Em abril de 1909, Carlos Chagas (1878-1934), pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) e membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), comunicou ao mundo científico a descoberta de uma nova doença humana. No ano anterior, Chagas já havia sido capaz de identificar seu agente causal – o protozoário que denominou de Trypanosoma cruzi, em homenagem a Oswaldo Cruz – e o inseto transmissor, conhecido como barbeiro. A “tripla descoberta” de Chagas, considerada única na história da medicina, constitui um marco na história da ciência e da saúde brasileiras.
O Simpósio Internacional organizado pela Fiocruz no Rio de Janeiro, que ocorrerá entre os dias 8 e 10 de julho, visa marcar o centenário da descoberta da Doença de Chagas e conta com a participação de especialistas nacionais e estrangeiros, que apresentarão trabalhos científicos inéditos e debaterão temas relevantes, visando contribuir para o conhecimento da doença e suas formas de prevenção.
A programação abrange palestras de diversos Acadêmicos. Antoniana Krettli explicará como antecipar a avaliação de cura de pacientes tratados na fase crônica usando sorologia; Bianca Zingales, da USP, falará sobre a Epidemiologia Molecular da Doença de Chagas no Brasil; Erney Camargo proferirá a palestra Vacinas: Abordagens Promissoras; George Alexandre dos Reis falará sobre a importância da apoptose na regulação imunilógica na Doença de Chagas; José Rodrigues Coura tratará da situação atual da epidemiologia e controle da doença de Chagas no Brasil; Ricardo Gazzinelli discorrerá sobre a resposta inata na infecção por T. Cruzi; Sérgio Pena tratará da Diversidade genômica em T. Cruzi; Wanderley de Souza falará da organização estrutural do Trypanosoma Cruzi.
Também serão discutidas novas terapias e medicamentos para a doença. Sobre este tema, James McKerrow (Universidade da Califórnia) apresenta conferência sobre novas drogas para doença de Chagas, enquanto Rick Tarleton (Universidade Wake Forest) debate cura e resistência à infecção associadas a medicamentos. Win Degrave (Fiocruz) apresenta a palestra Vias Metabólicas e Potenciais Alvos para Drogas. O presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, fará a conferência que abre o simpósio.
O evento será encerrado na tarde de sexta-feira (10/7), com uma conferência do diretor do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde da Fiocruz (CDTS) e ex-diretor do Programa de Doenças Tropicais/OMS, o Acadêmico Carlos Médici Morel, intitulada Políticas de saúde de países em desenvolvimento: qual o papel da ciência, tecnologia e inovação?, com coordenação do secretário de Ciência e Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Reinaldo Guimarães.
Doença de Chagas no mundo
A doença de Chagas afeta cerca de 16 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Nas últimas décadas especialistas identificaram a mudança do perfil epidemiológico da doença. Os focos que eram restritos à América Latina, agora avançam em países onde o vetor clássico (barbeiro) não está presente, por vias alternativas (transfusão sanguínea e transplante de órgãos de imigrantes).
Países como Espanha, Suíça, França, Japão, Austrália, Canadá e Estados Unidos, que até então não estavam preparados para identificar pacientes chagásicos, registram casos da doença. No Brasil, estima-se em 2 milhões o número de pacientes crônicos – 600 mil com complicações cardíacas ou digestivas que levam a óbito 5 mil pessoas por ano. Em valores absolutos, o número de brasileiros que morrem por doença de Chagas é similar ao dos que morrem por tuberculose e dez vezes superior às mortes causadas por esquistossomose, malária, hanseníase ou leishmaniose.