Leia matéria da Coppe/UFRJ, instituição de excelência dirigida pelo Acadêmico Romildo Toledo:

A participação feminina nas áreas científicas tem progredido. Mas o quadro atual mostra que é preciso construir um futuro ainda melhor, com maior paridade de gênero em STEM – Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática. Justamente para que tal equilíbrio seja alcançado, pesquisadores da Coppe/UFRJ e do Instituto Superior Técnico (IST) de Lisboa, desenvolveram o projeto Jornada de Aprendizagem da Heroína (Heroine’s Learning Journey). Trata-se de uma iniciativa voltada para a capacitação de alunas, com idades entre 15 e 21 anos, de forma a melhorar suas habilidades e as motivar a atuarem nas áreas STEM. Áreas em que no Brasil as mulheres respondem por apenas 31% mercado de trabalho e 33% no ensino superior.

O projeto é executado por pesquisadores do Laboratório do Futuro e do Laboratório de Ludologia, Engenharia e Simulação (Ludes), ligados ao Programa de Engenharia de Sistemas e Computação da Coppe, em parceria com o Departamento de Matemática do IST de Lisboa. Sua primeira aplicação será durante um curso gratuito de Aprendizado de Máquinas (machine learning), com matemática e ética, na plataforma IST MOOC, que será oferecido, principalmente no Brasil e em Portugal, no próximo mês, em março de 2022. Todas as alunas que completarem o curso integralmente e realizarem as avaliações receberão certificado ao final.

O pesquisador do Laboratório do Futuro, Yuri Lima, diz que o equilíbrio de gêneros no ensino superior na área de STEM pode demorar mais de 20 anos, caso se mantenha o atual ritmo de crescimento da participação feminina, que é de 0,47%, em média, ao ano. O pesquisador da Coppe explica que o patamar mínimo de paridade de gênero nestas áreas científicas é de 45%, e que para este percentual ser atingido serão necessários 24 anos se não houver uma aceleração na presença das mulheres.

A previsão tem como base dados do projeto Igualdade STEM [Ciência,  Tecnologia, Engenharias e Matemática, na sigla em inglês] que mostram que em 2010 a participação feminina no total de alunos formados em STEM era 29,5% e, em 2019, ampliou para 33,7%, resultando em um salto de 4,2% em dez anos. Caso seja levado em conta os cursos ligados à área da Tecnologia como Ciência da Computação, a participação feminina é menor ainda, em torno de 11%. O levantamento revela também que as mulheres representam 60% dos alunos de todos os cursos de ensino superior e 66% dos que não envolvem STEM. “As mulheres estão sub-representadas nos cursos de ensino superior e, consequentemente, no mercado de trabalho das áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática. Foi o desafio de reverter este quadro em menos tempo do que o previsto, que motivou o desenvolvimento da Jornada de Aprendizagem da Heroína”, explica Yuri.

A iniciativa de se criar o projeto Jornada de Aprendizagem da Heroína tem como base o estudo do aluno de doutorado da Coppe, Luis Felipe Coimbra Costa, que realiza sua pesquisa no Ludes. O principal objetivo é que o projeto seja um “quadro de motivação” que ajude as alunas a superar os desafios que estão presentes em um curso STEM. “Isso é feito orientando a aquisição de novas habilidades e conhecimentos, apresentando modelos inspiradores, apoiando a confiança e a autorregulação da aprendizagem. O nosso modelo de jornada é projetado para ser flexível, levando em consideração os recursos tecnológicos e/ou humanos disponíveis para a implementação do curso, de forma a se propiciar diferentes escolhas possíveis para as funções a serem desempenhadas”, explica Luis Felipe, que também está realizando trabalho de campo sobre o assunto no IST.

De acordo com o pesquisador da Coppe, a inserção de mulheres em STEM passa por diversos desafios que incluem toda a construção social de ideias que são ouvidas por meninas desde a infância. Luis Felipe explica que elas ouvem que são melhores em “atividades de cuidado” e não “foram feitas para as exatas”. Então, ao ingressar em um curso voltado para a área de STEM, além de toda essa visão negativa que receberam ao longo da vida, as mulheres ainda encontram uma linguagem machista, lidam com preconceito e exclusão por serem minorias não tendo suas ideias ouvidas de maneira igualitária ou nem mesmo tendo espaço para se expressar. Por isso, Luis Felipe diz ser fundamental que qualquer curso voltado para a formação de mulheres em STEM tenha um cuidado especial com relação à motivação das jovens mulheres tanto para a sua entrada quanto para a sua permanência ao longo da formação.

O Jornada de Aprendizagem da Heroína pode ser acompanhado pelo site  https://heroicjourneys.life e mais informações estão disponíveis no site do projeto.