Leia artigo do vice-presidente da ABC para a Região Norte, Adalberto Luis Val (pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – Inpa) e Claudia Buzzette Calais (diretora-executiva da Fundação Bunge), publicado em O Globo, em 2/8:

Qual órgão é mais importante, o coração ou os pulmões? A pergunta parece absurda, já que a única resposta plausível é “ambos”. Cada parte cumpre uma função, e a interação entre todas é o que sustenta a vida. Não há uma escala de prioridade entre órgãos vitais, mas sim complementaridade.

Se é fácil compreender essa ideia, então talvez devêssemos pensar os grandes problemas ambientais da mesma maneira. O último Fórum Econômico Mundial discutiu exaustivamente o tema da segurança alimentar. O assunto ganhou centralidade por causa do conflito na Ucrânia, que desestabilizou as cadeias globais de produção de alimentos.

A guerra é conjuntural. Ainda que dure mais que o previsto, sabe-se que o mercado encontrará estratégias para retomar algum equilíbrio. No médio prazo, o que ameaça mais gravemente a segurança alimentar é aquilo que pesquisadores como Ilona Szabó têm chamado de “tripla crise planetária”: mudança climática, perda da biodiversidade e aumento da poluição. Se não conseguirmos frear esses problemas sistêmicos, comprometeremos seriamente a capacidade das próximas gerações de garantir comida.

Diante desse desafio, é comum ouvir que devemos privilegiar a agricultura familiar e os pequenos produtores em detrimento do agronegócio. A ideia parece convincente, mas é um falso dilema. Esses dois modelos de produção são complementares e igualmente fundamentais para a segurança alimentar do planeta.

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Como os hábitos alimentares de um povo são parte fundamental de sua identidade e de sua herança histórica, a valorização da agricultura de pequeno porte protege também a diversidade cultural. Mas isso não significa que o agronegócio tenha papel irrisório na segurança alimentar. Embora voltados principalmente para o
mercado global de commodities, os grãos servirão de ração para a produção de proteína animal ou serão transformados em combustível, garantindo a logística de distribuição dos alimentos. A relação entre a agroindústria e a pequena lavoura não é de oposição; ambas podem operar de maneira sustentável.

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De forma complementar, é preciso investir mais no pequeno produtor rural, permitindo que se aproprie da tecnologia e do conhecimento que darão solidez a sua produção. Com o avanço da crise climática global, o risco da escassez de alimentos se tornou uma ameaça tangível. Um bom começo seria compreender que é preciso cobrar responsabilidades e melhorar nossa relação com o meio ambiente e que a grande e a pequena lavoura têm papéis complementares na garantia da segurança alimentar.


Leia a matéria na íntegra no site de O Globo.