Mychael Vinícius da Costa Lourenço, membro afiliado da ABC eleito para o período 2021-2025, foi um dos 12 jovens cientistas contemplados na 4ª Chamada Pública de Apoio à Ciência do Instituto Serrapilheira, instituição privada sem fins lucrativos que tem o objetivo de fomentar pesquisas de excelência em produção de conhecimento e iniciativas de divulgação científica no Brasil. A pesquisa de Lourenço, “What happens to the brain when glia becomes stressed? The contributions of glial stress pathways to cognition and mood in health and disease”, foi uma das quatro selecionadas na área de ciências da vida. 

Doutor em química biológica (2016) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde atualmente é professor adjunto, o jovem neurocientista possui um currículo com vários títulos que provam a excelência de sua pesquisa. O Acadêmico é bolsista de Produtividade nível 2 no CNPq, Jovem Cientista do Nosso Estado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), membro do Young Scientist Steering Committee da International Society for Neurochemistry (2017-2021) e do Online Program Steering Committee da Society for Neuroscience (2018-2021). Tanto no mestrado quanto no doutorado, Lourenço foi orientado pelo membro titular da ABC Sérgio Teixeira Ferreira e pela ex-afiliada Fernanda De Felice.

Desde os tempos de iniciação científica, Lourenço estuda as mudanças cerebrais que ocasionam a perda de memória na doença de Alzheimer. Após anos de dedicação nesses estudos, foi possível descobrir um mecanismo cerebral que prejudica as sinapses, fazendo com que o cérebro entre em um processo que gera a perda da capacidade de reter novas memórias. Em seu grupo de pesquisa, o neurocientista visa descobrir quais são os processos moleculares que acontecem, capazes de bloquear a produção de novas proteínas no cérebro de pacientes de Alzheimer. “O mecanismo tem a ver com processos inflamatórios, similares ao de doenças metabólicas, como o diabetes tipo 2”, explica o Acadêmico. Entre tantas outras questões, a pesquisa de Lourenço também estuda a relação entre hormônios liberados durante a prática de exercícios físicos, como a irisina e a proteção do cérebro. 

A linha de pesquisa especificamente contemplada pelo edital do Serrapilheira investiga como a produção de novas proteínas em diferentes tipos de células existentes no cérebro é importante para a resposta a situações de estresse celular  – que são aumentadas na doença de Alzheimer, por exemplo.

O investimento do Instituto Serrapilheira não poderia ter vindo em um momento melhor. “Nossa pesquisa acaba sendo cara porque nossos insumos vêm do exterior. Com a alta do dólar, essa disponibilidade fica, praticamente, nula. Quando a gente faz ciência experimental, a gente depende muito dos insumos importados”, justifica o cientista. Com o novo orçamento, será possível comprar insumos e expandir o projeto de pesquisa. Além do novo recurso, a pesquisa do Acadêmico conta com o apoio da Faperj, que tem retomado seu protagonismo e desempenhado um papel importante no desenvolvimento de novas pesquisas no estado do Rio de Janeiro. 

Lourenço destacou que o momento que a ciência brasileira vive hoje é crítico, especialmente para os cientistas mais jovens. “Jovens pesquisadores sofrem com a falta de financiamento. A expectativa é alta, mas a realidade é muito mais complicada”, diz o pesquisador, que atribui a dificuldade à crise econômica e política dos últimos sete anos. Com a limitação das bolsas, torna-se cada vez mais difícil que jovens cientistas consigam povoar seus laboratórios com bolsistas de iniciação científica, doutorandos e pós-doutorandos. “Antes dos cortes realizados pelo atual governo, ainda havia a possibilidade de jovens pesquisadores se associarem a outros grupos, pois as redes de institutos nacionais de ciência e tecnologia ainda eram bem financiadas. Isso criava uma estrutura de base para que jovens pesquisadores, como é o meu caso, pudessem crescer fazendo descobertas interessantes – que é o único caminho para se conseguir financiamento futuro.” 

Além dessas decisões estratégicas e orquestradas que retiram a prioridade e o protagonismo da ciência na esfera Federal, há também o desafio do descrédito da ciência propagada por grupos políticos, como os que estão atualmente  no comando do Governo Federal. “Fico feliz quando vejo que o número de pessoas aderindo às vacinas tem aumentado, mesmo com todo o negacionismo. Significa que a campanha forte dos cientistas está funcionando, mas também é um gasto de tempo e de energia de cientistas, que poderiam estar trabalhando nos seus laboratórios, produzindo novas descobertas, divulgando conhecimentos menos óbvios e otimizando seu tempo”, comenta o Acadêmico, destacando a dupla função dos cientistas, que além de fazer boa ciência e divulgar suas pesquisas têm que combater a desinformação.