Confira o artigo  de opinião escrito por Luiz Davidovich, presidente da ABC, para O Globo. Publicado em 11/11, o texto reflete sobre descobertas feitas na pandemia, o corte nas verbas para ciência e o evento da ABC em parceria com o Prêmio Nobel, que ocorrerá na próxima semana.

 

Qual é a origem da vida? Foi para responder a essa pergunta ousada, filosófica e existencial que a microbióloga francesa Emmanuelle Charpentier e a bioquímica americana Jennifer Doudna começaram a pesquisar bactérias antigas encontradas em lagos isolados do Canadá.

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Charpentier e Doudna entenderam então que as letras eram de vírus que haviam atacado as bactérias no passado, fazendo com que elas desenvolvessem enzimas para cortar os vírus. Assim, as bactérias passaram a armazenar dentro de si as sequências desses vírus para que pudessem reconhecê-lo no futuro. Ou seja, uma espécie de vacina natural. A partir daí, as duas pesquisadoras desenvolveram um método que copia e pode cortar e “editar” essas enzimas, conhecido hoje pelo acrônimo CRISPR.

Foi precisamente tal conhecimento que possibilitou o desenvolvimento da tecnologia do RNA mensageiro, usada na criação de vacinas contra a Covid-19. A tecnologia, que também faz esses cortes de vírus, permitiu produzir imunizantes contra o novo coronavírus no tempo recorde de menos de um ano, à frente até das previsões mais otimistas.

Pela ferramenta revolucionária capaz de “editar” a estrutura do DNA humano e até evitar doenças genéticas, as duas cientistas ganharam o Prêmio Nobel de Química em 2020.

Em 16 de novembro, Charpentier e outros quatro ganhadores do Prêmio Nobel participarão de um encontro com 80 estudantes do Brasil e da América Latina, uma parceria da Academia Brasileira de Ciências com o Nobel Prize Outreach. O encontro é um esforço para incentivar novos cientistas e pesquisas a gerar descobertas tão revolucionárias e importantes como a do CRISPR. É um exemplo que o governo deveria seguir.

Os recentes cortes de verbas para a ciência brasileira, no entanto, evidenciam a falta de uma política pública para a área, mesmo em meio a uma das piores crises sanitárias do país. Nem as pesquisas diretamente relacionadas à pandemia e a outros temas urgentes resistirão sem os recursos já previstos em orçamento. Que dirá as mais básicas, que, como o estudo de Charpentier e Doudna demonstra, frequentemente dão origem a inovações que mudam o cotidiano da humanidade?

O trabalho de Charpentier e Doudna, que evoluiu para se tornar uma das maiores revoluções da ciência moderna, deu as bases para a elaboração de vacinas contra o novo coronavírus em tempo recorde. É uma ótima demonstração de que o investimento do Estado em ciência deve ser permanente e para além de emergências.

 

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