RIO — A liberação de mais de R$ 7 milhões vai permitir a retomada ou a continuidade de pesquisas que estavam em risco por falta de verbas, em áreas como nanotecnologia, dengue e HIV, nas principais instituições do estado do Rio.

A verba foi direcionada pela Fundação Carlos Chagas de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj) a projetos de Fiocruz, UFRJ, UFF, Uerj, Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e PUC, entre outros. Ao todo, são 45 projetos contemplados pelo desbloqueio. Metade do dinheiro vem do governo do Estado, e a outra, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) — parcela depositada em 2015, mas que precisava de decisão do Estado para ser liberada.

O investimento é para o Programa de Núcleos de Excelência (Pronex), uma parceria da Faperj com a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação do Rio e o CNPq, e não envolve o pagamento de bolsas. O valor já repassado aos pesquisadores corresponde à primeira de três parcelas. As outras duas, segundo [o Acadêmico] Jerson Lima Silva, presidente da Faperj, devem vir em até dois anos. O investimento total é de R$ 24 milhões, sendo R$ 12 milhões da Faperj e R$ 12 milhões do CNPq.

Silva afirma que esses recursos são para reabastecer o sistema que “sofreu muito com a crise a nível nacional e estadual”. Os recursos apenas para os projetos dos Núcleos de Excelência, por exemplo, estavam bloqueados desde 2016.

— Esse investimento é para financiar a pesquisa de excelência, cujos temas são muito importantes, com implicações em áreas que vão desde nanotecnologia a humanidades — afirma Lima Silva, ressaltando a necessidade de dinheiro para o custeio de materiais: — O que adianta um pesquisador receber bolsa se não tem recursos para fazer experimentos de ponta e buscar soluções para zika, por exemplo? Não adianta ter ideias excelentes e não ter como executá-las.

Os recursos do Pronex destinam-se, prioritariamente, aos projetos de natureza experimental, que exigem equipamentos de grande porte e reagentes. Em média, de acordo com o presidente da Faperj, cada projeto está recebendo entre R$ 150 mil e R$ 200 mil do total liberado.

Entre os projetos contemplados está o de “Novos antivirais contra HIV e dengue”, do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ. O centro de estudos é o responsável por identificar o vírus mayaro, “primo” do chicungunha, no estado do Rio.

“É um alívio”, diz coordenador de laboratório

O investimento, segundo o coordenador do laboratório, [o Acadêmico] Amilcar Tanuri, ajudou a retomar a pesquisa no assunto, com a compra de reagentes e o conserto de equipamentos. Ali, há ainda outro braço de estudos, em Aids, na pesquisa de uma molécula que fortalece o sistema imunológico dos pacientes. Para Tanuri, o aporte foi um alívio, um alento que revigorou os laboratórios na parte experimental.

— Estávamos até parados por conta da falta de reagente — comenta. — Nosso laboratório está no meio da investigação do vírus mayaro. Estávamos preocupados porque não tinha dinheiro para continuar tocando o projeto. Embora ainda exista mais para ser liberado, conseguimos reiniciar o trabalho. Não é um volume enorme, mas, para a falta que estava, já é um alento.

O professor da UFRJ, médico e virologista acrescenta que a boa notícia não resolve a preocupação com os recentes cortes feitos pelo governo federal que afetaram as bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), ligada ao Ministério da Educação, nem a falta de verbas que ameaça a suspensão das bolsas também do CNPq, ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.

O coordenador do Laboratório de Materiais Nanoestruturados da PUC-Rio e professor do Departamento de Física da instituição, [o Acadêmico] Fernando Lázaro, pontua que o dinheiro desbloqueado ajudará na compra de materiais determinantes para o andamento da pesquisa. O investimento foi recebido na última semana. A verba vai para um projeto de nanodispositivos da PUC, em colaboração com o CBPF, para desenvolver dispositivos nanoestruturados, como sensores de gás para controle ambiental.

Lázaro comemora a quantia liberada, mas ressalva que é uma parcela pequena diante do que precisam:

— Vamos usá-lo, basicamente, para custeio: material de pesquisa com os quais gastamos muito por serem caros. Estávamos ficando no limite. Se não tem o material básico, como produtos químicos, não adianta ter equipamento funcionando.