010Na percepção de Bruno Cogliati, os animais de estimação que teve na infância foram sua maior influência para a escolha da profissão. Nascido em 1981, na cidade de Jaú, no estado de São Paulo, ele foi o único da família que seguiu na carreira de cientista. Seus pais são formados em psicologia, mas apenas a mãe atuou por um período na prática clínica. O pai atua na área de controladoria e o irmão mais velho fez faculdade de fisioterapia.  

Bruno se considera um típico garoto paulistano criado em apartamento. Mas isso não foi um empecilho para que ele desenvolvesse o interesse pela ciência e pelos animais: desde pequeno, já delineava procedimentos experimentais, seguindo apenas conceitos básicos aprendidos em programas educativos e enciclopédias. “Fui uma criança extremamente curiosa, com interesse aguçado por novos conhecimentos, e a impossibilidade de colocá-los em prática apenas aumentava ainda mais minha curiosidade”, contou o pesquisador. 

A chácara da avó materna foi o lugar onde Bruno descobriu de fato a paixão pela ciência, e na casa da avó paterna, na capital paulista, foi onde ele deu os primeiros passos no universo científico. Lá vivia um casal de jabutis com mais de 40 anos de idade e, por conta do quintal cimentado, a fêmea colocava seus ovos embaixo da escada. Com isso, os filhotes nunca nasciam. Intrigado, Bruno buscou alternativas: “Nesta época, aos 12 anos de idade, desenvolvi uma incubadora artificial com areia e temperatura controlada para que os ovos pudessem eclodir. Para minha surpresa, um ovo chegou a eclodir, mas o filhote não sobreviveu”, lembra. Nos anos seguintes, o Acadêmico sofreu ao ver os cães de sua avó desenvolveram tumores de mama e ser incapaz de ajudá-los. “A impossibilidade de intervir, por falta de formação e conhecimento adequados, concretizou a certeza sobre meu futuro profissional. Não era apenas o amor e dedicação pelos animais que me motivava, mas também a busca por respostas para problemas ainda sem solução.” 

Em 2001, Bruno Cogliati ingressou na graduação em medicina veterinária na Universidade de São Paulo (USP). O Acadêmico conta que as disciplinas do primeiro ano da graduação foram bem generalistas e o ajudaram a identificar interesses nas áreas básicas das ciências biológicas e veterinárias. Seu primeiro contato com pesquisa científica ocorreu no final de 2001, durante as férias, num estágio realizado no Laboratório de Histofisiologia Evolutiva do Instituto de Ciência Biológicas (ICB) da USP.  Em sua experiência prática na área morfológica, ele pôde desenvolver habilidades específicas na área de histologia e microscopia, assim como se interessou pelos animais silvestres e exóticos, o que o levou a realizar alguns cursos nesta área nos primeiros anos.  

Logo no segundo ano da graduação, Cogliati  foi convidado para realizar um projeto de iniciação científica no Laboratório de Anatomia Microscópica e Imuno-Histoquímica do Departamento de Cirurgia da universidade. Adotou um modelo clássico de experimentação animal, utilizando ferramentas histológicas e imuno-histoquímicas para avaliar a eficácia terapêutica de uma solução inovadora. “Minha iniciação científica foi uma experiência que considero completa, pois permitiu o contato com todas as etapas da metodologia científica, desde a elaboração do projeto de pesquisa e de seu delineamento experimental, aprendizado e execução das metodologias propostas até a interpretação dos resultados, construção dos relatórios e, finalmente, divulgação em eventos científicos.” 

O período da pós-graduação, entre 2006 e 2011, permitiu a especialização de Cogliati em patologia molecular e biologia celular, além do aprofundamento de seus conhecimentos em microscopia e morfologia. Durante o doutorado, o Acadêmico deu sequência à sua linha de pesquisa: em sua tese, avaliou os aspectos morfológicos, histopatológicos e moleculares da fibrose hepática. Em 2010, ele concluiu o doutorado em patologia experimental pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, onde atua como professor desde 2011. É presidente do Escritório de Cooperação Internacional (CCInt) da FMVZ-USP e vice coordenador do Programa de Pós-Graduação em Patologia Experimental e Comparada da instituição. 

Em seu laboratório, Cogliati e seu time de pesquisadores têm direcionado seus esforços para o estudo de doenças hepáticas em modelos experimentais, animais e seres humanos, com ênfase no papel dos (hemi)canais de conexinas e panexinas nas lesões hepáticas agudas e crônicas. As conexinas e panexinas são as proteínas formadoras de canais e junções comunicantes, que são responsáveis pelo fluxo de moléculas e íons entre as células e/ou meio extracelular, desempenhando importante função no controle das características naturais dos tecidos. “Demonstramos que a inibição destes canais por peptídeos miméticos [um tipo específico de aminoácido] foi capaz de melhorar a função hepática e a estrutura do tecido”, relatou o pesquisador. Recentemente, o grupo se concentra em transpor os dados obtidos para organismos humanos, observando a expressão e a função destas proteínas e100m pacientes cirróticos, com Doença Hepática Gordurosa Não-Alcoólica (NASH, na sigla em inglês) e/ou hepatocarcinoma (HCC, considerado o “câncer primário” do fígado). 

O que encanta Bruno Cogliati na ciência “é a liberdade que ela nos proporciona para estudar os fenômenos naturais e desenvolver hipóteses sobre os mais variados temas.” Em sua área, especificamente, a possibilidade de estudar doenças tão comuns e importantes para seres humanos e animais o motiva a buscar novos marcadores e alvos terapêuticos, possibilitando um diagnóstico mais preciso e tratamentos possivelmente mais eficazes.