A destruição da Amazônia é, mais uma vez, capa da Revista Science. A edição desta sexta-feira, 27 de janeiro, traz o título “Amazônia Perdida – degradação e destruição florestal”, e destaca duas revisões analíticas das quais participaram membros da Academia Brasileira de Ciências (ABC).

No artigo Human impacts outpace natural processes in the Amazon (Albert, et al.), de co-autoria do membro titular da ABC Carlos Nobre, os pesquisadores chamam atenção para o ritmo milhares de vezes mais rápido das mudanças antropogênicas na floresta. Alterações ecossistêmicas que naturalmente levariam milhões de anos estão acontecendo num espaço de décadas, eliminando qualquer chance de adaptação da biodiversidade.

O trabalho se debruça sobre as três principais vias pelas quais a destruição está ocorrendo. São elas: (I) alterações no uso do solo na fronteira agrícola, com a floresta dando lugar a pastagens e cultivos, tornando o solo mais vulnerável e erosivo; (II) alterações nas águas, com represamentos alterando a dinâmica de rios e o próprio desmatamento contribuindo para uma maior sedimentação e fragmentação das correntes; (III) e um processo de aridificação do ecossistema resultante das mudanças climáticas.

Já o artigo The drivers and impacts of Amazon forest degradation (Lapola, et al.), do qual o Acadêmico Philip Fearnside é co-autor, foca na degradação, isto é, quando a cobertura florestal não está totalmente derrubada, mas o bioma original já foi suficientemente alterado a ponto de perdermos serviços ambientais fundamentais, como a capacidade de sequestrar carbono. Essa interferência ocorre principalmente nas áreas de borda e seus motores principais também estão ligados à alteração no uso da terra e no clima.

No conjunto, as duas revisões desenham um cenário em que 17% da Amazônia já está totalmente destruída e 38% já se encontra degradada. Dentre os principais efeitos está a transformação da Amazônia em um gigantesco emissor de carbono. Estima-se que, para algumas áreas da fronteira florestal, a quantidade de carbono lançada na atmosfera já supera a quantidade absorvida pela fotossíntese. “Após milhões de anos servindo como um imenso sumidouro de carbono global, a floresta amazônica está prevista para se tornar uma fonte de emissões para a atmosfera”, sumariza a primeira revisão.

Além da urgência para que os países amazônicos, em especial o Brasil, adotem políticas ambientais sólidas que coíbam a destruição, os trabalhos enfatizam a necessidade de engajamento e financiamento global. Em específico, os pesquisadores defendem reforçar e refinar os projetos em REDD (Reducing Emissions from Deforestation and Forest Degradation), das Nações Unidas, que buscam trazer incentivos de mercado e financiamentos para ações de mitigação nessas áreas.

“Coibir o uso do fogo, a exploração ilegal de madeira e mesmo o efeito de borda, que é diretamente relacionado ao desmatamento, são processos que o Brasil e os outros países amazônicos podem e devem tratar. É nossa responsabilidade. Entretanto, ao falar da degradação causada por secas extremas ligadas às mudanças climáticas globais, isso é uma responsabilidade para o mundo todo, em que todos os países têm de atuar para reduzir suas emissões. Do contrário, a floresta sofrerá degradação do mesmo jeito”, afirmou Lapola à Agência Fapesp.

Leia a edição de 27 de janeiro de 2023 da Science.

Exemplo de floresta degradada (Foto: Marizilda Cruppe/Rede Amazônia Sustentável)