Ciência é coisa de menina? As novas afiliadas da Academia Brasileira de Ciências (ABC) provam que sim! Em comemoração ao Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, em 11 de fevereiro, jovens cientistas de todo o país, eleitas como afiliadas da ABC para o período de 2019 a 2023, contam um pouco de suas trajetórias e compartilham com todas as meninas e mulheres o porquê deste caminho valer a pena.

Assista aqui as dicas oferecidas pelas afiliadas e conheça-as!

Esqueça os estereótipos

Depois que saiu do colégio, Raquel Cardoso de Melo Minardi teve que se acostumar a ser minoria nos cursos que fazia. Sendo uma entre as únicas mulheres a integrar sua turma na graduação, a pesquisadora é formada em ciências da computação e doutora em bioinformática pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Hoje, a cientista trabalha como docente na UFMG e pesquisa modelos, algoritmos, visualizações de dados e ferramentas computacionais para a bioinformática e biologia computacional.

A convivência na área predominantemente masculina nunca foi problema para Minardi. Desde sempre, a pesquisadora nutria um desejo muito grande de usar a computação na solução de problemas relevantes para a sociedade, como o estudo de doenças e o desenvolvimento de vacinas e fármacos.

Ela reforça: “Minha principal mensagem para meninas que tenham interesse por ciência é que não desistam dessa possível carreira por influência de estereótipos negativos ou do senso comum de que ciência, tecnologia, engenharia, matemática e afins são áreas masculinas”. A cientista ainda sugere que as meninas busquem diversos exemplos de mulheres cientistas bem-sucedidas que servirão de inspiração na escolha de suas carreiras.

O importante é fazer o que se ama de verdade

Da graduação ao doutorado em bioquímica toxicológica, a farmacêutica Daiana Silva de Ávila estudou na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e hoje é professora adjunta da Universidade Federal do Pampa (Unipampa). Lá, além de trabalhar com a avaliação da eficácia e segurança de novos materiais e moléculas utilizando o Caenorhabditis (gênero de nematoides, vermes de  formato cilíndrico e geralmente alongado) como modelo experimental, integra também o grupo Cientistas do Pampa.

Formado exclusivamente por pesquisadoras, o Cientistas do Pampa tem por objetivo a aproximação entre meninas e ciência, realizando experimentos, observação de fenômenos físicos e químicos, conversas sobre mulheres cientistas e promovendo o empoderamento feminino no geral. “Queremos que as meninas coloquem a mão na massa e discutam sobre ciência e gênero”, declara Daiana.

A pesquisadora ressalta que a curiosidade é essencial. Também é muito importante encontrar pesquisadores (as) que sirvam de inspiração e um curso que esteja alinhado com suas preferências. Mas ela defende: “Se não for aquilo que tu imaginavas, reavalia e muda de curso, de área. Não há nada errado em recomeçar, o importante é fazer o que se ama de verdade”.

Sempre busque novas oportunidades

Pesquisadora em saúde pública, do Instituto Evandro Chagas, em Ananindeua, no Pará, a farmacêutica Valéria Lima Carvalho tem se dedicado a estudar vírus específicos de insetos em cultivos de células. A cientista é mestre e doutora em biologia de agentes infecciosos e parasitários pela Universidade Federal do Pará (UFPA).

Foi durante a graduação na UFPA que Carvalho descobriu que queria ser cientista, quando teve a oportunidade de ingressar na iniciação científica. Para as jovens cientistas, a farmacêutica dá a dica: sigam sempre buscando novas oportunidades. “Ciência não é fácil, mas é gratificante e vale a pena”, assegura a pesquisadora.

Mostre a si mesma que é capaz

Graduada, mestre e doutora pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), no Rio Grande do Sul, a bióloga Marília Danyelle Nunes Rodrigues deixou sua cidade natal para trilhar os caminhos da ciência na Amazônia. Docente da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), no Pará, a pesquisadora atua na manutenção da diversidade genética, buscando estratégias que conciliem a promoção do desenvolvimento econômico com o uso sustentável dos recursos genéticos.

Fora de sua zona de conforto, longe da família e dos amigos de infância, a bióloga teve que aprender a lidar com esta realidade para seguir seus sonhos: “O coração vive eternamente dividido, porque queria estar lá, sem deixar de querer estar aqui. Contudo, minha pequena experiência de vida toda dia me traz um novo desafio, seja na minha carreira, quanto em minha vida pessoal”.

Para a pesquisadora, um dos aspectos mais importantes ao escolher uma carreira é a paixão. Às jovens que querem se tornar cientistas, ela lembra que “a ciência não tem gênero, não tem idade, nem pré-requisitos”.

“Faça o que os outros não fazem, ou que não esperam que você consiga fazer. Mostre para você mesma que é capaz e por mais difícil que seja, não desista, persevere”, completa a bióloga.

Seja persistente!

Professora adjunta do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), foi lá também que a bióloga Angélica Thomaz Vieira obteve seu mestrado e doutorado em bioquímica e imunologia. Como pesquisadora, Vieira tem buscado novos tratamentos para doenças infecciosas e inflamatórias, por meio da modulação das bactérias comensais do intestino e da alimentação.

Ela lembra que, já nas primeiras semanas de graduação nas Faculdades Metodistas Integradas Izabela Hendrix (Famih), começou a procurar oportunidades de estágio na UFMG. Após várias tentativas, graças a sua persistência e curiosidade, conseguiu ingressar num programa de iniciação científica na universidade, onde permaneceu por nove anos até concluir o pós-doutorado.

Para as meninas que querem fazer ciência, a bióloga recomenda que visitem os centros de pesquisa, interajam com outros pesquisadores, façam contatos, sejam persistentes e perguntem por oportunidades de iniciação científica o quanto antes, ao iniciarem a graduação. “Não desistam dos seus sonhos! A ciência é fascinante, cativante, empolgante e ainda te conecta com o mundo”.

Sejamos protagonistas

Professora adjunta da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi na mesma universidade que Renata de Meirelles Santos Pereira realizou a graduação em ciências biológicas, o mestrado e o doutorado em biofísica. Lidando com toda a competitividade da área, a pesquisadora busca como os linfócitos T (importantes células do sistema imunológico) são ativados para proteger nosso organismo de infecções.

Como bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a bióloga conta como enfrenta a competitividade na pesquisa científica: “Eu acredito que quando desempenhamos nossas atividades com dedicação, seriedade e entusiasmo, eventualmente encontramos nosso espaço e somos capazes não só de contribuir em nosso campo de atuação, mas de encontrar satisfação pessoal”.

Pereira destaca que a pesquisa é uma área de atuação estratégica e fundamental para o desenvolvimento saudável de qualquer país, e, portanto, “mulheres vocacionadas e interessadas devem sim ser protagonistas nestas atividades”.