Confira o artigo de Pedro Hallal (membro afiliado da ABC 2008-2013), publicado em sua coluna na Folha de S. Paulo em 19/10. No texto, o pesquisador responde às principais dúvidas que a população possui sobre a pandemia COVID-19. Hallal  é professor Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e coordenador do Epicovid-19, o maior estudo epidemiológico sobre coronavírus no Brasil.

São tantos os estragos causados pela pandemia de Covid-19, no Brasil e no mundo, que muitas vezes vejo as pessoas perguntando: precisava ser assim? Para tentar responder a essa pergunta, na coluna de hoje tento passar uma visão sobre dez dúvidas que ouço seguidamente, seja na rua ou nas redes sociais.

Havia como evitar que a pandemia chegasse ao Brasil?
Realisticamente, a resposta é “não”. Apesar de o vírus ter chegado ao Brasil algumas semanas depois da Europa (primeiro continente afetado depois da Ásia), a verdade é que a disseminação do coronavírus era inevitável.

Havia como evitar que houvesse milhares de mortes por Covid-19 no Brasil?
Realisticamente, a resposta é “não”. Um país com dimensões continentais como o Brasil inevitavelmente teria milhares de mortes por Covid-19.

Definitivamente, a resposta é “sim”. A Austrália, que também tem dimensões territoriais, e que também tem boas estatísticas em saúde, teve 59 mortes para cada 1 milhão de pessoas, contra 2.818 mortes para cada 1 milhão de pessoas no Brasil. A mortalidade por Covid-19 no Brasil é 47 vezes maior do que a da Austrália e cinco vezes maior do que na média de todos os outros países (fora o Brasil).

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Havia como ter vacinado mais brasileiros em menos tempo?

“Sim”, e isso teria mudado a história da Covid-19 no Brasil. O maior problema do Brasil não foi ter começado a vacinação em janeiro de 2021, mas sim ter mantido uma média pífia de menos de 300 mil pessoas vacinadas por dia nos primeiros meses da campanha de vacinação. Tivesse o Brasil comprada as vacinas quando elas foram ofertadas ao Brasil, o país poderia já ter começado a campanha de vacinação com 1 milhão de doses por dia —isso teria poupado pelo menos 100 mil vidas.

​Havia como ter protegido vidas e a economia ao mesmo tempo?
Definitivamente “sim”. O discurso empregado desde o começo da pandemia de que havia uma encruzilhada entre proteger a saúde ou a economia é falso. Dados de pandemias e epidemias ao longo da história, e da própria pandemia de Covid-19, mostram que o controle da pandemia é o fator mais importante para a recuperação econômica. Em outras palavras, se a ideia era proteger a economia, a primeira coisa a ser feita seria controlar a pandemia.
 
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tratamento precoce é responsável por muitas mortes no Brasil?
Certamente que “sim”. Não o tratamento em si, mas o discurso falacioso sobre a eficácia do tratamento precoce. Muitas pessoas confiaram nas notícias falsas de que havia um coquetel de medicamentos que as impediria de morrer caso infectadas pela Covid-19. Infelizmente, muitas dessas pessoas acabaram se expondo ao vírus e, consequentemente, perdendo a vida.

A polarização atrapalhou o enfrentamento da pandemia no Brasil?
Definitivamente “não”. Praticamente todos os 200 países do planeta Terra enfrentam polarização interna e quase todos têm resultado muito melhor do que o nosso no enfrentamento da pandemia. No Brasil, o que atrapalhou o enfrentamento da pandemia foi a postura anti-ciência adotada pelo governo federal, e mais especificamente pelo presidente da República. Ao negar a gravidade da pandemia, ao estimular uma guerra contra governadores e contra o Supremo Tribunal Federal, ao promover tratamentos ineficazes, ao propagar notícias falsas sobre políticas de distanciamento, ao desestimular a vacinação, ao dar mau exemplo sobre o uso de máscaras, o presidente brasileiro atuou como um embaixador do vírus no país, inviabilizando o enfrentamento adequado à pandemia.

CPI da pandemia ajudou ou atrapalhou?
​Definitivamente ajudou. Não fosse à CPI, muitas dessas informações não seriam de conhecimento do grande público. Além disso, a CPI escancarou redes de corrupção na compra de vacinas e no Ministério da Saúde em geral, além de trazer à população informações assustadoras sobre experimentos antiéticos realizados com seres humanos.

 

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