Durante a noite de um domingo, 2 de setembro de 2018, e pela madrugada adentro, um grande incêndio levou parte da memória do nosso país. Ardeu em chamas o Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (MN/UFRJ), em São Cristóvão, no Rio de Janeiro.

Grande parte dos 20 milhões de itens que compunham o museu – 85% –  virou cinza. No entanto, algumas coisas importantes estavam em boas condições e estão sendo recuperadas, como o mais antigo fóssil humano já encontrado no país, a Luzia, e parte da coleção egípcia, que começou a ser adquirida ainda por Dom Pedro I. Parte do material biológico também foi resgatada.

Desde então o diretor do museu, o paleontólogo Alexander Kellner, que também é editor-chefe da revista Anais da Academia Brasileira de Ciências, vem se dedicando, noite e dia, a angariar recursos para recuperar o prédio e refazer a coleção, na medida do possível. Para tanto, foi criado o Projeto Museu Nacional Vive, que reúne instituições brasileiras e internacionais empenhadas na reconstrução do Museu Nacional da UFRJ.

Resultado de uma cooperação técnica firmada entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e o Instituto Cultural Vale, o projeto aposta na mobilização social e na articulação de parcerias para devolver o museu à sociedade.

Num outro domingo, quatro anos depois, no dia 20 de novembro, os membros da Diretoria da ABC foram recebidos por Kellner para uma visita guiada pelas obras do museu. Segundo ele, “foi uma grande honra para o Museu Nacional/UFRJ receber a Diretoria da ABC. Diversos membros da Academia têm expressado o seu apoio para reconstrução do primeiro museu brasileiro, atuando, inclusive, em processos decisórios que auxiliaram e ainda auxiliam nessa árdua tarefa”.

Kellner salientou, ainda, a importante participação da ABC no Comitê Institucional do projeto Museu Nacional Vive. “Ali é informado e discutido o andamento dos trabalhos, cabendo a esse fórum propor ideias e ações que possam contribuir com os trabalhos de reconstrução.”

O diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, de capacete azul; atrás dele, à esquerda, o vice-presidente da ABC para a Região NE&ES, Anderson Gomes, e a diretora Maria Vargas; à direita, o vice-presidente da ABC, Jailson Bittencourt, a presidente Helena Nader e a vice-presidente para Região RJ, Patricia Bozza

Em meio aos escombros de um palácio em obras, o grupo percorreu os espaços preservados, enquanto Kellner descrevia as futuras instalações em cada local, além de contar um pouco da história do chamado Palácio da Quinta da Boa Vista. “Era sem dúvida a melhor residência do Rio de Janeiro, de propriedade do comerciante de escravos Elias Antonio Lopes, possivelmente o homem mais rico do Rio de Janeiro de então. Quando a família imperial veio para o Brasil, fugindo de Napoleão, que ameaçava invadir Portugal, Lopes avaliou que sua casa seria tomada para moradia de D. João e se adiantou, oferecendo-a ao rei de Portugal… e, assim, conquistando benefícios”, contou o diretor.

Dedicação do diretor acentua emoção na visita

Sobre a segunda grande emoção que sentiu na visita, Jailson confessou que foi verificar o trabalho liderado pelo Acadêmico e amigo Alexander Kelner. “Trabalho intenso e dedicado de reconstrução física e de acervo. Destaco, que a dedicação de Alex é ímpar e que certamente impacta, negativamente, na sua excelente carreira cientifica. Isto me faz admirar mais ainda o seu trabalho.”

E a terceira foi registrada em imagem: “Estar na entrada do prédio, observar o excelente trabalho realizado e poder, literalmente, abraçar o meteorito“baiano” do Bendengó!

Alexander Kellner e Jailson Bittencourt com o meteorito de Bendengó (ou Bendegó), cidade do interior da Bahia onde o meteorito caiu e que lhe deu o nome. É o maior meteorito encontrado no Brasil

Memória das chamas deve provocar mobilização necessária

Para a vice-presidente da ABC para a Região MG&CO, Mercedes Bustamante, ver a fachada do Museu Nacional restaurada foi uma grande alegria. “Mas ainda é forte a memória das imagens das chamas que consumiram este prédio histórico e uma parte significativa de seu acervo”, pontuou. Ela ressaltou que a visita ao interior do prédio tornou essa memória palpável e demonstrou o grande desafio que envolve a recuperação total das instalações.

Igualmente desafiadora, em sua avaliação, é a organização e catalogação do acervo que foi possível resgatar dos escombros. “É admirável o trabalho da equipe multidisplinar envolvida nessa etapa essencial, que resguarda um patrimônio brasileiro, mas que é parte da história do planeta e da humanidade.”

Mercedes lamentou que ainda não se tenha assegurados os recursos para garantir a execução completa das obras. “Esperamos fortemente que o poder público, o setor privado e a sociedade se mobilizem para permitir que o Museu Nacional siga cumprindo sua missão em plenitude e por muitas gerações”, completou Bustamante.

O diretor Álvaro Prata; o vice-presidente regional para o NE e ES, Anderson Gomes; o vp regional para SP, Glaucius Oliva; o vp regional para o Sul, Ruben Oliven; o diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner; a presidente da ABC, Helena Nader; o diretor Roberto Lent; a vp regional para o RJ, Patricia Bozza; o vice-presidente da ABC, Jailson Bittencourt; agachadas, a diretora Maria Vargas e a vp regional para MG e CO, Mercedes Bustamante

A Fênix

Para a presidente da ABC, Helena B. Nader, “foi especial compartilhar da emoção do diretor do Museu Nacional nos levando por cada sala, por cada pedaço sobrevivente, contando a história e falando sobre a recuperação com paixão. A visita nos mostrou que o museu vive, é a fênix que renasce das cinzas.”

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