Confira a entrevista do Acadêmico Amílcar Tanuri para o Jornal O Globo, publicada em 29/07.

As crianças estarão em risco enquanto o vírus monkeypox estiver em circulação. Considerado um dos virologistas mais experientes do Brasil, Amílcar Tanuri adverte que elas são o grupo mais vulnerável à varíola dos macacos e destaca que ninguém sabe quais serão os efeitos da doença entre elas. O país tem condição de erradicar o vírus, mas precisamos intensificar a identificação de possíveis casos e a testagem, fazendo o controle adequado, afirma Tanuri, coordenador do Laboratório de Virologia Molecular da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Havia necessidade de a OMS declarar emergência de saúde pública internacional?

Sim. Ela precisava mobilizar esforços, pois pessoas e governos não estão dando a devida importância a um vírus que se espalha depressa e tem potencial de causar problemas graves nos mais vulneráveis, sobretudo crianças. A variante que se propagou a partir da Bacia do Congo se diferenciou tanto que, a meu ver, deveria ser considerada uma nova linhagem.

Qual é a maior preocupação neste momento?

É com as crianças e as gestantes, que são as mais vulneráveis. A varíola dos macacos começou em janeiro e chegou ao Brasil em junho. Hoje há pouco mais de mil casos em adultos no Brasil, um aumento substancial em pouco tempo. Mas não temos a menor ideia de quantos realmente existem. E não sabemos porque não testamos.

Por que as crianças merecem mais atenção se não estão sendo afetadas agora?

Pelo histórico de casos na África, onde são as maiores vítimas. O vírus se aproveita do sistema imunológico imaturo e provoca casos mais graves. Não sabemos como a nova variante vai se comportar com elas.

Há casos em crianças aqui?

Sim. Na UFRJ identificamos o caso de uma paciente de 13 anos (depois da entrevista, São Paulo confirmou três registros em crianças). Nos EUA há ao menos dois registros.

E as grávidas?

Preocupam pelo mesmo motivo. A entrada de um vírus novo em grupos vulneráveis é algo para se encarar com extrema seriedade, e não é o que estamos vendo.

Por que o vírus que se espalha agora é tão diferente?

Isso não sabemos. Mas ele provoca um quadro diferente em adultos, com lesões mais localizadas e quase sempre mais brandas, com baixa patogenicidade. O tempo de transmissão, porém, praticamente dobrou, chega a 21 dias. E ele é altamente resistente a sobreviver no ambiente, em roupas, por exemplo. Para piorar, sem diagnóstico laboratorial é muito difícil identificá-lo, pode ser facilmente confundido com a catapora.

(…)

 Se fala em transmissão sexual. Ela é possível?