A afiliada Jaqueline Mesquita, que mediou o painel

Durante o último dia de atividades da 74ª Reunião Anual da SBPC foi realizado um importante painel sobre os desafios e perspectivas dos jovens cientistas brasileiros. O encontro teve a presença das membras afiliadas da Academia Brasileira de Ciências (ABC) Jaqueline Mesquita e Raquel Minardi, que representaram o grupo de trabalho de afiliados da ABC que vem desenvolvendo um survey para mapear o perfil do jovem pesquisador brasileiro. O trabalho contou com o apoio fundamental da presidente da Academia Brasileira de Ciências, Helena B. Nader. Também participou da mesa o pesquisador Alessandro Freire, do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), que colaborou na elaboração do survey.

Completaram o debate o ex-presidente da SBPC Ildeu Moreira; a pesquisadora do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) Sofia Aranha; e o presidente-eleito da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), Vinicius Soares.

Histórico dos pós-graduados brasileiros

Nas últimas três décadas o Brasil viu um aumento exponencial na titulação de mestres e doutores. De acordo com dados da Plataforma Sucupira, o país passou de 10 mil mestres formados ao ano em 1996 para 70 mil em 2019, e de menos de 4 mil doutores para quase 25 mil no mesmo período. Mas a tendência de crescimento se reverteu com a pandemia. “Torcemos para que seja apenas um represamento”, disse Sofia Aranha.

A pesquisa realizada pelo CGEE mostrou também uma resiliência maior de mestres e doutores no mercado de trabalho. Estes foram menos demitidos que a média nacional durante a recessão que atingiu o país entre 2014 e 2017. Entretanto, a situação vem se deteriorando rapidamente. A tendência é de queda nas remunerações e nas contratações, sobretudo de doutores recém-formados. Some a isso o valor completamente defasado das bolsas de pós-graduação federais – que não são reajustadas desde 2013 – e temos um cenário de fuga da pós graduação. “O Brasil ainda não formou gente suficiente”, alertou Aranha, lembrando que a relação de doutores por habitantes do país ainda está muito aquém dos países desenvolvidos.

Na mesma linha, Vinicius Soares defendeu o reajuste urgente das bolsas de pós-graduação para valores compatíveis com a inflação acumulada, e a contagem dos anos de pós-graduação para o tempo previdenciário. Ele lembrou também que o país vem perdendo mão-de-obra qualificada para o subemprego ou para o exterior. “Estamos desperdiçando uma janela demográfica única. A maior parte da população está em idade economicamente ativa, mas acaba em postos de menor qualificação ou trabalhando para o desenvolvimento de outros países”, argumentou.

Dentre os problemas listados, o presidente-eleito da ANPG criticou a falta de um plano de desenvolvimento científico que valorize o pesquisador, e o modelo acadêmico atualmente praticado no Brasil, muito voltado para dentro. “Precisamos de um país onde cada pessoa seja introduzida à CT&I desde a escola, e onde os ambientes acadêmico e econômico interajam de forma que mestres e doutores sejam melhor absorvidos pelo mercado de trabalho”.

Ainda de acordo com a pesquisa do CGEE, em 2017, 75% dos pós-graduados empregados no Brasil estavam no setor da educação, e, destes, 83% se encontravam alocados no ensino superior. “Óbvio que professores são imprescindíveis, mas temos um contingente grande de mestres e doutores que poderia contribuir também com as necessidades que o mercado atual vem impondo”, concluiu.

Ildeu Moreira lembrou de uma pesquisa feita em 2019 pelo INCT em Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT), que revelou que dois terços dos jovens entre 15 e 24 anos têm interesse por ciência, mas a ampla maioria não sabe citar o nome de um pesquisador ou instituição científica brasileira. “Temos a necessidade de aumentar o número de pessoas trabalhando na área, e temos de onde tirar”, afirmou o ex-presidente da SBPC.

A afiliada Raquel Minardi durante apresentação no painel virtual

Perfil do Cientista Brasileiro

Raquel Minardi e Alessandro Freire apresentaram um pouco do survey que o grupo de trabalho criou para entender melhor quem é o jovem cientista brasileiro. A pesquisa é fruto do trabalho voluntário de 87 pessoas de todas as regiões do país, visando englobar a imensa diversidade nacional e as várias áreas da ciência. “Nosso público-alvo são pessoas que terminaram o doutorado a partir de 2006 e que possuem vínculo formal com instituições de ensino e pesquisa, públicas ou privadas, no Brasil ou no exterior”, explicou Minardi.

O formulário aborda diversas questões como: perfil socioeconômico, diversidade de gênero e raça, liderança científica, realização profissional, trajetória, maternidade/paternidade na academia, parcerias com o exterior, fuga de cérebros, dentre outros aspectos. “Esperamos ter resultados elucidativos que sirvam de base para comparações e análises mais aprofundadas; mas, para isso, precisamos da colaboração de todos”, disse Freire.

Participe do survey Perfil do Cientista Brasileiro até 15 de setembro.