
Sim, é possível viver de pesquisa no Brasil. Em tempos de insegurança orçamentária, é cada vez mais crucial lembrarmos que temos um sistema científico pujante e talentos que nos orgulham. A física teórica Carolina Loureiro Benone, nova afiliada da ABC, pesquisa sobre Relatividade Geral e buracos negros, e prova errado todos os dias um comentário que ouviu ainda na escola.
Carolina é natural de Belém do Pará, a caçula de cinco irmãos. Na família, tinha exemplos de médicos, biólogos, advogados, químicos e muitas outras carreiras, mas o que sempre despertou sua atenção foi a matemática. Foi nessa época que o exemplo de um professor de física chamou sua atenção para a área. “Era evidente o quanto ele era apaixonado pela disciplina e o quanto gostava de dar aulas. Levava experimentos, fazia demonstrações e conversava bastante comigo”, conta.
Mas foi de outro professor que veio o comentário desanimador. Ao afirmar que gostaria de seguir carreira na física, a jovem ouviu que não existia pesquisa em física no Brasil e que, se quisesse mesmo perseguir esse sonho, precisaria sair do país. Ele não poderia estar mais equivocado.
Carolina ingressou na graduação em Física da Universidade Federal do Pará (UFPA) em 2008, já decidida em tentar carreira na pesquisa. Logo conheceu o professor Luís Carlos Bassalo Crispino, que fazia pesquisa de ponta – em física e no Brasil. Ele se tornou seu orientador, guiando-a desde a iniciação científica até o doutorado. Desde o início sua pesquisa focou em buracos negros, esses corpos celestes fascinantes, tão densos e pesados que nem a luz consegue escapar de sua gravidade, formados na hora da morte de uma estrela.
Além de Crispino, outra figura importante, que faz questão de mencionar, é o professor Carlos Alberto Ruivo Herdeiro, da Universidade de Aveiro, em Portugal, onde Carolina fez parte de seu doutorado. Além de seus orientadores, destaca também os parceiros no grupo de estudos Grav@Zon – Gravity @ Amazonia, que reúne pesquisadores do Brasil e do mundo, mas sobretudo de instituições amazônicas, para discussões de física teórica. “O grupo teve papel fundamental pois me ofereceu um espaço para discutir ciência, tirar dúvidas e conversar sobre a carreira”, diz.
Após o doutorado, a pesquisadora ainda fez um ano de pós-doutorado antes de ser contratada como professora adjunta de sua alma mater, a UFPA. Na instituição, divide sua atuação entre a pesquisa, a sala de aula e a extensão.
Agora na ABC, Carolina quer chamar para si a responsabilidade de ser um modelo para jovens cientistas. “Pretendo atuar no sentido de contribuir para consolidar a Região Norte do Brasil como um polo de pesquisa, para ampliar a interiorização do conhecimento científico e para reduzir as desigualdades de gênero dentro da ciência”, afirma.
A professora diz que o encanto da ciência está na busca interminável por resposta, que invariavelmente levam a mais perguntas. Em sua área, sempre foi fascinada por entender o universo. “Me encanta perceber como nosso universo é vasto e o quanto ainda não conhecemos”.