estruturais e variações em temperatura e composição que o astro sofreu ao longo do tempo.

O encerramento do encontro foi realizado pelo presidente da Academia Brasileira de Ciências, Prof. Jacob Palis e os representantes franceses Guy Laval e Jean-ChristopheYoccoz. Aspectos da qualidade do evento e a importância de oportunidades como essa para o fortalecimento da colaboração científica Brasil-França.foram destacadas. O evento foi encerrado com cumprimentos de ambas as partes.


Serge Haroche e Jean-Christophe Yoccoz (coordenadores do lado francês);
Jacob Palis e Guy Laval (presidentes das Academias de Ciências);
Marcelo Viana e Luiz Davidovich (coordenadores do lado brasileiro)