A ciência não é, na maioria dos casos, um caminho óbvio a ser seguido. Muitos jovens entram na universidade sem saber o que vem depois e só mais tarde descobrem sua vocação para a pesquisa. Mas existem aqueles que começam cedo. A trajetória do novo afiliado da Academia Brasileira de Ciências Tiago Antônio de Oliveira Mendes demonstra a importância que a formação técnica e a iniciação científica têm, anterior à faculdade.

Mineiro de Belo Horizonte, Tiago era uma criança muito observadora e fascinada por ficção científica. Entre uma brincadeira e outra com os primos, gostava de ficar analisando pequenos detalhes da natureza. “Laboratórios e reações químicas sempre me fascinaram, assim com as estruturas e comportamentos complexos de plantas e insetos”.

O gosto pela natureza já aparecia na escola e o menino tinha predileção por química, biologia e matemática. Mas foi depois que saiu do ensino fundamental que esse gosto amadureceu e se transformou em vocação. Tiago conciliou o ensino médio com um curso técnico em química industrial no Cefet-MG, onde teve sua primeira experiência nos laboratórios de que tanto ouvia falar. “Fiz uma iniciação científica júnior que fez aflorar minha vontade de pesquisar, então direcionei toda a minha graduação para isso”.

Nessa primeira experiência, ele trabalhou com microbiologia e fermentação de alimentos, um projeto que lhe rendeu seu primeiro artigo científico. A vontade de ser cientista o fez optar pelo bacharelado em farmácia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde, inspirado pelas aulas da professora Daniella Bartholomeu (que foi membra afiliada da ABC de 2008 a 2012), desenvolveu um interesse especial pela parasitologia e pela biologia molecular. “Tamanha foi minha afinidade com a linha de pesquisa e o trabalho da professora que passei mais de dez anos sob sua orientação, até concluir meu doutorado”, contou Tiago Mendes.

Durante o mestrado, buscou identificar novos marcadores moleculares para o Trypanosoma cruzi, protozoário causador da Doença de Chagas. Já no doutorado – parte do qual realizou no Laboratório Europeu de Biologia Molecular (EMBL), em Heidelberg, Alemanha – Tiago migrou para a bioinformática, a partir da qual estudou a evolução e adaptação do gênero Leishmania, ao qual pertencem os agentes causadores da leishmaniose.

Para se desenvolver nessa área relativamente nova da biologia, Mendes atuou como pesquisador convidado na Universidade Aberystwyth, no Reino Unido, e na Universidade Queen’s Belfast, na Irlanda do Norte. “Trabalhei no desenvolvimento de métodos para identificação de novas moléculas antimicrobianas, gerando novas abordagens para o tratamento de antigas doenças”, resumiu o cientista.

Atualmente, Tiago Mendes é professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV), onde coordena um grupo de pesquisa sobre biologia sintética e modelagem de sistemas biológicos. O grupo atua desde a prospecção de novos alvos terapêuticos até a criação de novos produtos farmacêuticos, como ferramentas contra a resistência bacteriana, testes rápidos de covid-19 e novas vacinas para zoonoses que afetam animais domésticos e da pecuária. “O que mais me encanta na ciência é a capacidade de melhorar a qualidade de vida das pessoas. A interação entre a universidade e o setor privado é uma forma de transformar a realidade de quem faz a pesquisa e de quem a utiliza”, disse o Acadêmico.

A formação de recursos humanos se tornou uma das paixões de Tiago Mendes, que vê o ensino das futuras gerações como a mais importante contribuição do cientista ao seu país. Para ele, a eleição para a ABC é “um reconhecimento e um estímulo”, que pretende ter voz ativa na Academia na luta pela valorização da carreira, da divulgação científica e da internacionalização da ciência brasileira.

Nas horas vagas, Mendes cultiva vários hobbies. Pratica esportes, viaja sempre que possível e é fascinado por conhecer novas culturas. Apaixonado por gastronomia, adora descobrir novas receitas e se aventurar na cozinha de casa.