A 12ª Mentoria da ABC ocorreu em 24/9 e teve Liderança Científica como pauta de debate. Nesta edição de setembro, Jaqueline Mesquita, membro afiliada da ABC e professora da da Universidade de Brasília (UnB), mediou o bate-papo entre os Acadêmicos Claudio Landim, do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), e Gregório Pacelli, da Universidade Federal do Ceará (UFC). Os Acadêmicos, ambos graduados em matemática, possuem um extenso currículo de colaborações e pós-doutorados internacionais.

“Meu primeiro conselho é: saiba dizer não”, introduz Landim, doutor em matemática pela Universidade Paris Diderot. “É sempre difícil saber em que direção caminhar, em que área investir. Cada área possui impactos e competências diferentes.”

Para o diretor adjunto do Impa, o melhor caminho a seguir é aproveitar a liberdade enquanto ainda é um jovem pesquisador para viajar e adquirir experiências no exterior, para depois começar a assumir responsabilidades. “A ideia é que, aos poucos, você se torne um chefe de orquestra”, explica o Acadêmico. “Talvez você não esteja propriamente mostrando as desigualdades, mas como já tem bagagem, você tem uma visão que os jovens não têm. Você se torna capaz de estimular os jovens a aprender novas técnicas para o que se sente velho demais pra aprender.”

Landim incentiva os pesquisadores a planejarem sua vida científica e acadêmica através da perspectiva de que suas funções irão mudar ao longo da carreira. Com os anos de pesquisa, é esperado que os profissionais deixem de atuar diretamente na resolução do problema, assumindo responsabilidades administrativas e tornando-se orientadores.

Pacelli completou a fala anterior, afirmando que o jovem cientista precisa aproveitar o entusiasmo do começo da carreira para abraçar oportunidades e fazer sua própria medida. “No começo, você pode trabalhar 60, 80 horas por semana. Eventualmente, você declina”, alerta o professor. Pacelli, que concluiu pós-doutorados na Alemanha, na Itália, na Espanha e nos Estados Unidos, acredita que apesar de os tempos de pandemia terem encurtado as oportunidades de viagens, os seminários virtuais ampliaram as redes de contatos. No entanto, os estágios de longa duração – entre um e dois anos – seguem sendo essenciais na formação de líderes. Para Landim, o momento de apostar em novos estágios é agora: “É preciso aproveitar a reabertura para tentar viajar o mais rápido possível. É o que eu faria se tivesse 20 anos”, aconselha o pesquisador. 

Como atributos necessários para que um jovem cientista se torne um líder, os Acadêmicos concordam que é indispensável realizar um bom trabalho, ter disposição e promover um ambiente agradável entre seus colegas de profissão. Pacelli recomenda que evitem as tarefas de administração e burocracia o quanto puderem, para poderem continuar pensando. “Não há uma fórmula para ser considerado um líder científico, mas a dedicação é um requisito fundamental”, destaca Landim. Na matemática, afirmam que há diferentes caminhos que os pesquisadores podem seguir para se tornarem lideranças, desde a elaboração de teoremas até a formação de novos profissionais. 

Apesar do consenso sobre a sobrecarga da profissão de cientista no Brasil, dado que os profissionais precisam lidar com extensão, pesquisa e projetos no começo da carreira, Pacelli acredita que o caminho de seguir apenas com a pesquisa não seja uma solução. Como exemplo, ele menciona o caso francês, onde o profissional pode escolher entre ser pesquisador-professor ou apenas pesquisador – o que acaba levando-os à improdutividade muito cedo. Segundo ele, a saída é “incorporar projetos mistos, que facilite que o pesquisador tenha ambas as experiências.” 

Entre as ações de destaque, os palestrantes mencionaram o grupo de trabalho em liderança científica da ABC. O GT vêm realizando surveys, propondo intervenções e levantando debates sobre o que é necessário para a capacitação de novas lideranças. Conheça mais sobre o grupo de trabalho aqui.

“Nós somos privilegiados”, afirma Landim. “Somos pagos para fazer o que gostamos de fazer. Temos que ter noção da honra que é ser pesquisador no mundo atual. Não tenho outra mensagem senão consciência de tentar e fazer por merecer.” 


Fique atento no site da ABC para acompanhar as novidades sobre as próximas mentorias!