Direcionado para as Ciências da Engenharia e da Computação, o simpósio encerrou a 4ª Conferência Regional para Jovens Cientistas da TWAS ROLAC (TheAcademy of Sciences for the Developing World – Regional Office forLatin América and the Carribean), realizado na ABC no último dia doevento Avanços e Perspectivas da Ciência no Brasil, América Latina e Caribe 2008.
O encontro contou com palestras de quatro engenheiros brasileiros: Alexandre Szklo, Carlos Eduardo Cerri, Karin Breitman e Mário Maróstica Junior, que apresentaram seus trabalhos.
Planejamento energético
Formado em Engenharia Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde concluiu mestrado e doutorado em Planejamento Energético, Alexandre Szklo estuda a análise do risco carbono de empresas selecionadas de petróleo, para integrá-las a um projeto que pretende elaborar.
Sua outra linha de pesquisa atual, que continuará a ser desenvolvida em 2009, pretende avaliar os cenários alternativos de baixa emissão de carbono, que estão relacionados com o plano oficial de longo prazo para o sistema energético brasileiro. A meta do estudo é simular a oferta e a demanda e formular uma análise específica dos casos de refino de petróleo.
Nos últimos cinco anos, o cientista, realizou trabalhos para a Agência Internacional de Energia Atômica das Nações Unidas (ONU), para o Banco Mundial e para o Governo do Reino Unido. O pesquisador, que é revisor de oito periódicos, ganhou o Prêmio Coppe Giulio Massarani, este ano, e recebeu a Menção Honrosa do Prêmio Plínio Cantanhede, em 2006.
A dinâmica de nutrientes no solo e na vegetação
O Acadêmico afiliado Carlos Eduardo Cerri, graduado em Engenharia Agronômica com mestrado em Solos e Nutrição de Plantas pela Universidade de São Paulo (USP), Ph.D. em Ciência Ambiental pela mesma universidade, onde também concluiu dois pós-doutorados é atualmente professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), em Piracicaba, no interior de São Paulo.
Ele estuda a dinâmica de nutrientes no solo e na vegetação com o objetivo de otimizar a produção de plantas que possuem uma utilização interessante, como é o caso dos biocombustíveis. “Nós vamos ao campo, coletamos amostras, fazemos previsões com modelagem e matemática. Utilizamos diversas tecnologias, como o sensoriamento remoto, imagens de satélite e sistemas de informação geográfica. Buscamos combinar todas essas informações para visualizar o funcionamento, não apenas na escala pontual: a pesquisa tem que ser regional e, se possível, global”, enfatiza.
Cerri explica que o seu trabalho abrange diversas regiões do país que têm condições diferentes de solo e clima. “Na região sul e sudeste, o foco são as plantas fornecedoras de matéria prima para a produção de biocombustível. No centro-oeste, o forte é a cultivo de alimentos, enquanto no norte estudamos a dinâmica dos nutrientes no solo, com a meta de compreender os ecossistemas naturais. Outro uso da terra que também pesquisamos é a pastagem, que não tem uma região específica”, complementa.
O cientista garante que não falta financiamento na área. “Existe uma certa competição pelos recursos no setor. As pesquisas sérias, de qualidade, multidisciplinares e plurinstitucionais são sempre beneficiadas”, assegura. Ele considera as perspectivas futuras para o setor excelentes porque, segundo ele, a população despertou para a questão das mudanças climáticas e passou a pressionar o governo. “Todo mundo quer continuar a comer, a dirigir carro e a comprar produtos das indústrias, que necessitam de combustível. Apesar das recentes descobertas de petróleo no Brasil, este é um recurso escasso, que não vai durar para sempre”, adverte.
Cerri ressalta que é necessário estimar e quantificar todas as emissões de gases de efeito estufa que provocam o aquecimento global. “Os biocombustíveis dependem muito do fertilizante nitrogenado, que é produzido através do combustível fóssil. Quando utilizado, parte desse adubo é emitido na forma de óxido nitroso, que é trezentas vezes mais potente que o dióxido de carbono para aquecer a terra”, alerta. Segundo o pesquisador, é importante minimizar o uso desse fertilizante através de fontes orgânicas. “A própria planta, quando é decomposta por microorganismos, libera nutrientes para o solo. Existem técnicas que permitem que não utilizemos todo o adubo de origem mineral, que emite gás poluente”, esclarece.
