*Essa matéria é continuação da #RMagnaABC2023 I

Diplomação dos novos membros da ABC

Eleitos na Assembleia Geral de 1º de dezembro de 2022, foram diplomados na noite de 10 de maio os seguintes membros da ABC: Carolina Bhering de Araujo (IMPA) e Celina Miraglia Herrera de Figueiredo (UFRJ), na área de ciências matemáticas; Rodrigo Barbosa Capaz (CNPEM & UFRJ), ciências físicas;  Ana Flávia Nogueira (Unicamp) e Severino Alves Junior (UFPE), em ciências químicas; Rômulo Simões Angélica (UFPA), em ciências da Terra; Gustavo Henrique Goldman (USP) e Ima Célia Guimarães Vieira (MPEG), em ciências biológicas; Denise Pires de Carvalho (UFRJ) e Rafael Roesler (UFRGS), em ciências biomédicas; Bernardo Galvão Castro Filho (Escola Bahiana de Medicina), em ciência da saúde; Anete Pereira de Souza (Unicamp), em ciências agrárias; Francisco de Assis Tenório de Carvalho (UFPE) e Segen Farid Estefen (UFRJ), em ciências da engenharia; Alcida Rita Ramos (UnB) e Sérgio França Adorno de Abreu (USP), em ciências sociais. Também foi eleita, na área de ciências biomédicas, Marta Maria Geraldes Teixeira (USP), mas não pôde comparecer à solenidade de diplomação.

Os membros correspondentes diplomados na ocasião foram Hans Lischka (Texas Tech University, EUA); Hernan Makse (City College of New York, EUA); Igor Correia de Almeida (University of Texas, EUA); Marcia Caldas de Castro (Harvard University, EUA). Foram eleitos também os cientistas Alberto Mantovani, do Instituto Clínico Humanitas, na Itália; Béla Bollobás, da Universidade de Memphis; Jitender P. Dubey, do Centro de Pesquisas Agrícolas em Beltsville, Maryland; e Paras Nath Prasad, da Universidade de Buffalo – os três últimos residentes nos EUA.

Saiba mais sobre cada um dos diplomados!

Em silêncio, foram homenageados os acadêmicos falecidos no último ano. Veja a lista aqui.

A saudação aos novos membros da ABC foi feita pelo Acadêmico Diogenes de Almeida Campos. O paleontólogo apontou que a Academia vem cumprindo sua tarefa estatutária de promover a ciência brasileira, servindo de referencial de qualidade, identificando e elegendo para a sua corporação, cientistas de maior destaque do país.

Esse ato, porém, não esgota os compromissos que a Academia tem com a sociedade. “Pelo contrário, aumenta a sua responsabilidade de promover o desenvolvimento da ciência e da tecnologia no país, pois são os dois ingredientes propulsores fundamentais para o avanço de uma sociedade verdadeiramente do conhecimento, que venha a permitir o progresso econômico, político, cultural e social brasileiro.”

Campos explicou que uma grande contribuição que a Academia tem a oferecer à sociedade é o estudo dos grandes temas nacionais que exigem um enfoque multidisciplinar, “inclusive das ciências sociais, uma vez que contamos com cientistas capacitados nas diferentes disciplinas”. Ele disse que a Academia espera que os novos Acadêmicos venham aliar-se a esse esforço, trazendo ideias criativas e inovadoras. Esses estudos trarão, tenho a certeza disso, objetividade e rigor científico, para assegurar a credibilidade que se espera de nossa Academia.”

Finalmente, o Acadêmico apelou para a dedicação de muito esforço na expansão da educação e da ciência. “Somente assim poderemos enfrentar e superar nosso considerável atraso econômico e social, agravado pela pandemia. Fazendo ciência básica estamos contribuindo para um mundo melhor.”

Leia o discurso de Diogenes Campos na íntegra

A Acadêmica Ima Célia Guimarães Vieira falou em nome dos recém-empossados. Ela declarou entender que foi eleita, inclusive, por ser amazônida, ecóloga e pesquisadora do Museu Paraense Emilio Goeldi – instituição que há quase 157 anos se dedica aos estudos dos sistemas naturais -, que a escolha do seu nome foi influenciada pela importância dessa região para o desenvolvimento brasileiro e como um dos patrimônios naturais e culturais mais valiosos para a humanidade.

