O Acadêmico Roberto Giugliani, médico graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com doutorado em Genética pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e pós-doutorado em Erros Inatos do Metabolismo pelo Guys Hospital de Londres, é o coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Genética Médica Populacional (Inagemp). O projeto conta também com os Acadêmicos Eduardo Enrique Castilla, da Fiocruz, que é o vice-coordenador, e Henrique Krieger, da USP.
A área de estudo em questão, explica o Professor Titular da UFRGS, “é uma seção da Genética que tem como objeto de atenção médica uma população, em vez de uma família, como ocorre na Genética Clínica”. Segundo ele, esta é uma ciência em interface com a saúde pública e que fundamenta ações de saúde preventiva. Atualmente, as pesquisas que existem limitam-se ao estudo de caracteres genéticos normais e é justamente nesse ponto que Giugliani pretende atuar, a partir da análise das doenças genéticas e seus aspectos médicos de diagnóstico, prevenção, tratamento e prognóstico.
Pouco desenvolvida no mundo e ainda inexistente no Brasil, a Genética Médica Populacional (GEMEPO) conjuga a Genética Clínica com as de Populações Humanas, Epidemiológica e Comunitária. Através da capacitação de pós-graduandos, da divulgação nas comunidades afetadas por doenças e de recomendações de ações de saúde preventivas dirigidas as SUS e ao DECIT – órgãos do Ministério da Saúde – o projeto busca encontrar novas metodologias e etiologias para o estudo da genética médica populacional.
Para melhor tratar do assunto foi criado em 2004 o Serviço de Genética Médica no Hospital das Clínicas de Porto Alegre, sede do INCT e um dos centros mais completos nessa área no continente, reconhecido pela Organização Mundial da Saúde como Centro Colaborador para o Desenvolvimento de Serviços de Genética na América Latina. O INCT é composto por cinco instituições associadas – a Fundação Oswaldo Cruz do Rio de Janeiro (Fiocruz/ RJ); a Universidade de São Paulo (USP); a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); a UFRGS e Universidade Federal do Pará (UFPA).
O projeto procura delinear o conceito da Genética Médica Populacional e implementá-lo, por meio da geração de bases teóricas e da aplicação dos conhecimentos nas pesquisas de populações brasileiras com altas freqüências de doenças genéticas e congênitas. Para atingir tais objetivos, o médico, que criou e coordena a Escola Latino-Americana de Genética Humana e Médica, conta que irá, inicialmente, estudar 11 grupos populacionais, distribuídos pelos estados da Bahia, Ceará, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.
Fundador da Sociedade Brasileira de Genética Clínica, Giugliani destaca ainda a importância do projeto para essa área da ciência e faz uma crítica à falta de informações sobre o tema, o que, segundo ele, atrapalha o trabalho dos profissionais. “Com essa proposta, vários isolados populacionais – como o isolado de Monte Santo, na Bahia; de Tabuleiro do Norte, no Ceará; e de São José do Pântano, em Pouso Alegre, Minas Gerais – estão sendo estudados por médicos geneticistas. Porém, eles enfrentam sérias dificuldades na coleta e análise de dados genealógicos em populações, além de o apoio técnico-científico a esses pesquisadores se ver inibido pela ausência de uma literatura médica adequada às suas necessidades”, aponta.
Para o Acadêmico, a criação dos INCTs foi um passo importante para a consolidação de ações como essa, de longo prazo, que visam dar capacidade de planejamento e sustentabilidade aos principais grupos que trabalham em ciência, tecnologia e inovação no país. “Ações desse tipo permitem ao Brasil exercer um papel mais proeminente no cenário internacional da produção do conhecimento”, argumenta.
Giugliani, que é também diretor do Centro Colaborador da Organização Mundial da Saúde, finaliza com uma aposta para a área. “Esta é uma oportunidade singular para desenvolver a Genética Médica Populacional em nosso país que, com o apoio necessário, reunirá condições únicas para ocupar a liderança mundial nessa importante ciência emergente”.