João Batista Araújo e Oliveira é graduado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, com mestrado na mesma área pela Tulane University e doutorado em Pesquisa Educacional, pela Florida State University. É presidente do Instituto Alfa e Beto. Em sua palestra no Simpósio sobre Aprendizagem Infantil, ocorrido durante a Reunião Magna da ABC 2009, o especialista defendeu a utilização método fônico sintético para que se tenha melhores resultados na alfabetização.
Ele citou Freinet, pedagogo francês que resgatou, no início do séc.XX, a idéia do método global: a aprendizagem e a leitura são coisas naturais, então, a maneira de apresentar um texto é com palavras, portanto devemos ensinar com palavras. “Na segunda metade do século XX essa metodologia ressurgiu com um novo nome no mundo anglo-saxão, – whole language -, no mundo latino, com o nome de construtivismo.”
Segundo o educador, é da década de 60 em diante que se desenvolvem métodos estatísticos mais rigorosos. Em 1966 é publicado o Relatório Coleman, no qual ficou estabelecido que as características familiares são mais importantes que os fatores escolares em determinar o desempenho escolar. “Ele compara a eficácia de escolas e de diferentes intervenções, jogando uma ducha de água fria em geral na questão escolar, pois afirma que a escola não acrescenta muito àquilo que se trás de casa”. Essa visão foi reforçada por estudos de economistas e sociólogos, e a pesquisa sobre experimentação de métodos em alfabetização continuou sendo desenvolvida por alguns interessados, mas a questão permaneceu viva, porque se as crianças não aprendem a ler direito o custo é enorme em nível individual e para toda a sociedade.
Em 1990, foi feito um estudo recomendado pelo congresso americano, publicado pela professora Marilyn Adams, em que ela revê a literatura produzida desde 1960, com base na psicologia cognitiva e na neurociência. Ela inicia então uma nova etapa de investigação sobre alfabetização, partindo de uma questão muito simples: o que é ler e o que é alfabetizar. “Alfabetizar e ler é exatamente decodificar, aprender a palavra escrita”, destacou João Batista.
A pesquisa de Adams recolocou na discussão metodológica a centralidade da decodificação e mostrou que os estudos relevam a importância da consciência fonológica e fonêmica como fatores associados a fatores fortes de predição do sucesso da alfabetização. “Ela conclui que métodos fônicos, que usam a associação fonema-grafema, quando implementados de maneira sistemática e explicita, são mais eficazes do que os outros”, apontou João Batista.
Como essa conclusão provocou grande polêmica, pois contrariava os princípios do construtivismo, o Departamento de Saúde dos Estados Unidos e a Academia americana fizeram um estudo, publicado no ano 2000 sob o nome de National Reading Report Painel.
“Esse relatório revê 100 mil estudos, descarta a maioria deles por falta de qualidade científica, fica com 68 comparações relevantes e a partir dessas, que incluem milhares de crianças, tira as conclusões que hoje fundamentam, basicamente, o conhecimento que nós temos sobre o tema”, esclarece João Batista. Essa pesquisa reforça a idéia de que os métodos fônicos são mais eficazes do que os outros e se aprofunda no tema, avaliando as variações destes métodos. “De modo geral, ficou comprovado que esses métodos funcionam melhor para os que têm mais dificuldade, ajudam a desenvolver competência de compreensão, ajuda na aprendizagem da ortografia e são mais impactantes para as crianças de nível econômico mais baixo.”
A conclusão do relatório, segundo João Batista, é o atual paradigma científico, o ponto de referência. “Os fatos apresentados devem persuadir os educadores e o público de que o ensino sistemático através do método fônico é uma parte fundamental do processo de alfabetização”. Esses estudos foram contestados e a maioria dessas contestações foi respondida em dois estudos importantes. Um deles afirma que não basta apenas usar qualquer método fônico, o melhor é o fônico sintético, que apresenta as relações de fonema e grafema de forma sistemática e explícita. “Isso é mostrado em função de vários indicadores, do resultado do desempenho de crianças em diferentes tipos de teste, que não apenas medem a decodificação como a fluência de leitura e a compreensão.”
O método fônico também tem um impacto significativo quando é usado em países como a Alemanha ou a Itália. “Então, não é uma questão de língua”, ressalta João Batista. Ele explica que crianças de países diferentes têm dificuldades ortográficas diferentes, dado que a complexidade ortográfica de cada língua é diferente – algumas são mais difíceis e levam mais tempo para serem aprendidas. “Ou seja, não tem nada a ver com a compreensão e sim com a questão da decodificação, da capacidade de transcrição de cada sistema fonético”, observa o psicólogo e educador.
O entendimento deste ponto de vista sobre o fenômeno da alfabetização visa uma transformação desses conceitos em política pública, de acordo com João Batista. “É importante hoje termos um conhecimento razoavelmente sólido sobre a questão do método da alfabetização. No Brasil essas questões ainda estão longe de serem entendidas e resolvidas. Se formos examinar as 30 revistas de psicologia cognitiva mais importantes do mundo, só têm quatro brasileiros que publicam nelas sobre alfabetização. Isso mostra que o Brasil freqüenta muito pouco o que há de mais recente e atualizado nessa área. Portanto, é importante que esse trabalho da Academia seja difundido para que se tenha um entendimento melhor dessa questão, trazendo-a para a consideração das autoridades e da comunidade acadêmica”, concluiu João Batista Oliveira.