Na visão da pesquisadora, a região carece de soluções concretas à altura de sua importância social e estratégica. E advoga que todos os esforços devem ser envidados para que a Amazônia figure como prioridade em um amplo e profundo Plano Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico moldado por uma visão estratégica de futuro.

“O mundo clama pela defesa da Amazônia. E já é hora de a vermos como prioridade neste novo momento da ciência brasileira, após os últimos quatro anos de negacionismo e descontinuidade de investimentos. A Academia Brasileira de Ciências tem o papel fundamental para fazer isso acontecer. Convoco esta Casa para se unir à luta dos amazônidas em defesa da educação e ciência na e para a Amazônia. Como nos lembra o grande poeta amazônida Thiago de Mello: ‘A Amazônia espera de nós uma atitude respeitosa’.”

Leia o discurso de Ima Vieira na íntegra

Medalha Henrique Morize

 Henrique Charles Morize foi o primeiro presidente da Academia Brasileira de Ciências e se manteve na função por dez anos, tendo sido posteriormente eleito presidente de Honra e membro Benemérito. Ele ficou conhecido como o fundador da física experimental brasileira e sua importância para a astronomia, para a física e para a ciência é reconhecida até hoje.

A Medalha Henrique Morize foi criada em 2014 com o propósito de homenagear indivíduos ou instituições que realizem ou tenham realizado contribuições expressivas para a Academia Brasileira de Ciências, bem como para o desenvolvimento da ciência brasileira. Os agraciados em 2023, selecionados pela Diretoria da ABC, foram os ex-presidentes José Israel Vargas, Eduardo Moacyr Krieger e Luiz Davidovich. O trabalho deles no exercício da Presidência foi considerado fundamental para o estabelecimento e o desenvolvimento do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil, além do serviço ímpar dedicado a transformar a ABC no que ela é hoje.

A Acadêmica Maria Vargas agradeceu a medalha em nome de seu pai, José Israel Vargas

A Acadêmica Maria Domingues Vargas recebeu a medalha em nome do seu pai, o químico José Israel Vargas, que exerceu o mandato de 1991 a 1993, e leu uma mensagem enviada por ele, que em um trecho relata sua atuação: “Servi primeiramente como vice-presidente na gestão de Oscar Sala, tendo em seguida exercido a presidência em sua falta. Posteriormente, participei por onze anos como Vice-Presidente da gestão do grande matemático e saudoso amigo Maurício Matos Peixoto, um dos criadores do Instituto Brasileiro de Matemática Pura e Aplicada. Todos esses cientistas, a seu tempo, tiveram seus trabalhos internacionalmente reconhecidos, cumprindo assim os objetivos almejados por Henrique Morize com a fundação dessa Academia.”

O Acadêmico José Eduardo Krieger recebeu a medalha em nome de seu pai, Eduardo Moacyr Krieger, das mãos da presidente da ABC, Helena Nader

O Acadêmico José Eduardo Krieger recebeu a medalha em nome do seu pai, o médico Eduardo Moacyr Krieger, que exerceu o mandato de 1993 a 2007. Ele agradeceu num pequeno vídeo, em que destacou alguns pontos de sua gestão, como a criação de quatro novas áreas na ABC: engenharias, agrárias, medicina e as ciências sociais, assim como, na  área internacional, a participação proativa na atual Academia Mundial de Ciências (TWAS), e no International Council of Science and Technology (ICSU), hoje reestruturado de outra forma. Ressaltou ainda a criação do IAP, o então InterAcademy Panel, hoje com o nome de Parceria InterAcademias, e da Ianas, a rede InterAmericana de Academias de Ciências, entre outros organismos internacionais. 

Presidente anterior à Helena Nader, o físico Luiz Davidovich exerceu seus mandatos de 2016 a 2022. Ele declarou estar muito honrado com a homenagem e destacou que aprendeu muito atuando as Diretorias anteriores como vice-presidente, com Krieger e com o matemático Jacob Palis, presidente da ABC de 2007 a 2016, que recebeu a Medalha Henrique Morize em 2018.

Davidovich destacou que a ABC passou por duas guerras mundiais, ditaduras, democracias, regimes autoritários, aprendeu por si e se renovou, atuando em defesa da soberania nacional, da ciência, tecnologia, inovação e educação. Ele agradeceu enfaticamente aos colegas de Diretoria em seus dois mandatos, um período muito duro, que com ele formaram um bloco sólido, unido. “Aprendemos com o passado e olhamos para o futuro. É esse o dever de uma Academia.”

