Escolher uma faculdade nunca é fácil e seguir a carreira dos pais se torna uma alternativa para muitas pessoas na hora da dúvida. No caso de Luiz Osório Silveira Leiria, essa decisão ainda teve uma forte carga emocional. Forçado a mudar de cidade por conta de um câncer repentino da mãe, teve que escolher um curso às pressas para realizar o desejo dela de vê-lo no ensino superior. Felizmente ela venceu a doença e pôde ver o filho alçar voos ainda mais altos até ingressar na Academia Brasileira de Ciências. 

Nascido em Alegrete, no Rio Grande do Sul, o novo membro afiliado cresceu com muito amor e apoio. Filho único de um agropecuarista com uma farmacêutica, Luiz seguiu a carreira da mãe. “Quando eu era criança minha mãe trabalhava em um laboratório de análises clínicas, e vem daí minha familiaridade com microscópios”, lembra o Acadêmico. 

Apesar da afinidade com biologia e química vir de berço, Luiz só despertou para a ciência na faculdade, na graduação em farmácia na qual entrou em 2005, na Universidade Franciscana (UFN) em Santa Maria, no mesmo estado. Inspirado pelos professores José Aparício Funck e Antônio Fontoura Pereira, a quem chama carinhosamente de Coquinho, resolveu fazer pesquisa. “Espero um dia inspirar outros jovens assim como eles fizeram comigo”, revelou. 

O novo Acadêmico fez iniciação científica em farmacologia, mas logo migrou para a área de controle de qualidade de medicamentos. Nessa nova fase, integrou um laboratório credenciado pela Rede Brasileira de Laboratórios Analíticos em Saúde (Reblas, onde fazia ensaios de equivalência farmacêutica. A experiência lhe possibilitou estagiar na indústria, onde chegou a ser efetivado ao se formar. 

“Nesse período, percebi que tinha talento para a pesquisa, mas que o meio corporativo não permitiria que eu me desenvolvesse cientificamente como gostaria”, contou. Foi então que decidiu largar a carreira no setor privado e voltar para o meio acadêmico. Fez então mestrado e doutorado na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM-Unicamp), sob orientação do professor Edson Antunes, com quem aprendeu muito sobre desenho experimental e aproveitamento de recursos. Além disso, o valor das relações humanas e da honestidade também foram ensinamentos importantes deixados pelo mestre. 

Conseguiu então uma bolsa da American Diabetes Association (ADA) para um pós-doutorado (2014 – 2017) no Centro de Diabetes Joslin da Escola Médica de Harvard, nos Estados Unidos. Lá teve como orientadores os professores Mauro Saad e Yu-Hua Tseng, com quem percebeu a importância de seu objeto de pesquisa e as inúmeras formas como poderia melhorar a vida das pessoas. Também aprendeu muito sobre gestão de pesquisa e pessoas. “Tive a sorte de ser supervisionado por grandes cientistas e pessoas generosas, que me deram uma dimensão bastante ampla e humanística da carreira acadêmica”, resumiu. 

Desde 2020 Luiz Osório é professor doutor do Departamento de Farmacologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP). Seus estudos são dedicados ao metabolismo energético, com foco em células específicas do tecido adiposo capazes de reduzir o açúcar e a gordura em circulação no organismo e, assim, combater a obesidade e a diabetes. “Para mim, o amor pela ciência se equilibra em dois pontos, um egoísta e outro altruísta. O egoísta está na satisfação de pisar em terrenos nunca explorados, na descoberta. Já o altruísta está na perspectiva de melhorar a vida das pessoas”, observa o Acadêmico sobre seu trabalho. 

Além de cientista, Luiz também é pai de três filhos, dois meninos e uma menina. Junto com a esposa, divide os cuidados do lar, das crianças e das cachorrinhas de estimação. Acostumados com a casa cheia, gostam de se encontrar com amigos e parentes sempre que podem. Quanto a ingressar na ABC, considera um orgulho e uma satisfação imensa ser reconhecido por seus pares como alguém capaz de contribuir para o progresso da ciência brasileira. “Pretendo ser atuante, ajudando a consolidar a ABC como órgão representativo dos cientistas brasileiros e que dá voz às demandas dos jovens que aspiram por melhores condições de desenvolvimento científico e tecnológico”, finalizou.