Jorge Rodrigues de Sousa nasceu em 1985, na cidade paraense de Cametá, a 238km da capital Belém, onde passou a infância. Filho caçula de um agricultor e uma professora, Jorge tem três irmãos mais velhos, formados em administração e em direito.  

Ele conta que teve uma infância instável, alternando períodos de tranquilidade e prosperidade com outros de muitas dificuldades financeiras, mas é grato pelos esforços que os pais fizeram para que os filhos tivessem a melhor educação possível. “Meus pais foram guerreiros, superaram as limitações e, com a graça de Deus, conseguiram nos abrir uma janela de oportunidades para um mundo de infinitas possibilidades.” 

Foi ainda pequeno, morando no interior, que o interesse de Jorge pela ciência surgiu. Todos os dias, ele ajudava minha mãe a carregar uma mochila com vários livros para a escola onde ela lecionava. “Eu admirava muito a garra e a determinação da minha mãe, e a forma como ela conseguia estimular seus alunos a criarem estratégias de aprendizagem que transformavam um universo tão sofrido em um rico mundo imaginário”, relatou.  

Jorge recordou que uma vez perguntou a ela o que era ciência e o que era ser cientista. “E ela me disse que cientista é aquele profissional inquieto, que vive se questionando e descobre coisas novas. A partir daquele momento minha vida muda por completo, pois foi um sonho que passei a perseguir diariamente”, compartilhou o Acadêmico. Hoje, com mais experiência na área, ele se apaixonou por outras características da profissão: os desafios, as perguntas integrantes e as respostas completas, que impõem importantes desafios. “É através das respostas e das descobertas que podemos inovar, modificar e melhorar a vida das pessoas.” 

Por ter maior afinidade com biologia, matemática e química, Jorge Rodrigues optou por cursar farmácia, tendo a Universidade Federal do Pará (UFPA) como objetivo. De acordo com o Acadêmico, seu “namoro” com o curso despertou diversas paixões científicas, entre elas, a imunologia, que se tornou um amor incondicional.  

“Minha maior lembrança era a de que em uma das minhas visitas para conhecer a instituição, me deparei com a biblioteca da capital e ali me senti como uma criança num parque de diversões, onde poderia beber das diversas fontes de conhecimento”, lembrou. “Quando eu entrava na biblioteca, o tempo parecia parar. Se pudesse escolher os melhores amigos, a patologia, imunologia, fisiologia e a biologia celular estariam sem sombras de dúvidas no rol de número um da prateleira.”  

Na graduação, Jorge Rodrigues fez iniciação cientifica por quase quatro anos, no Núcleo de Medicina Tropical da UFPA, onde teve a oportunidade de estudar a fundo a complexidade de diversas doenças que tem uma prevalência bastante elevada na Amazônia. E o longo tempo nos laboratórios foi fundamental para sua decisão de onde atuar no futuro. “A cada renovação de bolsa e de projeto, eu confirmava minha certeza do que queria fazer profissionalmente. Era muito desafiador e empolgante conhecer a fundo como o nosso sistema de defesa reage frente a um agente agressor”, ressaltou. Lá deu sequência aos estudos, cursando o mestrado e o doutorado.  

Entre suas maiores inspirações acadêmicas, citou os professores Juarez Quaresma e o Acadêmico Pedro Vasconcelos, membro titular da ABC, com quem aprendeu a organizar as ideias para responder às perguntas de determinado problema e a escrever artigos científicos. 

Por conta de sua vasta experiência prévia no setor, em 2016 Jorge Rodrigues foi vinculado como pesquisador e colaborador da seção Arbovirologia e Febres Hemorrágicas do Instituto Evandro Chagas, no Pará. O Laboratório de Imunopatologia, onde o pesquisador atua, vem estudando de maneira incansável a fisiopatologia de processos infecciosos e inflamatórios. “Nesta linha de pesquisa, os cientistas buscam compreender de que maneira fatores causais e patogênicos podem desencadear o surgimento de lesões celulares e/ou teciduais subjacentes a processos infectocontagiosos e inflamatórios”, explicou. Os estudos do grupo têm possibilitado a construção de diversos caminhos de investigação e a descrição de mecanismos que explicam a possível origem de determinadas doenças emergentes na Amazônia.  Ele é também professor no curso de medicina da Universidade do Estado do Pará (UEPA), lotado no Departamento de Morfologia e Ciências Fisiológicas.

Sobre os desafios que vêm sendo enfrentados em sua área de pesquisa nos últimos anos, Rodrigues citou dois: “Além da pandemia da covid-19, que mudou por completo a história da saúde pública no Brasil, a epidemia provocada pelo vírus zika também nos colocou diante de um abismo. Quando os casos de microcefalia começaram a explodir no país, não tínhamos noção de como o vírus poderia destruir células do sistema nervoso. A força tarefa que foi montada conseguiu elucidar pontos chaves que explicam como o cérebro reage e de maneira o vírus provoca a morte celular.” 

Fora do ambiente acadêmico, Rodrigues tem um grande interesse por jardinagem e sempre que pode tira um tempo para contemplar a natureza. Gosto muito de poesia. Tem uma família que chama de “maravilhosa” e diz que o que mais gosta de fazer é estar com sua esposa e seu filho. “São meu porto seguro.”