“A ciência voltou no Brasil”

Helena Nader cumprimentou os novos membros da ABC empossados naquela noite – oito acadêmicas e nove acadêmicos – com quem considera que a ABC pode contar “para continuar a mostrar o valor da ciência na resposta aos desafios da sociedade”.

Ela ressaltou o combate à fome e à pobreza como prioridade máxima para o governo Lula e apontou que, no século 21, os países estão se concentrando no desenvolvimento de capacidades para criar conhecimento científico e tecnologias para melhorar o bem-estar social – o que coloca a ciência e a educação como prioridades. “Precisamos da recomposição do orçamento dos setores de educação e CT&I do país. O investimento em ciência e educação é especialmente importante em especial pela população jovem do Brasil, que precisa ser adequadamente educada e receber os tipos de oportunidades que a inovação pode criar”.

A questão da janela etária teve destaque na fala de Nader. “Agora é a hora de investir em todos os níveis educacionais, da creche à universidade, pois a partir de 2050, a população dita economicamente ativa estará em declínio, enquanto os maiores de 65 estarão em franca ascensão. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a OCDE, quase 30% dos brasileiros entre 25 e 34 anos hoje não têm ensino médio. São dados que nos fazem temer pela aposentadoria dessa futura população idosa”, explicou.

A presidente da ABC demonstrou sua confiança no governo, que está colocando o Brasil de novo no cenário internacional, e se disse disposta a continuar cobrando, de muito perto, o principal pleito da ABC, tantas vezes reiterado: é urgente elaborar e cumprir uma política de Estado digna deste nome para educação e ciência. “Porque é só por meio delas que conseguiremos sair da crise atual e evitar outras futuras. É o que falta para que consigamos avançar verdadeiramente em termos civilizatórios, e não apenas do progresso pelo progresso.”

Leia aqui o discurso de Helena Nader na íntegra.

A Acadêmica e ministra da Saúde, Nísia Trindade, deu seguimento ao pensamento de Nader, afirmando que “superamos o pior da pandemia e recuperamos a democracia em nosso país. O Brasil agora precisa de avanços na educação e no acesso à saúde e educação de qualidade, o que só será alcançado com ciência, com tecnologia e com inovação.”

Após anos tão difíceis de pandemia, Trindade considerou a reunião como uma celebração da ciência a serviço da vida e do país. “As instituições se mostraram indispensáveis nesse período e têm papel fundamental neste momento de reconstrução.”

Encerrando a solenidade, a Ministra de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos assinou a portaria que estabelece as diretrizes para a elaboração da nova versão da Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, de 2023. A portaria foi publicada no dia seguinte à cerimônia, na forma da Lei No 14.577, de 10 de maio de 2023.

Santos afirmou que a ocasião como uma solenidade de celebração e reconhecimento da ciência como pilar do desenvolvimento nacional. “A ciência venceu”.  Ela cumprimentou Cesar Victora, apontando que o prêmio a ele outorgado era mais do que o reconhecimento de uma brilhante trajetória e de sua inestimável contribuição às políticas públicas de saúde, a partir dos estudos sobre amamentação, saúde e nutrição materno-infantil. “À luz do que vivemos na história recente do Brasil, essa premiação é a vitória do conhecimento, do saber e da ciência contra o obscurantismo e o negacionismo que produziram efeitos devastadores em nosso país”, pontuou.

“O Brasil possui grandes desafios que só serão solucionados com ciência”, apontou Santos, elencando as estratégias de adaptação e mitigação das mudanças climáticas, a autossuficiência na fabricação de insumos farmacêuticos. “A reindustrialização em bases sustentáveis que almejamos para o nosso país será apoiada no conhecimento e na inovação”, afirmou, complementando que o apoio permanente, continuado, estará garantido com a recomposição do Fundo Nacional para o Desenvolvimento Científico e tecnológico (FNDCT).

Olhando para o futuro, ela anunciou as diretrizes para a elaboração da Nova Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, que vão nortear o debate com a comunidade científica e demais atores que terão assento no Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, reativado. O aprofundamento das discussões se dará no âmbito da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, que será realizada no primeiro trimestre de 2024. “É com diálogo, vontade política, buscando recursos e com inabalável disposição que colocaremos a ciência, a tecnologia e a inovação a serviço da população, ampliando e expandindo seus benefícios para todas as brasileiras e todos os brasileiros”, concluiu Santos.

Membros diplomados da ABC e homenageados pelo CNPq com a presidnte da ABC, Helena Nader