O Acadêmico Roberto Augusto DaMatta recebeu as Medalhas Machado de Assis e João Ribeiro, honrarias da Academia Brasileira de Letras (ABL). A entrega dos prêmios ocorreu na quarta-feira, 20/7, durante a solenidade comemorativa dos 125 anos da ABL. A professora Maria Domingues Vargas, diretora da ABC, compareceuà cerimônia representando a presidente da Academia Brasileira de Ciências, Helena B. Nader.

Os prêmios

O Prêmio Machado de Assis é o principal prêmio literário brasileiro, surgido em 1941. É oferecido pela ABL a escritores brasileiros, pelo conjunto de sua obra, desde 1941. A Medalha João Ribeiro homenageia, desde 1962, pessoas ou instituições nacionais que se destacavam no âmbito editorial e cultural.

O premiado

Roberto DaMatta é doutor em antropologia social pela Universidade de Harvard (EUA) e pioneiro nos estudos de rituais e festivais em sociedades industriais, tendo investigado o Brasil como sociedade e sistema cultural por meio de aspectos como carnaval, futebol e música e das categorias de tempo e espaço. Recebeu inúmeros prêmios ao longo da carreira, incluindo Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico (1995) e Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico (2002) e foi incluído na lista “100 Brasileiros Geniais” (2006) do Jornal O Globo. Atualmente é professor titular da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e professor emérito da Universidade de Notre Dame (EUA).

Discurso de agradecimento pelo prêmio Machado de Assis concedido pela ABL em 20 de julho de 2022

O discurso

Da Matta avaliou o ofício que o levou até ali: “Escrever é um ato que tudo permite: amar e matar, ter muitas vidas e visitar tanto Macondo quanto Paris, Passargada, e o sertão que um de vós, Guimarães Rosa, dizia estar em toda parte.

Agradeceu o prêmio que lhe foi ofertado pelo conjunto do que fez e publicou, “em dezenas de livros e centenas de ensaios, bem como numa vida que a partir dos vinte anos, foi imolada ao ensino num país no qual diz-se sorrindo para encorajar os professores que ‘quem sabe, faz; e, quem não sabe, ensina'”.

Ele finalizou invocando Machado de Assis: “O fato de que somos humanos porque não temos cio ou rumo definitivo, somos permanentemente construídos. Nascemos José mas podemos morrer Maria e vice-versa. Daí a nossa imensa arte de inventar ironias. Como disse Deus ao Diabo, decepcionado após criar uma igreja na qual o pecado era virtude, pois descobriu que nela havia muitos virtuosos ou pecadores ao avesso.
– Que queres tu, meu pobre Diabo? As capas de algodão têm franjas de seda, como as de veludo tiveram franjas de algodão. Que queres tu? É a eterna contradição humana…”

O Acadêmico disse que nada fez para receber o prêmio, “senão pecar revelando a profunda desigualdade brasileira, e tentando rasgar o múltiplo véu de nossa calcificada ambiguidade. Pois somos ardentes democratas com os amigos, mas ferrenhos aristocratas com os outros.”