O físico e historiador da Ciência Ildeu de Castro Moreira (IF- UFRJ), ganhador da medalha Henrique Morize da Academia Brasileira de Ciências em 2021, rememora os cem anos de criação da Radio Sociedade do Rio de Janeiro, primeira emissora de rádio nacional, fundada pela Academia Brasileira de Ciências. Dentre os achados está um raro depoimento de Edgar Roquette-Pinto, pioneiro da radiofusão nacional e Acadêmico. Confira:

Cem anos atrás, em 20 de abril de 1923, foi criada por um grupo de cientistas e professores a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro [Fig. 1]. Pioneira em nossas bandas, não foi fundada por iniciativa estatal nem como uma empresa privada, mas como uma entidade civil, uma sociedade, mantida pelo conjunto de sócios e sustentada pelo trabalho de muitos. Foi uma iniciativa inovadora e de grande impacto. No Estatuto da RS estava colocado o seu propósito: “fundada com fins exclusivamente científicos, técnicos, artísticos e de pura educação popular, não se envolverá jamais em nenhum assunto de natureza profissional, industrial, comercial ou político”. Em 1936 foi doada ao “povo brasileiro”, para ser administrada pelo Estado, por meio do governo federal, e se transformou na Rádio MEC com uma história centenária de inúmeras contribuições à cultura e à educação brasileira.

O grande motor da criação da RS foi Edgar Roquette-Pinto (1884-1954), médico, antropólogo, educador e propulsor das comunicações no Brasil. Em 1923 ele mobilizou seus colegas da Academia Brasileira de Ciências, criada 7 anos antes, e da qual era secretário-geral. Contou, em particular, com o apoio decidido de Henrique Morize, presidente da ABC, e que se tornou também presidente da RS [Fig. 2]. O apoio financeiro para a aquisição dos primeiros equipamentos veio de empresários como Demócrito Seabra (tesoureiro da RS) e Carlos Guinle. Com a subscrição de um número expressivo de sócios, e o patrocínio de algumas empresas (poucas) foi possível equipar e manter a rádio por 13 anos com sua característica educativa e não comercial.

Diretores e sócios da Rádio Sociedade – (Da esquerda para a direita, sentados) Carlos Guinle, Henrique Morize e Luiz Betim Paes Leme; (em pé) Dulcídio Pereira, Francisco Lafayette, Roquette-Pinto, Demócrito Seabra, Mario de Souza, Costa Lima e Nestor Serra

No início, a ABC e a RS fizeram uma luta exitosa e mais geral, junto ao governo federal, para a liberação do uso (emissão e recepção) da “telefonia sem fio – TSF” ou “radiotelefonia”, como era denominada a transmissão radiofônica. Acabaram com a anacrônica “licença” para a instalação de receptores. Tiveram também que enfrentar muitas dificuldades para o uso de uma tecnologia que era a mais avançada da época. A primeira emissora de rádio do mundo surgira 3 anos antes nos EUA. Tinham que aprender fazendo, inventando soluções a cada passo para as dificuldades técnicas e para o conteúdo dos programas. Por muitos anos, a RS (a PRA-2) foi a emissora mais potente da América do Sul. Entre 1924 e 1928, a RS e a ABC ocuparam o “Pavilhão Tchecoslovaco”, construído para o Centenário da Independência do Brasil, na Avenida das Nações [Fig. 3]. Após a derrubada do prédio, a Rádio Sociedade se transferiu para a rua da Carioca e a ABC permaneceu sem sede fixa por muitos anos.

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Confira um raro depoimento de Roquette-Pinto sobre a criação da Rádio Sociedade: