O universo está em expansão acelerada. Essa descoberta rendeu ao astrofísico Saul Perlmutter o prêmio Nobel de Física em 2011. Ele foi um dos convidados para o Diálogo Prêmio Nobel América Latina e Caribe, e participou de um debate com alunos da região sobre a carreira científica e a situação da ciência no mundo atual.

Perguntas fundamentais, como as propriedades físicas do universo, são o pontapé inicial do trabalho científico e o percurso para respondê-las acaba gerando inovações e aplicações que nunca seriam pensadas. Durante toda a conversa, Perlmutter reforçou a necessidade de se valorizar e investir em ciência básica. Entretanto, o trabalho científico não é apenas descobrir. A filosofia da ciência é parte integral, que o pesquisador acredita não ser estimulada o suficiente.

Saul Perlmutter participou da sessão 3 do evento, moderada pelo diretor científico do Prêmio Nobel, Adam Smith. Os 16 alunos participantes tiveram a oportunidade de levantar questões e contribuir para o debate com suas próprias experiências.

Filosofia científica

A ciência é a busca pela verdade a partir de métodos que se sustentem em evidências do mundo observável. Perlmutter faz questão de enfatizar esse ponto, pois acredita que o pensamento científico não é exclusividade da profissão, mas permeia toda a sociedade. “Todos nós fazemos ciência no dia-a-dia, muitos nem se dão conta. Ensinar esse modo de pensar às pessoas é fundamental”.

Para que esse estímulo seja possível, o pesquisador acredita ser crucial que o trabalho, tanto na academia quanto no setor privado, seja mais flexível. “Parte da ciência é reconhecer erros, abandonar ideias antigas. Isso fica muito difícil quando as pessoas estão em constante medo por suas carreiras”.

Entender que a ciência é um processo empírico e que verdades de hoje podem ser descartadas amanhã faz parte dessa compreensão. Para Perlmutter, um dos grandes problemas na pandemia foi essa desconexão do público com a realidade das pesquisas. “Não bastava apenas expor os fatos, mas considerá-los em conjunto com a realidade, as aspirações e os valores de cada país”, analisou.

Apesar de tudo, Perlmutter se mantém otimista, e acredita que com a automatização das produções materiais, cada vez mais pessoas poderão focar em trabalhos filosóficos e criativos, e também na educação das futuras gerações.

Importância da ciência básica

Astrofísico e fascinado pelas perguntas fundamentais do universo, o cientista admite que sua área pouco vislumbra aplicações a curto prazo. Entretanto, além do valor intrínseco da curiosidade intelectual, ele lembra de exemplos históricos envolvendo pesquisas básicas. “A teoria da relatividade de Einstein tentava responder um problema filosófico, e serviu de base para tecnologias que hoje são fundamentais, como o GPS”.

O desenvolvimento tecnológico é, muitas vezes, um subproduto da ciência básica. “Na astrofísica, temos casos de sensores que são desenvolvidos para auxiliar numa pesquisa cósmica específica e que depois são usados na medicina, por exemplo”.

Colaboração científica

“Não existe cientista solitário, é um trabalho feito por muitas mãos”, afirmou Perlmutter, que enfatizou durante toda a sessão a importância do trabalho em grupo. “Parte importante da ciência é reconhecer os próprios erros, saber quando é hora de mudar o caminho. Nessas horas, o feedback de colegas é fundamental”, avaliou.

Falando para um público de países em desenvolvimento, o pesquisador reconheceu que os desafios que os estudantes enfrentam são ainda maiores. Nesse sentido, a solidariedade científica se torna ainda mais presente. Segundo Perlmutter, “a cultura científica tem uma longa tradição internacionalista. Pesquisadores podem e devem se ajudar quando as dificuldades aumentam em determinada região”.

O laureado também refletiu sobre a história da ciência, reconhecendo que certas perguntas ainda não foram – e talvez não nunca sejam – respondidas. “Se conseguiremos um dia ter todas as respostas não sabemos, é um grande mistério, mas gosto sempre de pensar em como são incríveis todos os avanços que obtivemos”.

 

Assista a sessão completa com Saul Perlmutter, no canal do Prêmio Nobel no YouTube.

 

Os participantes da Sessão 3 do Diálogo Nobel