No dia 1º de junho aconteceu o primeiro de uma série de eventos mensais organizados pela Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp) para homenagear os 60 anos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Cada episódio irá debater um capítulo do livro “FAPESP 60 Anos: A Ciência no Desenvolvimento Nacional”, de editoria conjunta das duas instituições e que contou com a contribuição de vários Acadêmicos. O primeiro capítulo trata de internacionalização e pesquisa colaborativa. 

Participaram da reunião os membros titulares da Academia Brasileira de Ciências (ABC) Helena Nader (presidente da ABC), Marco Antonio Zago (presidente da Fapesp), Vanderlan Bolzani (presidente da Aciesp), Hernan ChaimovichAdriano Andricopulo, Jorge Almeida Guimarães e Edgar Zanotto

Ciência e São Paulo 

O estado de São Paulo é responsável por 40% da pesquisa brasileira e por formar 45% dos doutores do país. O sistema de CTI do estado conta com 3 universidades estaduais, 4 federais, 22 Institutos de Pesquisa, além de 75 faculdades estaduais de tecnologia (Fatecs), que, nas palavras de Chaimovich, “mostram que as universidades não são a única opção para aperfeiçoamento de nível superior”. Esses resultados são possíveis em um estado que dedica 13% do orçamento para ensino superior, pesquisa e desenvolvimento, e que tem a mais proeminente Fundação de Amparo a Pesquisa do país, a Fapesp.  

62% do investimento em ciência de São Paulo vem de fontes estatais, mas esse dinheiro não fomenta apenas a formação de pesquisadores paulistas. “Desde meu mestrado que a Fapesp me apoiou no sonho de ser cientista, é uma instituição ímpar na América do Sul”, disse a Acadêmica paraibana Vanderlan Bolzani. “Nesse momento tão difícil para a ciência, precisamos eternizar nossas histórias”, completou. 

Internacionalização e pesquisa colaborativa 

“Pesquisa colaborativa é endêmica à sociedade globalizada”. Foi com essas palavras que o Acadêmico Hernan Chaimovich abriu a apresentação do primeiro capítulo da publicação feita em conjunto pela Aciesp e Fapesp. Na maior parte das vezes essa colaboração é feita à nível individual entre os próprios pesquisadores, mas cabe as agências de fomento criar políticas de incentivo para que esse fluxo de ideias seja duradouro e independente de relações pessoais.  

A ciência brasileira se internacionalizou bastante a partir dos anos 90. A colaboração com pesquisadores estrangeiros aumentou em todas as áreas. Apesar de cientistas nacionais sempre terem sido incentivados a buscar formação no exterior, esse processo se tornou muito mais institucional nas últimas décadas. “Não é apenas mobilidade”, frisou Chaimovich, “é o pesquisador brasileiro atuando de forma reflexiva na concepção e elaboração dos projetos. Sem isso ele é apenas mão-de-obra para o cientista estrangeiro”. 

A Fapesp possui hoje acordos de cooperação com institutos e cientistas de todos os continentes. São vários os modelos de fomento à internacionalização, como o programa Novas Fronteiras e as Bolsas de Estágio de Pesquisa no Exterior (BEPEs), que financiam intercâmbios de curto e médio prazo; a Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA) e a São Paulo Excellence Chair (SPEC) que buscam atrair pesquisadores estrangeiros destacados; o projeto São Paulo Researchers in International Collaboration (SPRINT), que incentiva a criação de grupos de pesquisa internacional; e a própria Biblioteca Virtual da Fapesp em inglês, que se tornou uma ferramenta importante para que cientistas de outros países busquem colaboradores no Brasil. 

A porcentagem de publicações com co-autoria de universidades e empresas privadas no Estado de São Paulo é de 4%, estando na média de todas as universidades americanas. “Isso derruba o mito da academia fechada que não dialoga com o setor privado”, argumentou Chaimovich. 

O Acadêmico destacou também a participação da Fapesp em organismos de ciência internacionais, como o Conselho Internacional de Ciência, o Conselho de Pesquisa Global, a Parceria InterAcademias, entre outras organizações. “A sobrevivência da humanidade depende da capacidade de compartilhar ferramentas para superar as múltiplas crises que enfrentamos, sendo a ciência a maior delas”, concluiu. 

Fapesp e o desenvolvimento nacional 

“Nós não podemos esquecer que o mundo hoje é inserido na sociedade do conhecimento, como diz as Nações Unidas. Essa sociedade do conhecimento depende, e se caracteriza, pelo desenvolvimento científico e tecnológico com um objetivo: aprimorar a condição humana. E a Fapesp faz isso”, aponta Helena B. Nader, presidente da ABC. 

De acordo com a cientista, a excelência da Fapesp na produção de evidências tem sido essencial para influenciar o surgimento de políticas públicas e tomada de decisões em diversas áreas. Como exemplo, ela comenta os impactos de iniciativas da Fundação no meio ambiente, como o Programa Biota Fapesp, que propôs a restauração e compensação da Reserva Legal (RL) com base em dados gerados em seus laboratórios. “No mundo pós-covid 19, ficou ainda mais claro que a única maneira de sair da crise econômica investindo em ciência e educação; aproveitando esta visão, a Fapesp já está olhando para a educação básica”, outro ponto positivo destacado por Nader. 

A principal forma de fazer com que políticas públicas eficazes sejam implantadas é através de colaborações. No Brasil, a visão errônea de cortar os recursos de CT&I, em especial 46% dos recursos do FNDCT, desrespeitando leis aprovadas. Nader pontua que políticas de estado baseadas em evidência devem assumir o foco de mitigar as mazelas sociais que impactam a sociedade como um todo. “A Fapesp tem feito isso como um todo, buscando focar em diversidade de conhecimento e em uma sociedade que respeite o meio ambiente e o outro”. 

Para Jorge Almeida Guimarães, a Fapesp é formada por um conjunto de ações e a internacionalização é uma delas: “Nosso objetivo é fomentar a ciência e tecnologia no Brasil, de modo que a internacionalização seja fruto da eficiência com que a Fapesp conduziu suas pesquisas.” 

A consistência da Fapesp na internacionalização de suas pesquisas é fruto de programas extremamente organizados e estruturados, que indicaram o melhor caminho a seguir na busca dos parceiros internacionais. Hoje, a excelência é demonstrada em gráficos que mostram a evolução do próprio sistema de ciência do estado. “A Fapesp aprecia, pratica e conduz um modelo de flexibilidade de alta importância para a ação de fomento à ciência”, disse o Acadêmico. 

O Acadêmico Edgar Zanotto comentou sobre a cientrometria, ou seja, o estudo da mensuração e quantificação do progresso científico baseado em indicadores bibliométricos. O pesquisador afirma que a estratégia é utilizada para avaliar a visibilidade – e não a qualidade – dos projetos. É importante que a ciência seja visível e a internacionalização 

Para medir os níveis cientométricos dos projetos da Fapesp, os pesquisadores utilizam os critérios da Universidade de Stanford dentre os mais de 100 existentes. A escolha ocorre por ser o único que é uma composição de 6 índices, que levam em conta a visibilidade, número de leituras e citações.