Para o cientista, a cooperação científica é essencial para a sua área de estudo porque permite que um problema central único seja tratado de diferentes formas. “Cada nação tem as suas próprias condições de clima e de solo e profissionais com formações acadêmicas variadas, o que gera uma diversificação e flexibilidade da pesquisa”, garante o pesquisador, que ganhou o Prêmio Jovem Cientista do Scientific Steering Commitee do Sistema Global de Mudança para a Análise, Pesquisa e Treinamento (Start, nas siglas em inglês), em 2004.
Moldar problemas e construir soluções
Formada em Engenharia Eletrônica pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), com especialização em Mercado de Capitais na Fundação Getúlio Vargas (FGV), mestrado em Engenharia de Sistemas e Computação pela UFRJ e doutorado em Informática pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), a cientista Karin Breitman é atualmente professora e coordenadora da Engenharia da Computação da PUC-Rio e diretora de Publicações da Sociedade Brasileira de Computação (SBC).
A engenheira trabalha em três grandes áreas: a Web Semântica, a Computação Econômica e a Engenharia de Requisitos. “Todos esses setores estão relacionados com o tema da modelagem conceitual, que analisa a forma de moldar um problema e de construir soluções proporcionais e racionais para cada questão”, esclarece. De acordo com a cientista, é notável o aumento de investimentos na área. “O número de veículos de publicação de qualidade internacional demonstram que o setor está em intensa expansão”, evidencia.
Karin considera fundamental mobilizar e conscientizar a sociedade contemporânea sobre a importância da inovação tecnológica e do desenvolvimento da ciência. “É fundamental divulgar para a população o conhecimento que é gerado nas universidades com foco na indústria. A ABC pode auxiliar neste processo”, acrescenta Karin. “Não é claro para o povo brasileiro que o país desenvolve tanta ciência e possui inúmeros resultados que são qualificados internacionalmente”, complementa a cientista que é a Primeira Secretária da International Federation for Information Processing Secretariat(IFIP), na Áustria, e pesquisadora da Nasa Goddard Space Flight Center, nos Estados Unidos.
Produção de compostos biologicamente ativos
O cientista Mário Maróstica Junior, formado em Engenharia de Alimentos pela Unicamp, onde concluiu doutorado e pós-doutorado em Ciência de Alimentos e é hoje professor, trabalha com o processo de produção de compostos biologicamente ativos e estuda como aproveitar o máximo da biodiversidade brasileira.
“Tentamos comprovar se as substâncias derivadas das plantas e frutas do país possuem alguma utilidade para a saúde. Depois, caso o resultado seja positivo, buscamos levar esse material para a indústria, com o objetivo de transformá-lo em valor agregado”, explica.
De acordo com o pesquisador, a biodiversidade do Brasil é enorme e ainda há muito trabalho a ser feito. “Precisamos acelerar para que os outros países não passem a nossa frente e se beneficiem da nossa própria riqueza natural. Sem agilidade, ficaremos para trás, tanto na pesquisa, quanto na parte econômica. Precisamos transformar o estudo e o produto de mercado em um benefício para o próprio país”, ressalta.
Maróstica considera fundamental conhecer o trabalho de outros pesquisadores. “A conferência expande a possibilidade de interface com outros profissionais e outros tipos de pesquisa”, garante. Para o engenheiro, que recebeu o Prêmio Capes de Teses, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), em 2008, o pesquisador que trabalha sozinho está limitado a uma série de técnicas e possibilidades que são inerentes à sua realidade.
Segundo ele, a possibilidade de formar grupos de pesquisa com diversos cientistas envolvidos em áreas distintas do conhecimento é fundamental para o avanço do conhecimento no Brasil. “Uma vez que o cientista tem contato com outros profissionais, a multidisciplinaridade é ampliada. Através da cooperação científica, o pesquisador passa a observar o mesmo problema sob vários ângulos e a sua abordagem se torna mais completa”, finaliza.