Coordenada pelo Acadêmico Gilberto Cardoso Alves Velho (Museu Nacional – UFRJ), a mesa-redonda contou com a participação dos pesquisadores Luiz Fernando Duarte (Museu Nacional – UFRJ), Peter Fry (IFCS-UFRJ) e do Acadêmico Ruben George Oliven (UFRGS).

Gilberto Velho colocou de modo geral a problemática fundamental do evolucionismo diante das Ciências Humanas e Sociais, procurando apontar as especificidades destas áreas. Ele mostrou que através da noção de relativismo cultural foi feita uma crítica ao evolucionismo linear, com uma série de implicações – inclusive etnocênctricas e possivelmente até racistas. “A contribuição da Antropologia, especificamente, foi de mostrar que cada cultura, cada sociedade, devia ser entendida em seus próprios termos e que era fundamental refletir sobre as noções de evolução e de progresso”, destacou Velho.

O Acadêmico citou o pensador alemão do final do séc. XIX e início do séc XX, Zimmel, que focou o descompasso entre o que chamava de cultura objetiva – tecnologia, recursos materiais, relações de produção – em contraste com o empobrecimento da cultura subjetiva. Velho destacou a possibilidade de que o diálogo entre as diferentes áreas do conhecimento científico possa não resolver, mas dar uma resposta a essa questão, através de projetos de educação integrados em que as diferentes disciplinas se aproximem umas das outras. “Uma abordagem integrada permite que se lide de um modo mais sistemático e contínuo com esse grande desafio, que coloca em jogo o desenvolvimento da humanidade, não em termos evolucionistas lineares mas em termos do seu potencial de aperfeiçoamento”, concluiu Gilberto Velho.

O Prof. Luiz Fernando Duarte procurou mostrar a importância de se discutir a noção de cultura do ponto de vista antropológico, para que não se caia na armadilha de um biologismo, mesmo que revestido de novas capas, que poderia levar a um empobrecimento muito grande da compreensão do fenômeno humano. Ele deu como exemplo a religião, que é um fenômeno universal mas que não se apresenta do mesmo modo nas diferentes sociedades e culturas, questionando o conceito de religião e lembrando a noção de cosmologia.

O Prof. Peter Fry foi até o próprio texto de Darwin, comparando suas observações com algumas conquistas da Antropologia, retomando o tema do relativismo cultural. Evolução e Antropologia britânica. Como antropólogo, diz que achou fascinante o nome do evento, “luzes da ciência”, e pensou que estas são refratadas pela percepção social de quem as recebe, não iluminam por si só.

Fry conta que os antropólogos evolucionistas descobriram que em algumas sociedades se reconheciam poucas cores. “Na África, onde trabalhei, só havia preto, branco e vermelho”. Pela teoria da evolução, todas as sociedades passavam pelas mesmas etapas evolucionárias, e as que lidavam com mais cores seriam as mais evoluídas e as com menor número de categorias de cor seriam mais primitivas, exemplos vivos do nosso passado. “Mas essa teoria não deu certo quando descobriram que os esquimós viam mais cores do que nós mesmos. Hoje não pensamos assim”.

Fry fez referência a Sir James Fraser, o antropólogo-mor do final do séc. XIX, que dizia que a lenda, o dogma e o ritual cristão são uma versão refinada de um corpo imenso de crenças primitivas e até bárbaras e que o único elemento original do cristianismo é a personalidade de Jesus Cristo. Ou seja, o que era considerado evoluído e refinado tinha origem no primitivo.

O Prof. Ruben Oliven procurou mostrar aproximações e distanciamento entre as Ciências Sociais do evolucionismo e da Biologia. Quando as CS se estabelecem procuram explicar o social pelo social e não pelo psicológico, pelo físico ou por qualquer outro tipo de modelo. Oliven deu como exemplo a visão de Durkheim sobre o suicídio, que seria o ato mais individual que existe, mas ele mostra que na verdade o suicídio pode ser explicado socialmente, que ele é estruturado socialmente. quem se suicida mais, se são homens ou mulheres, jovens ou velhos, se é em tempo de paz ou de guerra, se são católicos, protestantes ou judeus etc.

Por outro lado, Oliven mostrou que existe também um movimento de aproximação das Ciências Sociais e deu o exemplo de Marx, que quis dedicar o primeiro volume do Capital para Darwin que, polidamente, declinou. A idéia de Marx é que assim como Darwin estaria estabelecendo as regras científicas da evolução biológica ele estaria estabelecendo as regras científicas da evolução do capital. “Há um paralelismo nisso, começa a haver um empréstimo de termos, a sobrevivência do mais apto passa da Biologia para o social através de Spencer, a idéia de competição entre as pessoas, a própria ideia do liberalismo”.

Oliven seguiu essa discussão e apontou duas problemáticas. Uma sobre a discussão se a sociedade é só de mercado. Ele procurou mostrar que uma economia pode ser só de mercado mas a sociedade não, pois senão as crianças e os velhos, por exemplo, não sobreviviriam. A segunda questão foi de problemáticas que poderiam ser observadas pelas duas óticas e que não o são. Deu o exemplo de acidentes de carro, que costumam ser causados com mais frequência por pessoas do sexo masculino, com menos de 25 anos. “É só biologia, são só os hormônios que estão pipocando ou a cultura também tem um papel nisso? Qual o papel da cultura e qual o papel da Biologia?” Ele apontou a abordagem de questões dessa ordem como um desafio para o diálogo entre as diversas ciências.