Do silício ao carbono, passando pelo carbeto de silício

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Desde pequeno Claudio Radtke gostava muito de Química. Um dos presentes que mais marcou sua infância foi um laboratório O Pequeno Químico, em que podia misturar substâncias e, entre outras coisas, obter cores diferentes. “Eu achava o máximo”, conta ele. Durante o ensino básico, receava optar por uma carreira em Química, por ver o desgaste por que passava sua mãe, professora de português do ensino médio. “A impressão que eu tinha é que eu ia trabalhar demais e não seria recompensado. Isso me assustou um pouco”.

Escolheu então a Engenharia Química, avaliando que poderia lidar com o que gostava, mas numa área em que teria mais possibilidades profissionais. “Meu pai era engenheiro mecânico e meu irmão fazia o mesmo curso, a experiência deles também me influenciou”, conta Radtke. Na universidade, com o propósito de seguir seu sonho, chegou a trabalhar em um pólo petroquímico. Mas ao entrar na iniciação científica, começou um processo de grande mudança interna. “Eu gostei do meio acadêmico, da idéia de poder pesquisar e dar aula”. Sua orientadora, Fernanda Stedile e outro professor, Israel Baumvol, trabalhavam com materiais para microeletrônica, unindo a Química com tecnologia de ponta. “Eu tive muita sorte, eles me estimularam muito”. Quando ao final da graduação decidiu não trabalhar na indústria e seguir na pós-graduação, sua mãe quase se desesperou, o irmão e o pai se surpreenderam, pois nunca havia considerado a possibilidade da carreira acadêmica, mas todos apoiaram sua escolha.

Na pós-graduação, continuou muito motivado e apaixonado pelo que fazia, mas ainda tinha receio porque achava o mercado meio incerto, não havia tantos concursos como há hoje. Pulou o mestrado e fez o doutorado direto, em três anos e meio. Foi então para a França cursar um pós-doutorado perto de Paris, no Comissariado de Energia Atômica (CEA). Acostumado a trabalhar num só laboratório desde a graduação e sem dominar o francês, sentiu dificuldades no início. Mas os colegas o ajudaram a se sentir acolhido e ficou lá por dois anos, desenvolvendo o trabalho que começou na iniciação científica e que faz até hoje.

No final do seu tempo na França conseguiu outra bolsa de pós-doutorado, só que no Brasil. “Pensei que era uma boa hora para voltar. Fiz um concurso logo em seguida e hoje sou professor da UFRGS, atuo no grupo de pesquisa de Físico-Química de Superfícies de Interfaces, o mesmo em que fiz doutorado.”

Radtke se interessa por materiais para dispositivos de alta performance, porque utilizam toda uma nova classe de materiais. Ele explica que alguns processadores são submetidos a situações extremas, como os que têm que trabalhar próximos a um motor de um carro, que chega a 400oC, por exemplo. “Essas situações requerem processadores produzidos com materiais diferentes, é isso que pesquisamos”. O silício, segundo ele, é um clássico que não pode ser utilizado em tais aplicações. “O que está em alta é o carbono e uma mistura dos dois, o carbeto de silício, que pode ser utilizado exatamente em processadores submetidos a condições extremas”. Outro material estudado por ele é o germânio, um semicondutor que vem despertando grande interesse tecnológico. É um trabalho interdisciplinar que envolve além da Química muita Física e muito conhecimento de Eletrônica.

A indicação para a ABC foi feita pelo Acadêmico Jairton Dupont, químico da UFRGS. “Fiquei muito contente porque foi o primeiro reconhecimento do meu trabalho, eu fico todos os dias no laboratório das oito da manhã até as sete da noite e achava que ninguém via. É uma distinção, é um estimulo e uma responsabilidade”. Radtke destacou ainda que ser membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências é um selo de qualidade, que provavelmente ajudará na obtenção de recursos. “Porque financiamento para pesquisas é muito difícil no início da carreira. É muito importante que haja uma política de incentivo para jovens cientistas.”