
Em sua infância no sítio, de tempos em tempos o pai trazia da cidade ampolas de vacinas para o gado e para as galinhas poedeiras. A vacina vinha em caixas de isopor com gelo e ficava na geladeira de casa até o dia da vacinação, um acontecimento no sítio. “Todos ajudavam, inclusive os vizinhos. E eu ficava curiosa em saber o que tinha de tão especial naquelas gotinhas aplicadas nos animais que os salvavam de doenças”, conta Noemia. E sempre que perguntava a algum adulto, eles sempre respondiam que não sabiam exatamente, mas que as vacinas eram feitas em laboratórios, por cientistas. “Desde esse tempo, então, a ciência já me encantava”, relembra a pesquisadora.
A influência para os estudos de cogumelos ela acha que veio do avô, que dedicou seus últimos 20 anos ao cultivo do shiitake. “Ele dizia que se eu estudasse bastante e com seriedade os cogumelos, um dia eu poderia me tornar uma Doutora”, lembra a neta, contando que essas palavras foram a maior motivação para que ela seguisse a carreira que seguiu.
Desde o início da graduação em Biologia, na Universidade Estadual de Londrina (UEL), Noemia participou de programas de iniciação científica. Nesta época, estudava o cultivo de cogumelo shiitake em diferentes madeiras. Certo dia houve uma grande contaminação das culturas de shiitake e os estudantes observaram um halo de inibição em torno da colônia do fungo. “Imediatamente, me ocorreu a semelhança com o episódio da descoberta da penicilina por Alexander Fleming, o que me levou aos estudos dos compostos antimicrobianos”, conta a professora.
No mestrado em Microbiologia Agrícola na Universidade Federal de Viçosa , ela verificou a ação antimicrobiana dos compostos produzidos pelo shiitake em microrganismos patogênicos. Mas foi durante o Doutorado em Recursos Naturais na Universidade de Hokkaido, no Japão, o momento em que a imagem de cientista idealizada na infância por Noemia se materializou. “Após muitos experimentos, entre tantas vidrarias, reações químicas e idéias frustradas , enfim descobri quatro compostos antimicrobianos inéditos para a ciência, que chamei de Enokipodins A, B, C e D”, arrematou a pesquisadora.
O tema principal de sua pesquisa são os cogumelos, que estuda por três ângulos. Primeiro, a diversidade de cogumelos na Amazônia. “Existem muitas espécies nessa região ainda desconhecidas para a ciência e é muito importante estudá-los, pois além do papel importante que têm para a manutenção da floresta, muitas espécies são comestíveis;”, esclarece. Esse é exatamente o segundo aspecto que ela aborda em suas pesquisas: a fungicultura, que é o estudo do cultivo de cogumelos comestíveis. “Estamos pesquisando o cultivo de duas espécies que foram encontradas no Estado do Amazonas pela primeira vez”, conta Noemia. Seu terceiro foco é a busca de novos compostos antimicrobianos. “Os passos para uma vacina ou um medicamento chegar às prateleiras são praticamente inumeráveis, mas tudo começa com a sua descoberta, por isso este tem sido um dos meus temas favoritos”, observa.
Quando soube da indicação para Membro Afiliado da ABC para o período de 21010 a 2014, feita pelo Acadêmico Tetsuo Yamane, Noemia achou que foi indicada porque estava no lugar certo, na hora certa, fazendo algo diferente dos demais. Hoje, encara a indicação como algo de muita responsabilidade, “pela evidência em que nos coloca e pelo reconhecimento do trabalho que tenho realizado até aqui”, diz.
Ela agradece a todos os que permitiram ou colaboraram para que ela pudesse desenvolver seu trabalho com liberdade. Para a bióloga, o ponto de chegada dos sonhos de pode até ser o mesmo, mas o caminho quando o cientista escolhe um tema de pesquisa que realmente gosta e no qual acredita é muito mais divertido…
Quanto às dificuldades da carreira científica, Noemia não tem muito registro. Ela teve muito apoio da família, que mesmo sem conhecer os passos, desafios e conquistas da carreira científica, lhe deu a estrutura necessária para vencer as adversidades. Inclusive, no dia da cerimônia de diplomação dos novos Membros da ABC da Região Norte, em 22 de abril, ela estava no Japão realizando o pós-doutorado. Como sua mãe havia falecido recentemente, Noemia pediu que o pai fosse receber o diploma em seu lugar. “Várias pessoas que participaram do evento em Manaus me contaram que ele emocionou a platéia, pela alegria e emoção que demonstrou. Fiquei muito feliz em saber disso, e agradeço a ABC por ter proporcionado este momento a ele e a mim. Muito obrigada.”